[1866 - 1916]
Professora, escritora, proprietária, propagandista e defensora dos direitos das mulheres.
Natural de Angra do Heroísmo, era irmã de Maria Augusta Castilho Dias, tia do tenente Castilho Dias e viúva do professor de música João de Castilho.
Quando passou a residir em Lisboa, na Calçada do Poço dos Mouros, e sobretudo após a implantação da República, revelou-se acérrima defensora e propagandista do Livre-Pensamento, pertenceu à Associação do Registo Civil, foi uma prestigiada apologista da causa feminista e aderiu às suas organizações.
Militou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.
Colaborou com a Obra Maternal, instituição destinada à protecção das crianças da rua abandonadas, sendo sua presidente em 1914 e 1915.
Participou no Grupo das Treze, agrupamento criado com a finalidade de combater a ignorância e todas as formas de superstição que afectavam a mulher portuguesa.
Interveio na Associação de Propaganda Feminista [e aqui].
Constituiu, juntamente com Ana de Castro Osório, Antónia Bermudes e Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho, a Comissão Feminina "Pela Pátria", fundada com o objectivo de recolher donativos e agasalhos para os soldados portugueses, no caso de intervirem na guerra.
Participou, juntamente com Maria Veleda, em campanhas de propaganda republicana e em defesa da intervenção de Portugal na 1ª Guerra, ao lado dos Aliados.
Integrou a Cruzada das Mulheres Portuguesas.
A actividade mais notória desenvolveu-se no âmbito da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, sobretudo no seu período áureo, onde presidiu a reuniões; contribuiu com donativos para subscrições; representou a agremiação em acontecimentos públicos e reuniões políticas; interveio enquanto oradora; e desempenhou cargos directivos entre 1912 e 1916, como os de Vice-Presidente da Direcção [1912] e Tesoureira [1913, 1914]. Em 1916, integrou a Mesa da Assembleia Geral.
Intransigente defensora da República, fez parte da equipa de enfermeiras organizada pela Liga em Julho de 1912 e discursou no comício de Chaves, aquando da comemoração da vitória sobre as tropas monárquicas de Paiva Couceiro.
Para além de contactos regulares com os responsáveis políticos republicanos, associou-se à homenagem às feministas açoreanas Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa [15/8/1912]; participou na delegação da Liga, convidada pela Comissão Administrativa dos Bens das Extintas Congregações, para uma reunião no Ministério da Justiça [1912]; foi indigitada para o Conselho Nacional que deveria participar, em nome das portuguesas, no Congresso Internacional de 1913 e para representar a Liga no XVII Congresso Internacional do Livre Pensamento; colaborou, em 1913, na campanha a favor da aprovação, pelo Parlamento, da anulação do direito de fiança aos violadores de menores; e esteve envolvida, enquanto fundadora e docente, no projecto de criação da escola Solidariedade Feminina [1914], cuja finalidade era ministrar aulas diurnas e nocturnas ao sexo feminino e criar um curso nocturno gratuito de instrução primária destinado a todas as mulheres e raparigas com mais de doze anos. Por falta de número suficiente de inscrições, apesar de intensa propaganda, acabou por não ser implementada.
A dedicação à Obra Maternal não foi menos intensa entre 1912 e 1915, empenhando-se quer nos Corpos Gerentes, onde foi a Presidente nos dois últimos anos, quer nas iniciativas desenvolvidas para sustentar o projecto, organizando e representando nos saraus anuais em seu benefício [26/5/1912; 22/6/1913]. Angariou adesões e deveu-se às suas persistentes diligências o facto da Obra não ter sido dissolvida em finais de 1914.
A militância estendeu-se à Associação de Propaganda Feminista: eleita 2.ª Secretária da Assembleia Geral (1916), desempenhou ainda o cargo de Tesoureira da Empresa de Propaganda Feminista e defesa dos direitos da mulher, responsável pela edição do jornal A Semeadora.
Iniciada na Maçonaria, tal como muitas outras activistas, pertenceu à Loja Carolina Ângelo do Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome simbólico de Brites de Almeida.
Colaborou em A Madrugada, com artigos de intervenção política e educativa.
Integrou a redacção do jornal A Semeadora, assinando textos nos primeiros dois números, e foi uma das accionistas da Empresa de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher, responsável pela edição daquele mensário, desempenhando o cargo de Tesoureira da sua comissão dirigente e administrativa.
Publicou, na Casa Editora Para as Crianças, o livrinho A Mulatinha.
Considerada pelas companheiras como uma das mais prestigiadas defensoras dos direitos das mulheres, participou e discursou em múltiplas actividades relacionadas com a causa que tinha abraçado, acreditando na libertação feminina através do trabalho e da independência económica da mulher.
Faleceu em Dezembro de 1916, em Lisboa, tendo várias agremiações estado representadas: LRMP, através de Angélica Porto; APF; Grémios Fiat Lux, Madrugada, José Estevão, Montanha, Luz e Verdade, Marquês de Pombal e Carolina Ângelo; Grupo Obreiro da República; Comissão Paroquial Republicana de Arroios; Cruz Vermelha Portuguesa e Brasileira.
Discursaram, junto da campa, Ana de Castro Osório, Antónia Bermudes e Borges Grainha.
O n.º 18 do jornal A Semeadora foi, parcialmente, consagrado ao seu falecimento; a Capital, de Lisboa, publicou um artigo evocativo da sua obra pela emancipação feminina, transcrito posteriormente pelo órgão da APF; A Folha, de Ponta Delgada, de que era directora Alice Moderno e secretária Maria Evelina de Sousa, dedicou-lhe a primeira página do n.º 670; e a revista Redencion, de Valência (Espanha), referiu-se ao desaparecimento de Ana Castilho, o qual também foi lamentado por Ana Carbia Bernal.
O desaparecimento, bem como o seu exemplo, tiveram, inclusivamente, repercussões na imprensa feminina espanhola.
Quer o Dicionário de Educadores Portugueses, dirigido por António Nóvoa [Porto, ASA, 2003], quer o Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX) [Lisboa, Livros Horizonte, 2005], inseriram pioneiros textos biográficos.
[João Esteves]
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