* CAPITÃO DE ARTILHARIA E AVIADOR ANTÓNIO CORREIA || PRESO NA TRAFARIA, ALJUBE, CAXIAS, PENICHE E DEPORTADO PARA O TARRAFAL *
[1895 - 1961]
[Desenho da autoria do Tarrafalista Athayde e Mello (1940-1945), gentilmente disponibilizado pela Neta de António Correia]
Capitão de Artilharia e Aviador.
Filho de Maria Lucinda Lemos e de Henrique Martins Correia, António Correia nasceu em 21 de Julho de 1895 em S. Pedro de France, perto de Viseu, e faleceu na Quinta das Mestras, Vila da Feira, em 1961, vítima de uma hemorragia cerebral.
Casado com Florinda Cerqueira de Mesquita [n. 28/04/1886], teve duas filhas. A mais nova, Maria Amélia Cerqueira Martins Correia, casou com o advogado e antifascista Fernando Mouga.
[António Correia || RGP/14176]
Ainda estudante do liceu, alistou-se "como voluntário na unidade de artilharia de Viseu" [Fernando Mouga, Janela da Memória, p. 271], "fez a guerra em França" e obteve, em Inglaterra, "o diploma de piloto-aviador de combate que dele fez um dos pioneiros da aviação militar portuguesa". Um acidente de aviação em Torres Novas, quando voava com Ribeiro da Fonseca, fizeram-no regressar à Arma de Artilharia, sendo "o capitão mais novo, ao tempo, do Exército português e na Arma permaneceu até que, já na situação de reserva, o ministro, fascista, da Guerra - Fernando dos Santos Costa - o demitiu".
Embora tenha cursado Direito em Coimbra, "ficando-se pela frequência do primeiro ano", seguiu a carreira militar.
Radicado em Viseu, depois de "desligado da aviação e de servir na Artilharia, em Amarante", este "republicano de consequente acção democrática" fomentou a "criação de uma Universidade Livre", onde também leccionou, e fundou o jornal local República, que dirigia e onde escrevia. Conviveu, entretanto, com os seareiros Raul Proença e Câmara Reys e Almeida Moreira, fundador do Museu Grão Vasco.
Durante a Guerra de 1939-1945, o capitão António Correia foi preso e conheceu, durante quase quatro anos, as principais prisões fascistas, em virtude de uma carta enviada ao embaixador de Inglaterra em Portugal onde "se afirmava o apoio dos republicanos de Viseu à causa dos Aliados e se censurava a posição de Salazar".
[António Correia || RGP/14176]
Por denúncia, a polícia política teve conhecimento da missiva e António Correia foi preso a 11 de Janeiro de 1942, enviado para o Aljube e, como era militar, seguiu para a Casa de Reclusão da Trafaria a 19 do mesmo mês. Demitido do Exército por despacho de Santos Costa, foi transferido, a 8 de Julho do mesmo ano, para o Aljube, por si considerado muito pior do que o inferno em missiva ao capitão Arruda, detido na Trafaria. Dali passou para Caxias (28 de Julho) e, a 5 de Agosto, embarcou para o Tarrafal, onde permaneceu até 27 de Janeiro de 1944.
De regresso ao continente, voltou a Caxias a 2 de Fevereiro e foi transferido para Peniche a 23 de Maio, prisão onde permaneceu até ser restituído à liberdade a 1 de Novembro de 1945. Poucos dias depois, foi um dos oradores do imponente comício realizado no Teatro Avenida: "pela primeira vez depois do advento do fascismo salazarista era possível à oposição democrática de Viseu manifestar-se maciçamente num acto público".
Libertado, "tratou de viver com honra na situação a que fora reduzido de homem sem haveres nem rendimentos que lhe permitissem subsistir: trabalhou no comércio em Lisboa e Viseu como empregado, na Seara Nova com Câmara Reys ao lado de Manuel Ricardo; fixado por fim, nos arredores de Vila da Feira em casa de Maria Isabel, sua filha mais velha, leccionou num colégio da vila com o simples nome de António Correia até que a pide o localizou e impôs ao director que o despedisse".
[António Correia || RGP/14176]
Publicou dois livros, Poucos Conhecem os Açores, com prefácio de Câmara Reys (1942) e Palavras Sem Eco (1960), tendo esta recolha de escritos de opinião sido apreendido pela PIDE.
Na sequência do 25 de Abril, foi restituído, postumamente, no posto e na Arma de onde tinha sido demitido. A nova gestão da Câmara Municipal de Viseu atribuiu o nome de António Correia a uma rua, "embora secundária, da cidade". Por pouco tempo, pois a vereação eleita tratou de riscar aquele nome da toponímia.
O advogado, escritor e investigador José António Barreiros, no seu blogue O Mundo das Sombras, dedica-lhe um post com uma fotografia lindíssima de António Correia.
NOTA: Este Blogue agradece a Fernanda Mouga, Neta de António Correia, a disponibilização do desenho do seu Avô da autoria de António Faria e Atayde e Melo [n. 02/11/1914].
[João Esteves]
1 comentário:
António Correia,que Dignidade Homem! São estas referências, que nos ajudam a continuar a acreditar, hoje e sempre, que a sociedade pode ser transformada. Não interessa o tempo que leva a lá chegar, educando os homens para o respeito recíproco, sabendo à partida que há muitos, que já atingiram essa meta e objetivo à muito, ou seja são por inerência sociológica, as grandes Referências sociais e Humanas, rumo a uma sociedade sem exploradores e explorados.
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