* REPRESENTAÇÃO DAS PROFESSORAS DA LRMP AO MINISTRO DO INTERIOR || 05/05/1911 *
"Excelentíssimo Senhor.A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas», reunida em assembleia geral, resolveu dirigir-se a V. Ex.ª para juntar a sua à voz de todos os professores de ensino livre, que apresentaram a V. Ex.ª as suas justíssimas e ponderadas reclamações.A Liga foi obra vossa – pode dizer-se que é vossa filha, e filha que soube inspirar-se no vosso exemplo revolucionário, colaborando convosco na arriscada empresa de agitar as turbas, quando sobre nós assentava, como uma condenação, a garra ferina da monarquia.Entre as sócias da Liga, há muitas senhoras que exercem o ensino livre e às quais a nova reforma da instrução primária veio prejudicar; muitas que, se a monarquia tivesse triunfado, teriam ficado condenadas a morrer de fome, porque eram professoras dos centros republicanos, a quem a vingança do regímen não pouparia; e essas mesmas, Ex.mo Senhor, são aquelas que hoje vêem o seu futuro em jogo, pela reforma do ensino primário, que, dentro em pouco, as terá reduzido à miséria.A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas», Ex.mo Senhor, não podia deixar de solidarizar-se com as suas irmãs, e fazer suas as reclamações do professorado particular. São centenas de mulheres por esse país fora, que ficam reduzidas a não poder ganhar um pedaço de pão.Os centros não podem sustentar-se, e as escolas particulares, mantidas a muito custo, não conseguirão corresponder às exigências perfeitamente justificáveis da reforma, mas incompatíveis com os minguados recursos de que dispõem os professores de ensino livre.A situação é horrorosa, Ex.mo Senhor! A reforma tornou negro e ameaçador o futuro já muito problemático do professorado particular.Se V. Ex.ª se informar com pessoas que possam dizer-lhe a verdade e que se interessem pelo assunto, - V. Ex.ª, que decerto desconhece o que é a situação angustiosa do professor de ensino livre, - por isso que tem vivido num meio muito diferente, e porque os seus colaboradores na lei da reforma pertencem ao mundo do professorado oficial, onde os gemidos dos outros professores não chegam, se V. Ex.ª descer do alto da sua situação ao raso destes esquecidos obreiros, que ensinaram o povo a soletrar a palavra República, porque não foi nas escolas oficiais, como V. Ex.ª sabe, que se podia fazer a propaganda do nosso Ideal, - V. Ex.ª achará que as suas reclamações são de todo o ponto justas e dignas de ser atendidas.Os professores de ensino livre pedem apenas Justiça. A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas» dá-lhes o seu incondicional apoio, como instituição de carácter oficialmente político, e que tem por principal objectivo o triunfo da Igualdade e da Confraternização Social.Lisboa, 5 de maio, de 1911Ao Ilustre Ministro do Interior, Sr. Dr. António José d’Almeida.Saúde e Fraternidade"
[“Expediente da Liga”, A Mulher e a Criança || n.º 23 || Abril de 1911]
[João Esteves]
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