[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

[2699.] ASSOCIAÇÃO FRATERNIDADE OPERÁRIA || 1872

 * ASSOCIAÇÃO FRATERNIDADE OPERÁRIA *

1872

NOS 150 ANOS DA ASSOCIAÇÃO FRATERNIDADE OPERÁRIA

[Imagem retirada, com a devida vénia, do Almanaque Republicano da autoria de Artur Barracosa Mendonça e José Manuel Martins]

Criada em Janeiro de 1872, englobou numerosas associações de classe, quer em Lisboa, quer no Porto, dinamizando um conjunto relevante de greves naquele mesmo ano e em 1873.

Segue a transcrição possível de um texto retirado do Diário de Notícias de 22 de Setembro de 1872, recolhido há 40 anos quando fazia investigação nesta área e agora reencontrado entre a papelada.

                      «Sociedades de Resistência

A Associação Fraternidade Operária, diz a correspondência do Comércio do Porto, conta cerca de 7000 operários. Estão nela representadas 43 classes, das quais as mais importantes são de:

- tabacos, 960 homens e 680 mulheres;

- serralheiros, 400;

- calafates, 340;

- carpinteiros navais, 300;

- tecelões, 280 homens e 260 mulheres;

- ferreiros, 160;

- fundidores, 120;

- torneiros, 100;

- trabalhadores, 250;

- sapateiros, 200;

- tipógrafos, 150;

- carpinteiros, 120;

- marceneiros, 160;

- encadernadores, 40;

- marinheiros, 90;

- serradores, 50;

- pedreiros, 100;

- canteiros, 180;

- caldeireiros, 90;

- barbeiros, 80;

- costureiras, 40;

- alfaiates, 60.

Cada associação paga 130 reis por mês. As greves são discutidas pelas 43 classes. Há mais as seguintes classes de resistência em Lisboa:

- associação fraternal das classes trabalhadoras, a Santa Clara, diz ainda a correspondência, com mais de 3000 associados;

- Fraternidade Almadense com 300;

- Fraternidade do Seixal com 200;

- Fraternidade, a Santa Isabel, com 180; 

- Fraternidade Agrícola, ao Poço do Bispo, com 200;

- associação protectora do trabalho nacional com 360.»

[Diário de Notícias, 22/09/1872, p. 1, cols. 2-3]

[João Esteves]

[2698.] PAREDE || JANEIRO DE 2022

* PAREDE || 2022 *




[Parede || 27 de Janeiro de 2022]

[2697.] RIBEIRA DE BARCARENA - CAXIAS || 2022

* RIBEIRA DE BARCARENA || 2022 *




[Ribeira de Barcarena || Caxias || 26 de Janeiro de 2022] 

domingo, 23 de janeiro de 2022

sábado, 22 de janeiro de 2022

[2694.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXLV] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXLV *

01045. Manuel Joaquim de Sousa [1928, 1932, 1933]

[Manuel Joaquim de Sousa]

[Paranhos - Porto, 24/11/1883, sapateiro. Residência: Vila Cândida, 27 - Lisboa. A mãe era vendedeira de pão, o pai sapateiro e tiveram três filhos: José, Inácio e Manuel Joaquim de Sousa, o mais novo. Devido às muitas dificuldades económicas, apenas pôde concluir a 2ª classe da instrução primária, começando muito novo a trabalhar: primeiro, como servente de carpinteiro e de alfaiate, depois como manufator de calçado aos doze anos. Orador influente, cedo se revelou como uma das principais figuras do anarquismo, do movimento operário e do sindicalismo nas primeiras décadas do século XX, tendo sido o primeiro Secretário-Geral da Confederação Geral do Trabalho, quando esta se constituiu em 1919, e redator principal do jornal A Batalha. Para além da sua colaboração em periódicos de propaganda anarquista e libertária, interveio, em 1909, no Congresso Nacional Operário e, em 1911, no 2º Congresso Sindicalista, de onde saiu a constituição de duas Uniões Operárias, a de Lisboa e a do Porto, sendo escolhido para secretário-geral da última. Neste mesmo ano, em Novembro, participou em Lisboa no 1º Congresso Anarquista Português, juntamente com Bartolomeu Constantino, Bernardino dos Santos, Neno Vasco e Pinto Quartin, entre outros apresentando as Teses "Organização Anarquista" e "Sindicalismo e Anarquismo". Marcou presença no Congresso Operário de Tomar, realizado em 1914, durante o qual surgiu a União Operária Nacional, foi opositor ativo à Guerra e, entretanto, passou a residir em Lisboa. Sempre com intensa atividade sindical, esteve no II Congresso daquela central, realizado  em Coimbra em 1919, onde a União Operária Nacional deu origem à Confederação Geral do Trabalho, ficando como Secretário-Geral até ao Congresso da Covilhã (1922). Em 1925, representou a Federação do Calçado no Congresso de Santarém. Com o triunfo da Ditadura Militar, foi preso em Fevereiro de 1928, na sequência da explosão de Moncarapacho, em 17 de Fevereiro de 1928, que vitimou Américo Vilar e António Calhabotas, dois anarcossindicalistas idos do Barreiro que se encontravam a preparar as bombas num pardieiro. Preso em 24/08/1932, juntamente com Germinal de Sousa, seu filho, e José Augusto de Castro, no âmbito das atividades desenvolvidas na Aliança Libertária de Lisboa, cuja sede funcionava na Travessa da Água da Flor, 16-1º, e levado, incomunicável, para uma esquadra. Libertado em Dezembro de 1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Encontrava-se preso no último quadrimestre de 1933, tendo sido transferido para o Aljube em 06/10/1933. [Há um Manuel Joaquim de Sousa Júnior que, em 10/11/1933, foi transferido do Aljube do Porto para o Hospital da Ordem Terceira do Carmo] Escreveu a importante obra O Sindicalismo em Portugal, editado em 1931 pela Comissão Escolar e de Propaganda do Sindicato do Pessoal de Câmaras da Marinha Mercante Portuguesa. Faleceu em 27 de Fevereiro de 1944 (ou 1945?), em Lisboa.
[alterado em 22/05/2023]
[alterado em 22/03/2024]
[alterado em 13/04/2024]

[Manuel Joaquim de Sousa || O Sindicalismo em Portugal || 1931]

[Manuel Joaquim de Sousa || O Sindicalismo em Portugal || Porto || Afrontamento || 1972]

[Manuel Joaquim de Sousa || Últimos tempos de acção sindical livre e do anarquismo militante (1925-1938) || Obra póstuma || Edições Antígona || 1989]

[João Esteves]

[2693.] JARDIM DE OEIRAS || 20/01/2022

* JARDIM DE OEIRAS || 2022 *





[Jardim de Oeiras || 20 de Janeiro de 2022]

[2692.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXLIV] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXLIV *

01043. Manuel Nunes Mousaco [1932]

[Covilhã, c. 1892, 1º Cabo reformado da GNR. Filiação: Delfina Rosa, Agostinho Nunes Mousaco. Casado. Residência: Sítio dos Caranguejais - Almada. Preso em 21/04/1932, por estar envolvido em manejos revolucionários com Cândido da Anunciação RibeiroCarlos Sanches, Firmino da Silva, "O Casadinho", José Avelar, Julião Martins, Mário José Paninho e Nestor de Assunção, alguns dos quais se encontram fugidos. Foi-lhe aplicada a pena de 4 meses de prisão por indicação do Diretor Geral da Segurança Pública e concordância do Ministro do Interior; libertado em 21/08/1932 (Processo 366).]

01044. José Simões da Piedade [1927, 1931, 1932, 1937]

[José Simões da Piedade || F. 28/08/1934 || ANTT || RGP/8113 || PT-TT-PIDE-E-010-41-8113]

["O Zé dos Óculos". Santiago - Lisboa, 26/11/1899, Ex-Agente da P.I. C. / empregado do comércio. Filiação: Maria do Sacramento da Piedade. Casado. Residência: rua das Olarias, 60 - Lisboa / Rua da Mãozinha aos Olivais. Preso em 21/12/1927, por envolvimento, com o major Viriato Lobo, no movimento revolucionário de 7 de Fevereiro (Processo 3455); deportado para a Guiné em 04/05/1928, de onde se evadiu em Março de 1929. Enquanto andou fugido, esteve em Lisboa, em casa da família, passou pelas Caldas da Rainha, sendo protegido por Maldonado de Freitas e, por fim, seguiu para Alcobaça, abrigando-se junto do comerciante José Sanches Furtado. Preso em 26/06/1931, "por ter sido o distribuidor de grande quantidade de material explosivo no distrito de Leiria" e manter ligações revolucionárias com Afonso Pires Miguéis, Amadeu dos Santos, capitão Castelo Branco, Custódio Maldonado de Freitas, Emídio Bandeira, ex-capitão capelão João Lopes Soares, Manuel Menúcio, Oliveira e Sousa, sócio das camionetas das carreiras de Leiria, Sebastião Andrade, ex-sargento da Marinha Severo dos Santos e tenente-coronel Utra Machado, aquando da preparação do movimento que deveria ter eclodido em 1 de Maio. Era muito ativo na região de Alcobaça, Caldas da Rainha, Leiria e Torres Vedras. Deportado para Timor em 02/09/1931 e autorizado a regressar em Novembro. Preso em 29/03/1932, "em virtude de ter regressado ao Continente por uma simples informação prestada a Sua Exª o ministro do Interior, a qual deu origem a que fosse suspensa, sem justificação, a pena a que tinha sido condenado, motivo este pelo qual foi novamente detido", foi-lhe fixada residência obrigatória na Ilha Terceira, a fim de completar o cumprimento da pena (Processo 378). Por ter participado numa insubordinação no Aljube, foi transferido para o Forte de Monsanto (ou para a Penitenciária) e, em 20-21/08/1932, baixou ao Hospital Militar Principal para tratamento; libertado em 10/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Preso em 15/09/1937, em Coimbra, acusado de se dedicar à distribuição do Avante! e à organização de células comunistas entre os empregados do comércio de Coimbra (Processo 10/Coimbra, Processo 1250/373087/SPS). Levado para a Penitenciária de Coimbra transferido para o Porto em 07/06/1938 e, em 26/09/1938, para Caxias. Julgado pelo TME em 02/08/1938, foi condenado a 24 meses de prisão; novamente julgado em 05/09/1938, foi-lhe aplicada a pena de quatro anos de prisão, começando a contar só depois de terminada o cumprimento da primeira. Seguiu-se então, a passagem pelas mais diversas prisões: Peniche (17/01/1939, 24/11/1940); Aljube (29/06/1939, 23/10/1939, 08/05/1941); Caxias (11/09/1939, 30/10/1939, 21/05/1940); 1ª Esquadra (18/05/1940). Levado para a enfermaria do Aljube em 08/05/1941, teve alta em 05/07/1941, sendo libertado neste dia.]

[João Esteves]

[2691.] JARDIM DE OEIRAS || 20/01/2022

* JARDIM DE OEIRAS || 2022 *





[Jardim de Oeiras || 20 de Janeiro de 2022]

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

[2690.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXLIII] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXLIII * 

01037. Joaquim Augusto Sim-Sim [1932]

[Viana do Alentejo, c. 1891, fabricante de chocalhos. Filiação: Francisca Rita Penetra, António Maria Sim-Sim. Solteiro. Residência: Rua da Esperança: Alcáçovas. Com ligações ao Partido Democrático, terá pertencido à GNR, combateu Sidónio Pais e esteve preso no Forte da Graça, em Elvas, juntamente com Afonso Costa. Quando libertado, foi trabalhar para Estremoz e Portalegre, por ter dois irmãos aí estabelecidos e que se dedicavam ao fabrico de chocalhos. Emigrou para Espanha, Alconchel, tendo regressado para Estremoz e Évora em 1931 e participado na conspiração do tenente Assis, da GNR, dos sargentos Malarranha e Eglantino Dias e do primo Benjamim da Conceição Sim-Sim que, por isso, foi deportado. Preso e entregue pela PSP de Évora em 20/08/1932 por, em Junho, ser o autor do atentado contra Joaquim da Mota Capitão, tendo ferido, por engano, Amílcar Fernandes, gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino em Évora. Recolheu ao Aljube e entregue, em 14/09/1932, ao Juiz da Comarca de Évora, para ser julgado por crime homicídio voluntário.]

01038. Augusto Alves Leal [1928, 1932]

["O Leal Esquinaleiro". Campelo - Figueiró dos Vinhos, c. 1882, industrial de campainhas. Filiação: Maria Cecília Leal, Francisco Simões Alves Leal. Casado. Residência: Rua de Avis, 19 - Évora. Considerado como sendo da "Esquerda Democrática". Preso em 27/04/1928, "por suspeita de organizar um movimento revolucionário"; libertado em 02/05/1928 (Processo 3672). Terá participado nos acontecimentos de Évora em Dezembro de 1931, tendo, desde então, andado fugido. Preso e entregue pela PSP de Évora em 20/08/1932 por, em Junho, estar envolvido, juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim, no atentado contra Joaquim da Mota Capitão, tendo sido ferido, por engano, Amílcar Fernandes, gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino em Évora. Recolheu ao Aljube e libertado em 10/09/1932 (Processo 496), tendo o seu processo sido enviado à Comarca de Évora em 14/09/1932, para aí ser julgado juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim.]

01039. José Maria Mirador [1932]

[Arraiolos, c. 1879, carpinteiro de carros e serralheiro. Filiação: Ana de Jesus, José Maria Mirador. Viúvo. Considerado anarquista. Preso e entregue pela PSP de Évora em 20/08/1932 por, em Junho, estar envolvido, juntamente com Augusto Alves LealJoaquim Augusto Sim-Sim, no atentado contra Joaquim da Mota Capitão, tendo sido ferido, por engano, Amílcar Fernandes, gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino em Évora. Recolheu ao Aljube e libertado em 10/09/1932 (Processo 496), tendo o seu processo sido enviado à Comarca de Évora em 14/09/1932, para aí ser julgado juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim.] 

01040. Mateus Lopes Ferreira [1932]

["O Galego". Carrazeda de Ansiães, c. 1871, trabalhador. Filiação: Luísa Ferreira, José Lopes. Solteiro. Residência: Rua Pedro Colaço, 15 - Évora. Antigo soldado, trabalhava como criado no escritório de J. O. Fernandes, considerado maçon e reviralhista. Preso e entregue pela PSP de Évora em 20/08/1932 acusado de, em Junho, ter estado envolvido, juntamente com Estêvao Chora e Joaquim Augusto Sim-Sim, no atentado contra Joaquim da Mota Capitão, tendo sido ferido, por engano, Amílcar Fernandes, gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino em Évora. Recolheu ao Aljube e libertado em 10/09/1932 (Processo 496), tendo o seu processo sido enviado à Comarca de Évora em 14/09/1932, para aí ser julgado juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim.]

01041. Joaquim Alves [1932]

["O Barão". Figueiró dos Vinhos, c. 1894, calceteiro. Filiação: Maria da Silva, Joaquim Alves. Solteiro. residência: Rua do Carro, 42-A - Évora. Apontado como tendo grande influência no meio operário da construção civil de Évora, andava desde Dezembro de 1931 fugido, devido a acontecimentos naquela cidade, e teria os seus companheiros presos em Peniche ou deportados em África. Preso e entregue pela PSP de Évora em 20/08/1932 acusado de, em Junho, ter estado envolvido, juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim, no atentado contra Joaquim da Mota Capitão, tendo sido ferido, por engano, Amílcar Fernandes, gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino em Évora. Recolheu ao Aljube e, provavelmente, libertado em 10/09/1932 (Processo 496), tendo o seu processo sido enviado à Comarca de Évora em 14/09/1932, para aí ser julgado juntamente com Joaquim Augusto Sim-Sim.]

01042. Guilhermino Eduardo Vieira de Barros [1931, 1932]

[Guilhermino Eduardo Vieira de Barros || F. 08/06/1932 || || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Fotografia cedida pelo ANTT"]

[Porto, c. 1907, empregado do comércio. Filiação: Júlia Angélica Augusta Vieira, Guilhermino Almeida Barros. Solteiro. Residência: Rua da Assunção, 88 - Lisboa. Preso em 08/01/1931, "por pretender contrariar a ação desta Polícia denunciando a presença dos agentes nas imediações de uma casa onde se encontrava um conspirador, cuja captura tinha sido ordenada"; libertado em 15/01/1931 (Processo 4760). Preso em 19/04/1932, acusado de ser agente de ligação de Custódio Maldonado de Freitas "para fins conspiratórios e revolucionários", recebendo e entregando correspondência de Almeida dos Cimentos, capitão João Lopes Soares e Mário Travassos Mendonça Santos, para além de estabelecer contactos com os ex-tenentes Andrade e Mendonça e assegurar uma reunião onde compareceram João Lopes Soares, Maldonado de Freitas, Sarmento de Beires e capitão Vilhena. Por parecer do Diretor Geral da Segurança Pública,  e concordância do Ministro do Interior, foi condenado a 4 meses de prisão, tendo sido libertado em 20/08/1932 (Processo 395).]

[João Esteves]

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

[2689.] FICARAM PELO CAMINHO: 1926 - 1974 || MUSEU DO ALJUBE

 * FICARAM PELO CAMINHO: 1926 - 1974 *

Edição do Museu do Aljube Resistência e Liberdade

Apresentação pública: 25 de Janeiro de 2022 || 18.00


Contra o esquecimento, a desmemória, a desculpabilização e o silenciamento, procura-se nomear os 175 mortos (168 homens e 7 mulheres) vítimas de 48 anos de Ditadura de cariz fascizante.

Cada um dos nomes e cada rosto representa alguém que não se aquietou, lutou, foi apanhado pelas sucessivas e tenebrosas polícias políticas e, por isso, vítima de violência indiscriminada e de atrozes torturas.

Reviver cada um dos nomes é recuperar a sua memória, homenageá-lo e sentir quão importante foi a sua luta.

Reconhecer a sua coragem e reafirmar que "Não foi em vão!"

[João Esteves]

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

[2688.] PAULO MARQUES DA SILVA || A PIDE - CASOS E PROCESSOS

 * PAULO MARQUES DA SILVA *

A PIDE - CASOS E PROCESSOS

Palimage || Dezembro de 2021 

Após mais de década e meia de pesquisas dedicadas a esta temática, acaba de ser publicado outro relevante livro do Historiador Paulo Marques da Silva sobre a PIDE/DGS, reunindo trinta histórias.

Histórias que são casos concretos, vividos e muito diversos, que procuram, também, mostrar (e demonstrar) a acção da PIDE/DGS: a violação de correspondência; a acção dos informadores; as vigilâncias de rua, de residências e de reuniões; as vigilâncias a professores universitários, entre outros exemplos. 

Fala-se, também, no decorrer das várias crónicas apresentadas, de denúncias, de casos de retaliações do Governo sobre cidadãos nacionais, das mulheres da oposição, do Processo dos 108, das Juntas de Acção Patriótica ou do Movimento Associativo Estudantil, histórias que permitem uma visão geral sobre o modus operandi da PIDE/DGS.

Todas as histórias / textos são baseadas em documentos escritos, constantes nos arquivos da PIDE/DGS, patentes na Torre do Tombo.

Investigação rigorosa, na senda de outras edições de Paulo Marques da Silva, brevemente será feita a apresentação pública do livro.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

[2684.] LUCINDA MARIANA GOMES FRANCO || 01/11/1923 - 10/02/2012

 * LUCINDA MARIANA GOMES FRANCO *

[01/11/1923 - 10/02/2012]


[Coimbra || Início dos anos 1940]

[João Esteves]

[2683.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXLII] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXLII *

01036. Custódio Maldonado de Freitas [1931, 1932, 1947, 1947]

[Custódio Maldonado de Freitas || F. 08/06/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Fotografia cedida pelo ANTT"]

[Atalaia - Vila Nova da Barquinha, 13/07/1886, farmacêutico - Caldas da Rainha. Filiação: Maria da Nazaré Freitas, António Maldonado de Freitas. Casado, em segundas núpcias, com Maria Pereira de Sousa Freitas. Residência: Rua da Liberdade, 12 - Caldas da Rainha. Formou-se em Farmácia, em 1908, e estabeleceu-se nas Caldas da Rainha nos últimos anos da 1ª década do século. Republicano e maçon, iniciado na loja Fraternidade, de Óbidos, desenvolveu intensa atividade política durante a Monarquia e depois da implantação da República. Chegou a estar preso 70 dias durante a Monarquia e alguns dias aquando da Ditadura de Pimenta de Castro (1915). Membro do Partido Republicano, desempenhou várias funções nas Caldas da Rainha: Administrador do Concelho (1911, 1913), Presidente da Câmara Municipal (1919), secretário e presidente da comissão concelhia dos bens da Igreja, Presidente da Comissão Administrativa do Hospital das Caldas (1919). Eleito Deputado pelo Círculo de Alcobaça em 1919, nas listas do Partido Democrático, e em 1922, nas do Partido Republicano da Reconstituição Nacional (vulgo Partido Reconstituinte). Fundador, no ano seguinte, do Partido Republicano Nacionalista, onde se manteve até 1935, não foi eleito pelo Círculo de Alcobaça nas eleições de 08/11/1925. Embora tenha tido uma posição ambígua em relação ao movimento que esteve na origem do 28/05/1926, tal como outros dirigentes do Partido Republicano Nacionalista, cedo passou a combater a Ditadura Militar, sendo um dos nomes referenciados no atentado ocorrido em 13/01/1931 contra a linha férrea e telegráfica em Pataias. Preso em Abril de 1931, por estar envolvido, com Utra Machado, num movimento revolucionário a desencadear durante a Revolta das Ilhas; conseguiu fugir em 19/04/1931, andando escondido durante mais de um ano. Preso em Abril de 1932, foi-lhe fixada residência obrigatória em Castro Daire, para onde seguiu em 18 ou 19/08/1932. Estava, então, preso na Penitenciária de Lisboa, juntamente com Carlos Luís Correia Matoso, tendo este seguido para Peniche. Deixou de estar sob residência fixada em 09/12/1932, devido à amnistia de 5 de dezembro. Em 1933, estando João Lopes Soares deportado nos Açores, acolheu o filho, Mário Soares, na sua casa. João Lopes Soares e Custódio Maldonado de Freitas eram muito amigos e correligionários, sendo em casa daquele que o farmacêutico se escondeu quando andava fugido.

[Custódio Maldonado de Freitas || F. 21/03/1947 || ANTT || RGP/17281 || PT-TT-PIDE-E-010-87-17281]

Preso em 21/03/1947, "para averiguações", e levado para o Aljube; libertado em 01/07/1947 (Processo 231/47). Preso em 17/12/1947, por ordem do Ministério da Guerra, levado para o Aljube e libertado em 24/04/1948 (Processo 737/47). Participou, em 1949, na campanha presidencial de Norton de Matos, continuando a sua farmácia a ser um local de encontro de oposicionistas e, por isso, vigiada. Colaborou e dirigiu o periódico “Direito do Povo” (1910-1911) e fundou "O Defensor" (1913-1922, 1923, 1924-1925) e “O Regionalista” (1920-1925), tendo assinado textos na imprensa como Galeno, nome simbólico adotado na Maçonaria. Faleceu em 15/04/1964, com 78 anos, nas Caldas da Rainha, cidade onde residia desde há quase seis décadas. Teve cinco filhos do casamento com Maria Pereira de Sousa Freitas, alguns deles com relevante atividade política oposicionista: António Maldonado de Freitas (1910-1975), Artur Maldonado de Freitas (1912-2000), João Maldonado de Freitas, Custódio Pereira Maldonado de Freitas (28/03/1917-06/10/1994), médico, e Maria Antónia Maldonado de Freitas.]
[alterado em 04/04/2023]

[João Esteves]

[2682.] MARIANA || 10/01/1995

 * MARIANA *

[2681.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXLI] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXLI *

01035. Carlos Luís Correia Matoso [1931, 1932, 1932, 1938

[Carlos Luís Correia Matoso || F. 12/09/1931 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Fotografia cedida pelo ANTT"]

[Vila do Bispo, 15/07/1908, estudante - Lisboa. Filiação: Elisa Correia Dias Matoso, José Matoso. Solteiro. Residência: Rua Francisco Tomás da Costa, 49 / Rua Passos Manuel, 101 - Lisboa.


[Elisa Matoso e José Matoso || Fotografias enviadas por Rodney de Castro Rodrigues, casado com a neta de Carlos Matoso, em 14 de julho de 2018]

Carlos Matoso foi um relevante militante do Partido Comunista na década de 30, tendo sido deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal em 1939, onde foi vítima de inenarrável violência e assistiu ao falecimento do seu camarada Bento GonçalvesRegressou em 10/01/1946, “acabrunhado, tristonho, perdida a sua magnífica exuberância antiga" [Armindo Rodrigues], e exilou-se no Brasil, onde constituiu família e se suicidou em 03/03/1959. 

[Carlos Matoso aos 4 e 7 anos de idade || Fotografias da Família, cedidas por Rodney de Castro Rodrigues]

Estudante de Agronomia, aderiu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, onde foi um importante quadro, juntamente com Carolina Loff da Fonseca, Edmundo Pedro, Francisco Paula de Oliveira (Pável), Fernando Quirino, Francisco Ferreira, Gilberto Florindo de Oliveira, Grácio Ribeiro, Manuel Rodrigues de Oliveira, Pedro Baptista da Rocha e Victor Hugo Velez GriloDesempenhou, durante a década de 1930, actividade muito relevante no seio do Partido Comunista Português, tendo trabalhado, entre outros, com Bento Gonçalves, seu Secretário-Geral. Preso em 1931, pois há uma fotografia no Livro de Cadastrados com a data de 12/09/1931. No ano seguinte, fez parte do grupo que preparava ações no 1.º de Maio, com recurso a engenhos explosivos.

[Carlos Matoso || Agosto de 1932 || Fotografia da Família cedida por Rodney de Castro Rodrigues]

Terá sido preso em 24/04/1932, quando experimentavam bombas na Serra de Monsanto, juntamente com Abel Augusto Gomes de Abreu (gráfico da Casa da Moeda), António Franco Trindade, Álvaro Augusto Ferreira, Eduardo Valente Neto (marítimo), João Lopes Dinis (canteiro, faleceu no Tarrafal em 12/12/1941), Manuel Francisco da Silva (pedreiro) e Silvino Fernandes Costa (ajudante de farmácia). Foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, para onde seguiu da Penitenciária de Lisboa em 18 ou 19/08/1932, e de onde terá fugido. Preso em 09/12/1932, recolheu, incomunicável, a uma esquadra; libertado em 17/12/1932. Em 1933 ou 1934, nasceu-lhe a filha Helena, fruto da sua relação com Carolina Loff. Esta e a filha recém-nascida partiram para a União Soviética, onde chegaram em Abril de 1935, tendo Helena sido recolhida na escola internacional de Ivanovo. Julgado à revelia pelo Tribunal Militar Especial em 20/10/1934, foi condenado a dez anos de prisão no degredo e multa de vinte mil escudos, ficando, depois, à disposição do Governo. Depois de andar anos na clandestinidade e procurado, foi preso pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) em 11/05/1938, aquando do assalto noturno a uma tipografia clandestina, no Rego (Processo 562/938, enviado ao TME em 01/09/1938). Levado para uma esquadra, incomunicável, entrou no Aljube em 3 de Agosto, foi transferido, no dia 10, para uma esquadra, regressou ao Aljube em 23 e enviado para Caxias em 26 do mesmo mês. Transferido para a 1ª Esquadra em 27/09/1938, seguiu, dois dias depois, para o Reduto Norte de Caxias e enviado para Peniche em 1 de Novembro. Voltou ao Aljube em 22/03/1939. A mãe procurou, sempre que possível, visitá-lo, o que se tornava muito difícil com a mudança constante de prisão. Julgado pelo Tribunal Militar Especial em 10/05/1939, viu a pena de 20/10/1934 ser agravada para doze anos e perda dos direitos políticos por cinco anos. Integrou, em 20/06/1939, a 6.ª leva de presos políticos enviada para o Campo de Concentração do Tarrafal, juntamente com Alberto Araújo e Augusto Valdez, de onde só foi libertado em 20/12/1945. No Tarrafal, foi, como muitos outros presos, vítima de inenarrável violência, tendo assistido ao falecimento de Bento Gonçalves, que há muito conhecia e com quem militara no Partido Comunista: “Carlos Matoso ao notar aquela imobilidade, aquela qualquer coisa que logo nos fazia distinguir a vida da morte; pegou num pequeno espelho e aproximou-o à boca de Bento Gonçalves. Já não havia sopro de vida, e Carlos Matoso não pode conter toda a sua mágoa e toda a sua revolta. // - Assassinos! // O capitão Olegário fitou-o demoradamente e não tardou que o chamasse à secretaria para o esbofetear” (Tarrafal – Testemunhos, 1978). No Campo de Concentração, integrou o núcleo dirigente Organização Comunista Prisional do Tarrafal, juntamente com outros membros do Comité Central, alguns dos quais haviam pertencido ao seu Secretariado, como Alberto Araújo, Francisco Miguel, Júlio Fogaça, Manuel Alpedrinha, Miguel Wager Russell e Militão RibeiroRegressou em 10 de Janeiro de 1946: “Vinha acabrunhado, tristonho, perdida a sua magnífica exuberância antiga”. No livro Um poeta recorda-se – Memórias de uma vida, o médico e poeta Armindo Rodrigues, amigo de convívio diário de Carlos Matoso durante a década de 30, tece-lhe os maiores elogios políticos, partidários e humanos: Do Carlos Matoso nunca me adveio o menor perigo. Pelo contrário, quando o prenderam pela última vez, no assalto nocturno a uma tipografia clandestina, no Rego […] não disse uma palavra que pudesse comprometer-me” [p. 16]; “[…] homem honrado e inflexível” [p. 150]; Dos regressados da deportação, um era o meu amigo Carlos Matoso, a quem devo a mudez leal que a meu respeito manteve. Vinha acabrunhado, tristonho, perdida a sua magnífica exuberância antiga. E a breve trecho, por diligência do irmão rico, oficial da Aviação Marítima e genro único do banqueiro Soto Maior, emigraria para o Brasil” (pp. 223-224).


[Carlos Luís Correia Matoso || 1946 || Documento referente à emigração, em 1946, para o Brasil, enviado pelo Historiador Brasileiro Paulo Valadares]

Exilado, desembarcou no Rio de Janeiro em 14/05/1946, passando a trabalhar como caixeiro viajante, comercializando produtos da empresa do irmão, o Comandante José Francisco, casado com a única herdeira do banco Pinto Souto Maior, por todo o Brasil.

[Carteira de trabalho do comércio do Rio de Janeiro || 1954 || Cedidas por Rodney de Castro Rodrigues]

Reconstruiu a sua vida e formou família: casou com Raimunda Mirtes Soares, que conhecera quando trabalhava em Fortaleza, e do enlace nasceu Maria Tereza Soares Matoso Sampaio

[Carlos Luís Correia Matoso e Raimunda Mirtes || Maio de 1949 || Fotografia da Família, cedida por Rodney de Castro Rodrigues]

Residiu, ainda, em Salvador da Baía e em São Paulo, antes de se fixar no Rio de Janeiro, trabalhando sempre para o irmão. Apesar das diligências feitas, nunca reencontrou a filha Helena e as duas irmãs, talvez com cerca de quinze anos de diferença, também nunca se viram. 

[Carlos MatosoRaimunda Mirtes e a filha Maria Tereza || Fotografia cedida por Rodney de Castro Rodrigues]

Visitou Portugal com a mulher e a filha, tendo sido, temporariamente, detido quando desembarcou.

[Carlos Matoso || Fotografia do Passaporte] 

[Momento em que foi festejada sua chegada a Portugal ao lado de sua mãe e esposa, horas após ser solto de uma prisão logo que desembarcou || Fotografias cedidas por Rodney de Castro Rodrigues]

No dia 3 de março de 1959, quando a filha tinha apenas sete anos, Carlos Matoso saiu de casa para um dia comum de trabalho, acabando por suicidar-se no Hotel Quitandinha, em Petrópolis e em cujo cemitério foi enterrado. 

[Maria Tereza ao lado de sua mãe Raimunda Mirtes em visita ao túmulo de seu pai, em Petrópolis || Fotografia cedida por Rodney de Castro Rodrigues]

Nota: As informações referentes à vida de Carlos Matoso no Brasil devem-se a Maria Tereza Matoso Sampaio, sua filha, à neta Rafaela Matoso e a Rodney de Castro Rodrigues, marido de Rafaela, a quem se agradece a confiança de poder disponibilizar esta documentação.]
[alterado em 07/04/1932]

[João Esteves]