[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 28 de fevereiro de 2021

[2515.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [LXXXI] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXXI *

0656. António da Costa [1931]

[Lisboa, 1904 (?), servente do Arsenal da Marinha. Filiação: Elisa Lourenço da Costa e Joaquim Pedro da Costa. Entregue pela PSP em 26/02/1931, por ter dado, na via pública, "vivas subversivos e por possuir manifestos clandestinos". Libertado no mesmo dia.]

00657. António da Cruz Albarraque [1928, 1933]

[Lisboa, c. 1882. Empregado na Câmara Municipal de Lisboa. Filiação: Maria da Conceição Albarraque, João Francisco da Cruz. Casado. Residência: Rua do Sol ao Rato, 88 - Lisboa. Preso em 24/07/1928, «por fazer a apologia do movimento revolucionário de 20 de Julho»; libertado em 06/08/1928 [Processo 3896]. Preso em 31/05/1933, «por estar envolvido em manejos revolucionários», colaborando com António Marques no transporte de material explosivo de Alpiarça para Sacavém [Processo 746]. Transferido de cárcere em 11/10/1933. Libertado em 02/03/1934, por ter sido despronunciado pelo TME.]

[alterado em 23/03/2024]

0658. António da Cruz Cristina [1932, 1933, 1935] 

[António da Cruz Cristina || ANTT || RGP/1278 || PT-TT-PIDE-E-010-7-1278]

[Lisboa, 26/12/1910, furriel do Regimento de Telegrafistas. Filiação: Maria Rita da Cruz Cristina e Mário da Graça Cristina. Preso em 06/01/1932, por estar implicado no movimento revolucionário em preparação e ser quem desenvolvia maior actividade dentro do Regimento de Telegrafistas. Além disso, mantinha contactos com, entre outros: ex-tenente Andrade (Alberto Maria de Andrade); capitão Câmara; José Batista Machado Júnior (2.º sargento); José dos Santos Coração; José Maria Videira (1.º sargento reformado); Manuel Sanches Dias (empregado bancário); e Pedro Gamaliel Alves (furriel do Regimento de Telegrafistas). Entregue, em 14/01/1932, ao Governo Militar de Lisboa, foi punido com 30 dias de prisão disciplinar agravada. Tendo reclamada, a punição passou para nove dias de prisão, tendo, mais tarde, sido amnistiado. Preso em Novembro de 1933, entregue à PVDE pelo Comandante do Regimento de Telegrafistas, por suspeita de actividades conspirativas, e deportado para Angra do Heroísmo, tendo embarcado em Peniche em 19/11/1933. Nos Açores, foi ouvido em auto em  15/03/1934 (Processo 825-A). Preso em 21 ou 22/06/1935, quando seria empregado no comércio, por estar activamente envolvido na Organização Revolucionária de Sargentos, em estreita colaboração com Francisco Horta Catarino (furriel), Trajano Ambrósio da Silva (sargento-ajudante) e Vilela (sargento-ajudante). Levado para uma esquadra, foi transferido para o Aljube em 24/07/1935. a partir daí, percorreu vários estabelecimentos prisionais: enfermaria do Limoeiro (03/08/1935, 28/10/1935); Aljube (18/09/1935, 09/11/1935, 06/05/1936); recusou-se ir para a enfermaria da Cadeia de Monsanto; e Peniche (29/11/1935).

[António da Cruz Cristino || 1936 || Preso em Peniche || Pormenor de fotografia, in Francisco Horta Catarino, Falando do Reviralho]

[in Francisco Horta Catarino || Falando do Reviralho || Ed. do Autor || 1978]

Julgado pelo TME em 30/05/1936, foi condenado na pena de quatro anos de desterro a cumprir no Tarrafal (Processo 183/935, do TME). Recorreu e, em julgamento de 11/07/1936, a pena foi alterada para 24 meses de prisão correccional (Processo 183/935, do TME), embarcando, em 17 ou 18/10/1936, para Angra do Heroísmo, a fim de dar entrada na Fortaleza de S. João Batista. Terminou a pena imposta pelo TME em 16/06/1937, mas continuou em prisão preventiva, só sendo libertado em 08/08/1938. António da Cruz Cristina foi o principal elemento de ligação de Francisco Horta Catarino, com residência fixada em Peniche, na estruturação da ORS, mantendo, nesse âmbito, sucessivos contactos e reuniões com Abel de Azevedo Cabral (sargento-ajudante), António Carlos Silva, António Fialho, António Folgado (ex-sargento da Aeronáutica), Ascensão (ex-tenente), Brás (sargento-ajudante), Eleutério Mendonça (sargento), Francisco Rosa Ventura (coronel), Graça (sargento-ajudante), Isidro Pina (2.º sargento do B. C. 2), Joaquim Fernandes (2.º sargento), Joaquim Peres de Carvalho (2.º sargento), José Casimiro Brazão Gambôa (1.º sargento da Aeronáutica, demitido por motivos políticos), Manuel José de Faria (sargento-ajudante da Armada), Matias (tenente), Otelo Rodrigues (sargento), Pereira (sargento-ajudante), Queirós, Raúl da Encarnação Garcia (furriel do Regimento de Artilharia 3), Sebastião Lino (sargento) e Silvestre (2.º sargento) (Processo 1647). Segundo o seu Processo Político, "apesar de novo e um tanto acriançado, possui o vírus revolucionário e desenvolveu uma formidável actividade". O seu processo político foi requisitado pela Junta de Salvação Nacional após o 25 de Abril de 1974.]

[João Esteves]

sábado, 27 de fevereiro de 2021

[2514.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [LXXX] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXX *

0650. António da Costa Lança [1933]

[Beja, 22/09/1879, tenente Chefe da Banda de Música - Infantaria 21. Filiação: Carolina dos Prazeres e Hipólito de Lança Araújo. Vigiado pela Polícia Internacional do Ministério do Interior desde, pelo menos, 03/10/1929, sendo considerado, na Guarda, "o elemento de maior preponderância revolucionária em Infantaria 21". Em relatório de 21/05/1930, era apontado como tendo reunido, na Covilhã, com o oficial da Marinha Jaime de Morais. Informação de 13/11/1930, proveniente da Covilhã, considerava que António da Costa Lança e o tenente Virgílio Rodrigues de Almeida Paiva eram os únicos oficiais do Regimento de Infantaria 21 desafectos à Situação. Em 10/11/1933, encontrava-se detido no Presídio Militar de Santarém.]

0651. António da Costa Lemos Júnior [1927, 1936, 1937]

[António da Costa Lemos Júnior || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904 || || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Lisboa, 08/03/1900, tipógrafo. Filiação: Elisa da Costa e António da Costa Lemos. Preso, no jornal A Batalha, em 06/02/1927, "sendo libertado pelos revoltosos" (Processo 2954). Preso pela SPS da PVDE em 08/07/1936, "por fazer parte do Sindicato clandestino comunista da classe tipográfica", para onde entrou a convite de Luís António Ferreira e de quem recebia os jornais Avante!, O Proletário e O Gráfico (Processo 2224). Levado para uma esquadra, foi transferido para a 1.ª esquadra em 30/07/1936 e, em 27/08/1936, seguiu para o Aljube. Por motivos de saúde, saiu em liberdade condicional em 07/09/1936. Preso pela SPS em 08/05/1937, à ordem do TME: recolheu à 1.ª esquadra, seguiu para Caxias em 10/06/1937 e voltou à 1.ª esquadra em 23/06/1937, por ir a julgamento nesse dia. Condenado na pena de 2000$00 de multa, como não a pagou, regressou a Caxias em 26/06/1937, só sendo libertado em 13/10/1937.]

[António da Costa Lemos Júnior || ANTT || RGP/3377 || PT-TT-PIDE-E-010-17-3377]

0652. António da Costa Lima [1930, 1931]

[Lisboa, major reformado. Integrou, enquanto capitão de Infantaria, o Corpo Expedicionário Português, tendo embarcado em 08/08/1918 e desembarcado, em Lisboa, em 04/04/1919. Esteve deportado em África, de onde terá regressado em 1930. Como voltou às actividades conspirativas, nomeadamente com o tenente Daniel da Assunção e sargento-cadete Leone, a Polícia Internacional propôs, em 17/07/1930, que lhe fosse fixada residência fora do Continente. Em Agosto de 1930, foi-lhe fixada residência nos Açores. Por ter participado na Revolta das Ilhas, de Abril de 1931, foi deportado para Cabo Verde, onde faleceu em 21/06/1932.]

0653. António da Costa Macedo [1927]

[2.º sargento. Preso por ter participado na Revolta de 03/02/1927. Colocado, posteriormente, no Regimento de Infantaria 20 e, como continuasse a manter contactos suspeitos, passou para o Distrito de Reserva e Recrutamento [D.R.R.] 14, em Viseu. Faleceu em 05/01/1940.]

0654. António da Costa [1927, 1932]

[Fafe, c. 1904, ex-1.º sargento músico 699/1920, do Batalhão de Caçadores 9. Filiação: Maria da Costa. Casado. Residência: R. General Taborda, 24 - Lisboa. Participou na Revolta de 03/02/1927, foi preso e deportado para os Açores e, depois, para Cabo Verde, "onde permaneceu cerca de vinte e oito meses". Julgado pelo TME do Porto em 28/01/1930, foi absolvido e libertado (v. Processo 427). Preso em 20/06/1932, por denúncia de andar fugido à polícia por motivos políticos, foi libertado em 27/06/1932.]
[alterado em 17/12/2021]

00655. António da Costa [1933

[António da Costa || ANTT || RGP/39 || PT-TT-PIDE-E-010-1-39]

[Santa Marta de Penaguião, c. 1884, funcionário público. Filiação: Ermelinda Rosa, José da Costa. Viúvo. Residência: Rua Ivens, 35 - Lisboa. Preso em 18/05/1933, por envolvimento na organização revolucionária sob a direção de Sarmento de Beires e manter ligações com António Marques, "O Marques da Ajuda", António Maria Marmelo da Silva e Narciso Antunes, a quem pediu que tirasse invólucros de granada da Fábrica de Material de Guerra em Braço de Prata (Processo 746). Transferido para o Aljube em 06/10/1933. Julgado pelo TME em 07/05/1934 e condenado a cinco anos de desterro (Processo 71/933, do TME). Por ter interposto recurso, foi novamente julgado em 18/05/1934, sendo confirmada a sentença. Embarcou, em 23/09/1934, para Angra do Heroísmo, com destino à Fortaleza de S. João Batista. Requereu para ser amnistiado em 10/06/1936. Libertado em 23/12/1938, por ter sido indultado.]
[alterado em 21/05/2023]
[alterado em 22/03/2024]

[João Esteves]

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

[2513.] A VISITA A COIMBRA DOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 1958 || TEXTO DE PAULO MARQUES DA SILVA [III]

 * A VISITA A COIMBRA DOS CANDIDATOS PRESIDENCIAIS DE 1958 *

Texto || Paulo Marques da Silva

«A visita a Coimbra dos candidatos às eleições presidenciais de 1958

     As eleições presidenciais de 8 de Junho de 1958 geraram um grande entusiasmo em torno da campanha do general Humberto Delgado. Após a desistência de Arlindo Vicente a favor de Delgado, em 30 de Maio de 1958, conhecido como o “Pacto de Cacilhas”, e lançado o mote da campanha na conferência de imprensa no café Chave D`Ouro, em Lisboa, no dia 10 de Maio, com a frase “Obviamente demito-o”, referindo-se a Salazar, seguiu-se uma vasta movimentação popular, criando-se uma forte dinâmica de unidade na oposição, como se viu na grande manifestação ocorrida na deslocação do general à cidade do Porto, quatro dias após aquela frase mítica. Começaram, então, as intimidações e a repressão do regime, visível nos casos da proibição da deslocação a Braga do general Humberto Delgado ou nos incidentes na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, a 16 de Maio, na chegada do candidato à capital, com a polícia a carregar sobre a população que ali se juntara.

    O entusiasmo existente em torno da candidatura de Humberto Delgado era evidente no país, e o povo ganhou alento e esperança para vir para a rua receber o general, por onde este passava durante a campanha.

   Vejamos um relato das passagens por Coimbra dos dois candidatos, Humberto Delgado e Arlindo Vicente, antes da desistência deste último. Mas não é a descrição da imprensa, do historiador, ou do cidadão comum que testemunhou os factos. É a visão do informador Inácio, muito provavelmente, o maior informador de Coimbra. É através dos seus relatórios sobre estas passagens por Coimbra e dos pormenores recolhidos nas suas informações, que vamos deixar o leitor tentar perceber as diferenças existentes na recepção aos candidatos presidenciais.
 


Informação de Inácio de 28-5-1958
 
Dr. ARLINDO VICENTE
 
     A sua chegada a esta cidade não teve coisa alguma de especial.
   Na estação velha era aguardado por 4 membros da sua Comissão chefiados pelo Dr. ALBERTO VILAÇA, três jornalistas, e um simples estudante, rapaz ainda novo. Havia mais alguns indivíduos mas como simples espectadores.
     No muro que veda a estrada em frente da estação, estavam cerca de 50 operários, por ser a hora de saída do seu emprego, o Dr. ARLINDO VICENTE fez-lhes saudação com as mãos, mas não obteve qualquer resposta.
     A sessão realizada no Teatro Avenida teve realmente muita assistência, notando-se que a sua maioria era constituída por caixeiros, operários e empregados – muita gente – (digo), ralé.
     Na estrada de Eiras, Casal do Ferrão e Relvinha, viu-se muita gente, mas da pior condição.
     O automóvel Volkswagen MI-17-49 guiado por pessoa desconhecida em Coimbra, veio duas vezes ao Teatro Avenida trazer indivíduos, tipo trabalhadores ou operários. Esta gente era de fora.
     A mesa da sessão era assim constituída:
 
     Eng.º MEM VERDIAL
     HENRIQUE BARRETO
     JOÃO PIMENTEL DAS NEVES
     EVA AMADO
     MANUEL FIUZA PIMENTEL
     MANUEL RAMALHO GANTES
    Dr. ALFREDO GOMES, da Comissão do General Humberto Delgado que representou a Comissão de Coimbra.
 
     ORADORES
 
     Dr. ALBERTO VILAÇA
     MANUEL LOUZÃ HENRIQUES
     AUGUSTO CÉSAR ANJO
     MÁRIO SILAS CERQUEIRA
     MÁRIO SACRAMENTO
     Eng.º MEM VERDIAL
     Fechou a série de discursos o candidato ARLINDO.
 
    Todos os discursos foram muito inflamados, destacando-se os dos seguintes oradores:
 
     Eng.º MEM VERDIAL
     Dr. AUGUSTO CÉSAR
     Dr. ALBERTO VILAÇA
     MANUEL LOUZÃ HENRIQUES
 
     Estava prevista a vinda de MARIA ISABEL ABOIM INGLÊS para discursar, mas não apareceu.
     Houve certa decepção por esta ausência.
   No palco encontravam-se vários indivíduos, para além da mesa constituída.
     A Dr.ª MADALENA ALMEIDA parecia chefiar um grupo desta gente.
    O candidato retirou hoje para Lisboa no comboio foguete da manhã, nada tendo havido de especial.
  Era apenas acompanhado pelo Dr. ALBERTO VILAÇA, que também seguiu viagem no mesmo comboio para a capital onde vai discursar.

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Informação de Inácio de 1-6-1958

 
GENERAL HUMBERTO DELGADO EM COIMBRA
 
     Para o Hotel Astória onde se foi hospedar entraram para receber o General, não só a Comissão de Coimbra (já conhecida) como também as seguintes personagens:
 
a) Da Comissão do ARLINDO: - Dr.ª MADALENA ALMEIDA, EVA AMADO, MANUEL LOUZÃ HENRIQUES.
b) Dr. MÁRIO SILVA E FERREIRA DA COSTA.
c) Dr. ANTÓNIO CONTENTE RIBEIRO e RAÚL MADEIRA, ambos de Soure.
d) Drs. ADELINO MESQUITA, ALBANO DUQUE, Dr. JOÃO BOGALHO, Dr. CUSTÓDIO OLIVEIRA, da Figueira da Foz.
     No átrio do Hotel estava bastante gente.
 
     No Teatro Avenida era enorme a multidão. A sua lotação estava excedida vendo-se muitas capas negras. No palco muita gente também e diversas comissões de fora de Coimbra.
     O serviço no palco era dirigido pelos Drs. JOSÉ FERREIRA e FERNANDO LOPES.
     A mesa da presidência tinha a seguinte constituição:
 
     Major DAVID NETO
     Dr. VASCO DA GAMA FERNANDES
     Dr. MANUEL MONTEZUMA DE CARVALHO
     MÁRIO QUEIROZ MARQUES – estudante
     MÁRIO SILVA – estudante.
 
     ORADORES
 
     Dr. FERNANDO LOPES
     DAVID NETO
     VASCO DA GAMA FERNANDES
     JOSÉ RIBEIRO
     Dr. JAIME CORTESÃO
     Dr. ROLÃO PRETO
     Dr. VIEIRA DE ALMEIDA – monárquico
 
     Os Drs. JAIME CORTESÃO, FERNANDO LOPES, VASCO DA GAMA FERNANDES, ROLÃO PRETO e JOSÉ RIBEIRO foram os que fizeram os seus discursos de bastante violência contra o E.N. tendo arrancado à assistência muitos aplausos.
    Na assistência à Portagem era notória uma grande mole de gente do povo-operários-trabalhadores e mulheres das fábricas. Muitos estavam por espirito de curiosidade e nem sequer podem votar por não estarem inscritos. Havia bastante ralé e muitos rapazes novos.
   Devo frisar que todo o comércio da baixa que costumam fechar uns minutos depois das 19 horas o fez precisamente a essa hora e outros até um pouco antes para o pessoal poder assistir à chegada do General.
     A imprensa de Coimbra compareceu no seu total à sessão do Avenida. O Diário de Coimbra mandou dois redactores além do chefe da redacção, o célebre JOSÉ CASTILHO.»

[Paulo Marques da Silva]

[2512.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [LXXIX] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXIX *

0642. António Correia [ ]

[Mértola, c. 1896, 2.º sargento. Filiação: Maria Antónia e António Correia. Estava deportado em Timor quando foi abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Desembarcou em Lisboa em 09/06/1933 e apresentou-se em 11/06/1933, indo residir para uma das dependências do Quartel da Pontinha. Aparece, posteriormente, como engenheiro reformado, tendo 56 anos em 1952.]

0643. António Correia [1926]

["O Espanhol", S. Bartolomeu de Messines - Silves, 1902, brochante - Barreiro. Filiação: Constança de Jesus e José Correia Júnior. Preso em 15/12/1926, "por suspeita de conspirar contra a Situação e de ter ligações revolucionárias com Ludgero da Conceição Cigarrito". Libertado em 08/01/1927 (v. Processo 2926).]

0644. António Costa Ferreira [1932]

[Lousada - Romariz, 1886, condutor de trens da Companhia Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro - Porto. Filiação: Sofia da Conceição e João Ferreira Paulino. Preso no Porto em 23/06/1932, "por ser portador de diversos pacotes com manifestos clandestinos de propaganda subversiva", entregando-os nas estações de Viana, Valença e Monção. Por ser funcionário público, foi-lhe aplicado o Decreto 20.314 e três meses de prisão (Processo 93/Porto).]

0645. António Craveiro [1927]

[Coimbra, 1896, construtor civil - Lisboa. Filiação: Maria da Encarnação e José da Clara Craveiro. Preso, "por falsa denúncia", em 28707/1927; libertado em 30/07/1927 (Processo 3166).]

0646. António Custódio Gonçalves Monteiro [1931]

[S. Miguel de Gémeos - Celorico de Basto, tenente de Infantaria. Filiação: António Maria Gonçalves Monteiro. Frequentou o Liceu Nacional Central de Braga e, entre 1911/1912 e 1914/1915, a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Em Abril de 1931, aquando da Revolta da Madeira, foi pedida, como medida preventiva, a sua prisão ao Ministério da Guerra. Em 24/08/1931, por estar comprometido no movimento revolucionário em preparação, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, apresentando-se nessa data. Em 28/08/1931, foi considerado como estando implicado na Revolta que eclodiu em 26/08/1931.]

0647. António Custódio [1928]

[Soldado 140/5414 da GNR. Preso em 05/06/1928, por ser considerado o principal responsável de um complô na Companhia da GNR aquartelado na Estrela (Processo 3747). Deportado para a Guiné em 06/06/1928.]

00648. António da Costa Carvalho [1932]

[António da Costa Carvalho || F. 19/07/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Tomar, 1902 (?), carregador dos Caminhos de Ferro. Filiação: Maria Marques e Bernardo da Costa Carvalho. Casado. Residência: Linhaceira. Preso pela Polícia Internacional Portuguesa e enviado para Lisboa em 18/07/1932, acusado de ter proferido frases contra o Governador Militar (de Elvas?) (v. Processo 456). Libertado em 20/07/1932.]
[alterado em 29/12/2021]

0649. António Costa Lamego Júnior ou Manuel dos Santos [1927, 1928, 1931, 1938]

[António Costa Lamego Júnior ou Manuel dos Santos || ANTT || RGP/9599 || PT-TT-PIDE-E-010-48-9599]

[Lisboa, 25/03/1885, 2.º contra-mestre reformado da Armada. Filiação: Palmira dos Anjos e António da Costa Lamego. Preso em 25/09/1927, "por reunir no Centro 19 de Outubro e conspirar contra a Situação" (Processo 3243). Deportado para Angola em 01/11/1927, não sabendo de quando data o seu regresso. Preso em 27/11/1928, "por conspirar contra a actual Situação Política do País." (Processo 4128). Libertado em 11/12/1928, foi-lhe fixada residência em Vinhais. Preso pelas autoridades da Marinha em Março de 1931, por se ter ausentado de Vinhais. Ouvido, em 11/03/1937, na Secção Política e Social da PVDE por ter proferido frases contra o Presidente do Conselho e ministros. O processo foi arquivado por falta de provas, embora fosse considerado um elemento perigoso (Processo 2430). Preso pela SPS da PVDE em 25/03/1938, quando completava 53 anos, recolhendo a uma esquadra incomunicável. Transferido para a 1.ª esquadra em 16/04/1938 e, depois, para Caxias em 19/04/1938, foi libertado em 17/07/1938.]   

[João Esteves]

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

[2511.] DEODATO RAMOS [I] || 1909 - 1958

* DEODATO MEDEIROS RAMOS *

[5/12/1909 - 20/07/1958] 

[Deodato Ramos || 05/05/1947 || ANTT || RGP/17565]

Filho de Beatriz Aldina Medeiros Ramos e de António Gonçalves Ramos, Deodato Medeiros Ramos nasceu em 5 de Dezembro de 1909, em Ponta Delgada.

Quando ainda residia em Ponta Delgada, onde era empregado de escritório, integrou o Socorro Vermelho Internacional, tendo sido responsável pela organização de um grupo de contribuintes, recebendo e distribuindo o seu material. 

Daí, transitou para o Partido Comunista, cabendo-lhe criar uma célula e a incumbência de contactar os deportados em outras ilhas, alguns deles filiados, recebendo, para isso, nomes e endereços. Entre esses deportados, encontravam-se Anastácio Ramos, Bento Gonçalves, Domingos Lopes Bibi e Manuel Francisco Roque Júnior. Além de distribuir material da organização, enviava correspondência partidária através de deportados que regressavam ao Continente e cujos barcos atracavam em Ponta Delgada. 

Em simultâneo com as ligações partidárias, relacionou-se com outros deportados políticos, como Álvaro de Castro (filho) e Basílio Lopes Pereira

Participou, em Ponta Delgada, no movimento revolucionário despoletado em Abril de 1931, secundando o da Madeira, encarregando-se do jornal Correio dos Açores. Durante o processo de rendição da ilha de S. Miguel, integrou o grupo de revoltosos civis e militares, quase todos deportados, que se dirigiu para Madeira no vapor Pero de Alenquer, constituído por Álvaro Garrido Castro (segundo-sargento cadete), António Mendes, António Silva Reis, Augusto César Loureiro (capitão), Bartolomeu Severino, Basílio Lopes Pereira, Francisco da Conceição Rodrigues, Francisco Violante, Joaquim Pinheiro Vila, Joaquim Pinto de Lima, José Filipe Piçarra (tenente), Leonel Ferro Alves, Luís Emílio Seca (tenente), Manuel Alegria Vidal e Teotónio Malta Jota (tenente). 

No Funchal, encarregou-se das comunicações telefónicas entre o Quartel-General dos revoltosos e as diferentes posições de combate. 

Após a rendição, escapou à prisão e embarcou, clandestinamente, no vapor alemão Madrid, com destino a Lisboa. Na capital, manteve contactos com Álvaro de Castro, embora este se viesse a exilar em Madrid, e Basílio Lopes Pereira, estando encarregue, quando foi preso, de enviar documentação, para ser divulgada, ao médico Manuel Figueiredo, de Estarreja. 

Manteve a militância comunista, nomeadamente através das ligações a Manuel Francisco Roque Júnior. Passou a trabalhar no Comité Local do SVI, juntamente com António Bandeira Cabrita, Carlos Pereira, César Maurício e Malaquias

Com a prisão e deportação de António Bandeira Cabrita, César Maurício e Malaquias, na sequência do envolvimento na Revolta de 26/08/1931, passou a trabalhar com os arsenalistas Manuel da Costa e um Vítor, distribuindo, por ser desconhecido da polícia já que era novo em Lisboa, os donativos do SVI aos presos que se encontravam no Aljube.

As reuniões do Comité Local eram controladas por Rodrigo Ollero das Neves, do Comité Central Executivo do SVI, estando Deodato Ramos encarregado do controlo dos Comités das Zonas B e C. Era, ainda, secretário da Zona A e assegurava a cobrança entre alguns sindicatos que apoiavam o SVI, tendo um papel de destaque enquanto “contabilista” informal. A partir de certa altura, a sede clandestina do Comité Local do SVI passou a funcionar num quarto alugado por Deodato Ramos no 1.º andar da Rua do Bemformoso - 364. Antes de ser detido, era o responsável pela distribuição de subsídios aos comunistas presos na Penitenciária e que aguardavam a deportação. 

Por convite de Manuel Francisco Roque Júnior, passou a integrar o Comité Regional de Lisboa do Partido Comunista, então em reorganização devido a prisões. 

Preso em 17/09/1932, quando se dirigia para uma reunião daquele Comité, foi-lhe apreendida a quantia de 119$65, do SVI, e considerado «um elemento perigosíssimo, não só pela actividade que desenvolveu na organização do Socorro, como na do Partido, trabalhando nas suas reorganizações, mas ainda pelas suas ligações político-revolucionárias e com elementos fugidos à acção desta polícia.» 

Libertado em 10/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932, foi julgado pelo TME em 16/12/1933, confirmando-se que estava abrangido pela amnistia do ano anterior. 

Quando era guarda-livros, foi preso em Mortágua, onde residia, em 02/05/1947, recolheu a Caxias no dia seguinte e foi libertado em 27/05/1947. Esta segunda prisão deveu-se à sua ligação ao MUD e à subscrição de um documento que reivindicava melhores condições de assistência aos presos no Tarrafal [Museu do Aljube Resistência e Liberdade].

Provavelmente, um dos poemas dedicados a Deodato Ramos, assinado por M. Leiria, datado de Novembro de 1932 e oferecido pelas filhas ao Museu do Aljube, será da autoria do escrivão tavirense Manuel Wenceslau Leiria, preso em inícios do mês de Outubro e também levado para a mesma prisão do Aljube.

Faleceu em 20 de Julho de 1958, com apenas 48 anos, informação amavelmente disponibilizada por Maria Rosalina Ramos, sua filha.

[João Esteves]

[2510.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [LXXVIII] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXVIII *

00641. Deodato Medeiros Ramos [1932, 1947]

[Deodato Ramos || F. 05/05/1947 || ANTT || RGP/17565 || PT-TT-PIDE-E-010-88-17565]

[Ponta Delgada - S. Miguel, 05/12/1909, empregado de escritório / guarda-livros. Filiação: Beatriz Aldina Medeiros Ramos e António Gonçalves Ramos. Solteiro / Casado. Residência: Rua Enfermeiras da Grande Guerra, 12 - Lisboa; Mortágua. Em 1929/1930, quando ainda residia e trabalhava em Ponta Delgada, Deodato Ramos integrou o Socorro Vermelho Internacional, tendo sido responsável pela organização de um grupo de contribuintes, recebendo e distribuindo o seu material. Daí, transitou para o Partido Comunista, cabendo-lhe criar uma célula e a incumbência de contactar os deportados em outras ilhas, alguns deles filiados, recebendo, para isso, nomes e endereços. Entre esses deportados, encontravam-se Anastácio Ramos, Bento Gonçalves, Domingos Lopes Bibi e Manuel Francisco Roque Júnior. Além de distribuir material da organização, enviava a correspondência partidária através de deportados que regressavam ao Continente e cujos barcos atracavam em Ponta Delgada. Em simultâneo com as ligações partidárias, relacionou-se com outros deportados políticos, como Álvaro de Castro (filho) e Basílio Lopes Pereira. Participou, em Ponta Delgada, no movimento revolucionário despoletado em Abril de 1931, secundando o da Madeira, encarregando-se do jornal Correio dos Açores. Durante o processo de rendição da ilha de S. Miguel, integrou o grupo de revoltosos civis e militares, quase todos deportados, que se dirigiu para Madeira no vapor Pero de Alenquer, constituído por Álvaro Garrido Castro (segundo-sargento cadete), António Mendes, António Silva Reis, Augusto César Loureiro (capitão), Bartolomeu Severino, Basílio Lopes Pereira, Francisco da Conceição Rodrigues, Francisco Violante, Joaquim Pinheiro Vila, Joaquim Pinto de Lima, José Filipe Piçarra (tenente), Leonel Ferro Alves, Luís Emílio Seca (tenente), Manuel Alegria Vidal e Teotónio Malta Jota (tenente). No Funchal, encarregou-se das comunicações telefónicas entre o Quartel-General dos revoltosos e as diferentes posições de combate. Após a rendição, escapou à prisão e embarcou, clandestinamente, no vapor alemão "Madrid", com destino a Lisboa. Na capital, manteve contactos com Álvaro de Castro, embora este se viesse a exilar em Madrid, e Basílio Lopes Pereira, estando encarregado, quando foi preso, de enviar documentação, para ser divulgada, ao médico Manuel Figueiredo, de Estarreja. Manteve a militância comunista, nomeadamente através das ligações a Manuel Francisco Roque Júnior. Passou a trabalhar no Comité Local do SVI, juntamente com António Bandeira Cabrita, Carlos Pereira, César Maurício e Malaquias. Com a prisão e deportação de António Bandeira Cabrita, César Maurício e Malaquias, na sequência do envolvimento na Revolta de 26/08/1931, passou a trabalhar com os arsenalistas Manuel da Costa e um Vítor, distribuindo, por ser desconhecido da polícia já que era novo em Lisboa, os donativos do SVI aos presos que se encontravam no Aljube. As reuniões do Comité Local eram controladas por Rodrigo Ollero das Neves, do Comité Central Executivo do SVI, estando Deodato Ramos encarregado do controlo dos Comités das Zonas B e C. Era, ainda, secretário da Zona A e assegurava a cobrança entre alguns sindicatos que apoiavam o SVI, tendo um papel de destaque enquanto “contabilista” informal. A partir de certa altura, a sede clandestina do Comité Local do SVI passou a funcionar num quarto alugado por Deodato Ramos no 1.º andar da Rua do Benformoso - 364. Antes de ser detido, era o responsável pela distribuição de subsídios aos comunistas presos na Penitenciária e que aguardavam a deportação. Por convite de Manuel Francisco Roque Júnior, passou a integrar o Comité Regional de Lisboa do Partido Comunista, então em reorganização devido a prisões. Era, também, constituído por Álvaro Duque da Fonseca, Armando Ramos e Raul Nunes LealPreso em 17/09/1932, quando se dirigia para uma reunião daquele Comité, a realizar na sede da Associação de Classe dos Empregados de Escritório, situada na Rua da Madalena, 225 - 1º dto. Foi-lhe apreendida a quantia de 119$65 do SVI e submetido "a apertadíssimo interrogatório", ou seja torturado, sendo considerado "um elemento perigosíssimo, não só pela atividade que desenvolveu na organização do Socorro, como na do Partido, trabalhando nas suas reorganizações, mas ainda pelas suas ligações político-revolucionárias e com elementos fugidos à ação desta polícia." Libertado em 10/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Julgado pelo TME em 16/12/1933, confirmou-se que estava abrangido pela amnistia do ano anterior. Quando era guarda-livros, foi preso em Mortágua, onde residia, em 02/05/1947, recolheu a Caxias no dia seguinte e foi libertado em 27/05/1947. Esta segunda prisão deveu-se à sua ligação ao MUD e à subscrição de um documento que reivindicava melhores condições de assistência aos presos no Tarrafal [Museu do Aljube Resistência e Liberdade.

[Deodato Ramos || 05/05/1947 || ANTT || RGP/17565]

Provavelmente, um dos poemas dedicados a Deodato Ramos, assinado por M. Leiria, datado de 14 de Novembro de 1932 e oferecido pelas filhas ao Museu do Aljube, será da autoria do escrivão tavirense Manuel Wenceslau Leiria, preso em inícios do mês de Outubro e também levado para a mesma prisão do Aljube. Faleceu em 20 de Julho de 1958, com apenas 48 anos de idade.]

[alterado em 27/03/2022]

[João Esteves]

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

domingo, 21 de fevereiro de 2021

sábado, 20 de fevereiro de 2021

[2506.] ARNALDO BRAZÃO [IV] || CONGRESSO ABOLICIONISTA DE ANVERS - 1927

 * ARNALDO BRAZÃO *

CONGRESSO DE ANVERS ORGANIZADO PELA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL ABOLICIONISTA || OUTUBRO DE 1927

[O Rebate || 08/10/1927]

[João Esteves]

[2505.] REVOLTA DE FEVEREIRO DE 1927 || MANIFESTAÇÃO EM SINES JULGAMENTO

 * REVOLTA DE FEVEREIRO DE 1927 || MANIFESTAÇÃO EM SINES *

JULGAMENTO NO TRIBUNAL MILITAR ESPECIAL || 07/10/1927

[O Rebate || 08/10/1927]

Julgamento de 10 arguidos acusados de terem participado numa manifestação em Sines aquando da Revolta de Fevereiro de 1927, tendo dado "vivas à República e morras à ditadura".

- Mariano Nunes Faria (tenente do secretariado naval): também acusado «de ter divulgado um telegrama que o coronel Mendes dos Reislhe enviou, dando a notícia de ter eclodido em Lisboa a revolução».
- António Estêvão
- Augusto Martins Saúde
- Carlos Estêvão
- Clemente José da Costa
- Francisco Garcia
- Gabriel Bastos dos Santos
- João de Matos Leote
- José Amaral Rego
- José dos Santos

Foram defensores os advogados Octávio da Fonseca Brito e o tenente-coronel João Tamagnini Barbosa.

Os réus foram absolvidos.

[João Esteves]

[2504.] JOAQUIM RIBEIRO DE CARVALHO [I] || 1928

* JOAQUIM RIBEIRO DE CARVALHO *
[1880 - 1942]

O Rebate, diário do Partido Republicano Português, noticia, no seu número de 19 de Maio de 1928, o regresso ao Continente do jornalista Ribeiro de Carvalho, preso em 24/10/1927 e deportado para a Madeira.

[O Rebate || 19/05/1928]

O regresso deu-se no navio Lourenço Marques, que trouxe outros deportados vindos de Angola e da Madeira, entre os quais o capitão Agostinho do Espírito Santo e os sargentos Albino Roxo, Aníbal Correia, António Teixeira, Batista, Félix Nascimento, José Albuquerque, Manuel José Pinto e Mário Reis.

[João Esteves]

[2503.] BÁRBARA ROSA DE CARVALHO PEREIRA [I] || CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS

 * BÁRBARA ROSA DE CARVALHO PEREIRA *

[Rosa Pereira || 1928 || Pormenor de uma fotografia do II Congresso Feminista]

Natural de Tomar, Bárbara Rosa de Carvalho Pereira distinguiu-se por mais de três décadas dedicadas às causas republicana, pacifista, maçónica e feminista.

Aderiu, no primeiro trimestre de 1907, ao Comité Português da associação pacifista francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes e tornou-se numa das militantes mais activas do núcleo de Tomar da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (sócia n.º 223): interveio, em 1910, no plebiscito interno sobre a revisão dos Estatutos, manifestando-se pela eliminação do antigo art.º 11, já que a “Liga deve interessar-se por tudo quanto seja a emancipação da mulher e quebrar todos os preconceitos que a oprimem e sufocam”; contribuiu para subscrições; participou, em 1912, na campanha a favor da aprovação pelo Parlamento duma lei proibitiva da venda de tabaco e bebidas alcoólicas a menores; e, enquanto subscritora da Obra Maternal, apoiou a manutenção da sua directora em 1915.

Posteriormente, estando já a residir em Lisboa, na R. Augusto José Vieira, n.º 11, r/c, aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde se manteve em actividade durante mais de 20 anos, até à sua proibição pelas autoridades salazaristas.

Tal como muitas outras activistas, o desempenho de cargos directivos no CNMP coincidiu com a iniciação na Maçonaria.

Rosa Pereira distinguiu-se sobretudo na área financeira e na gestão das quotas das associadas da província: foi eleita Secretária do Interior - Arquivista (1923); Tesoureira Adjunta da Direcção (1927) e Tesoureira da Província (1928, 1929, 1931-1934, 1936-1945); e 1.ª Vogal da Assembleia Geral (1946). Pertenceu à Comissão de Beneficência (1924), onde exerceu a presidência em 1925 e 1926, e à Secção de Finanças (1931-1934).

Colaborou em parceria com Mariana da Assunção da Silva, a outra Tesoureira do Conselho, secretariou a 2.ª Sessão Ordinária do Congresso Abolicionista Português (03/08/1926), integrou a Comissão responsável pela aquisição duma bandeira nacional a ser enviada à Aliança Internacional Feminista, participou na recepção promovida pelo Conselho a Adelaide Cabete quando do seu regresso de África e fez parte da delegação que, em 10 de Fevereiro de 1940, entregou à Assembleia Nacional um requerimento, onde se pedia que as competências da Tutoria da Infância sobre as raparigas fosse alargada dos 16 para os 21 anos, de forma a impedir o registo de toleradas antes desta idade, como estava sucedendo.

Assinou, na revista Alma Feminina, uma carta de homenagem à activista Angélica Lopes Viana Porto.

A par da militância feminista, foi iniciada na Maçonaria em 1922 e integrou a Loja Humanidade do Grande Oriente Lusitano Unido e a Loja Humanidade do Direito Humano, com o nome simbólico de Leonor da Fonseca Pimentel.

Enquanto republicana, e num momento particularmente difícil, aderiu, em Maio de 1928, à campanha promovida pelo jornal O Rebate a favor dos presos, deportados e emigrados políticos.

O seu nome aparece indistintamente como Rosa de Carvalho, Rosa de Carvalho Pereira ou Rosa Pereira e era irmã da activista Maria Emília de Carvalho Gonçalves, tendo ambas idêntico percurso político e associativo.

[v. JE, "Bárbara Rosa de Carvalho Pereira", Dicionário no Feminino (Séculos XIX-XX), Livros Horizonte, 2005, pp. 162-163]

[João Esteves]

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

[2502.] CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS || DIRECÇÃO - 1928

 * CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS *

DIRECÇÃO || 1928

[Civilização || 1930]

Direcção do CNMP aquando do II Congresso Feminista e de Educação

1.º plano (da esquerda para a direita):

- Maria Leonarda Correia da Costa
 
Natural de Lisboa, cidade onde também vivia e terá casado. 
Militante do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, pertenceu a vários corpos gerentes e desempenhou cargos entre, pelo menos, 1917 e 1934. 
Iniciada na Maçonaria em 1925.

- Isaura Seixas Marques

Natural de Lisboa, militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas desde finais da década de 1920 até, pelo menos, 1945.
Referenciada como Dr.ª.

- Tetralda Teixeira de Lemos (advogada)

Aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas quando era estudante universitária, concluindo em 1929, com a classificação de 17 valores, a licenciatura em Direito. Só terá mantido activismo no final da década de 1920.

- Maria do Céu Branquinho

Moradora em Lisboa, militou, durante a década de 20, no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. 

- Sara Beirão (escritora)
[Sara de Vasconcelos Carvalho Beirão]

Nasceu em Tábua, em 30 de Julho de 1880. Para além da notoriedade enquanto autora foi, desde a Monarquia, propagandista republicana. Militou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, dinamizando a criação de um núcleo em Tábua em Maio de 1909,  e no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas onde, a partir de 1925 teve grande protagonismo, mediante o desempenho de cargos dirigentes. Durante a década de 30, e até à viragem protagonizada por Maria Lamas, em 1945, tornou-se no seu rosto mais visível. Manteve colaboração diversificada na imprensa, assinou textos em jornais brasileiros e proferiu conferências sobre temas educativos e femininos. Faleceu em 21 de Maio de 1974, em Tabua, com quase noventa anos.

- Bárbara Rosa de Carvalho Pereira

Natural de Tomar, Rosa Pereira distinguiu-se por mais de três décadas dedicadas às causas republicana, pacifista, maçónica e feminista. Aderiu, no primeiro trimestre de 1907, ao Comité Português da associação pacifista francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes e tornou-se numa das militantes mais activas do núcleo local da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Posteriormente, estando já a residir em Lisboa, aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde se manteve em actividade durante mais de 20 anos, até à sua proibição pelas autoridades fascistas do Estado Novo. Tal como muitas outras militantes, o desempenho de cargos directivos coincidiu com a iniciação na Maçonaria, em 1922.  Enquanto republicana, e num momento particularmente difícil, aderiu, em Maio de 1928, à campanha promovida pelo jornal O Rebate a favor dos presos, deportados e emigrados políticos.

2.º plano:


- Maria O'Neill (escritora) 
[Maria da Conceição Infante de Lacerda Pereira de Eça Custance O’Neill]
 
Escritora, poetisa, conferencista e propagandista republicana, socialista, feminista e espírita, nasceu em Lisboa, em 19 de Novembro de 1873. Para além da actividade literária, não descurou a intervenção associativa, cívica e política. Referenciada, em 1919, como militante socialista, tornou-se, depois, num dos nomes emblemáticos do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, evidenciando-se no início da década de 20. O seu dinamismo estendeu-se aos dois Congressos Feministas (1924, 1928) e Abolicionistas (1926, 1929). Tal como outras intelectuais suas contemporâneas, dedicou-se ao espiritismo e pertenceu ao Conselho Superior da Federação Espírita Portuguesa. Faleceu em 21 de Março de 1932, no Oceano Atlântico, quando regressava do Brasil, aonde se deslocara para fazer a sua propaganda.

- Angélica Porto - Vice-Presidente
[Angélica Cristina Irene Lopes Viana Porto]

Natural de Paço de Arcos, Angélica Porto tornou-se, pela militância e dedicação, um dos pilares do associativismo feminista português das primeiras três décadas do século XX. Começou por integrar, em 1907, a comissão de senhoras que procurou implementar, em Lisboa, uma Escola Maternal destinadas às crianças desprotegidas entre os 3 e os 6 anos de idade. Depois, aderiu à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e, em 1916, foi iniciada na Maçonaria. No âmbito da Liga Republicana, participou na vida associativa entre, pelo menos, 1914 e 1918, concorrendo para a sobrevivência da organização quando parte dos nomes mais relevantes a iam abandonando. Depois da extinção da Liga, manteve-se fiel ao ideal feminista e, com o mesmo voluntarismo, passou a colaborar, a partir de 1919, na revista Alma Feminina, órgão do CNMP, e exerceu cargos nos corpos gerentes. Devido à sua abnegação e desvelo, foi proclamada, no final da década de 1930, Presidente Honorária do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Para além da enorme respeitabilidade que granjeou nos meios feministas, educativos e operários, solidarizou-se, em 1928, com a campanha desenvolvida pelo jornal republicano O Rebate a favor dos presos, deportados e emigrados políticos e respectivas famílias, vítimas do regime repressivo que começava a consolidar-se em Portugal. 

- Beatriz Teixeira de Magalhães

Professora do ensino primário geral desde os primeiros anos do século XX, interveio no movimento associativo da classe, desempenhou cargos de direcção e participou em congressos. Identificada com os princípios da Educação Nova e da Escola Única, integrou o Grémio dos Professores Primários Oficiais, a União dos Professores Primários de Portugal, a Casa dos Professores Primários, a Associação dos Professores de Portugal e a Liga de Acção Educativa. Também se evidenciou enquanto feminista, encetando a sua colaboração com o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas em meados da década de 20, onde desempenhou, entre 1927 e 1944, as mais diversas funções.

- Adelaide Cabete (médica) - Presidente
[Adelaide de Jesus Damas Brazão e Cabete]

Médica ginecologista e destacada propagandista republicana e feminista durante mais de três décadas, com influência e prestígio a nível nacional e além fronteiras, nasceu em Elvas, em 25 de Janeiro de 1867. Só depois de casada fez o exame de instrução primária, não mais parando de estudar até concluir, em 26 de Julho de 1900, a Licenciatura na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, com a Tese A Protecção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações. Combativa e persistente, tanto trabalhou pela melhoria das condições de vida das mulheres e das crianças, preocupando-se com os direitos das grávidas e a protecção das pobres, como se revelou intransigente defensora do ideário político e feminista, integrando o quarteto, com Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Veleda, que marcou a sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XX. Começou por aparecer como Vogal do Comité Português da associação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes (1906); em 1907, iniciou-se na Maçonaria, no seio da qual batalhou pela igualdade de tratamento entre homens e mulheres; integrou, no mesmo ano, o Grupo Português de Estudos Feministas; e esteve associada à fundação da  Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1908. Ainda durante a Monarquia, desdobrou-se por iniciativas do Partido Republicano Português, dos Centros Escolares Republicanos, da Associação do Registo Civil e da Junta Federal do Livre Pensamento, não sendo um acaso ser escolhida para confeccionar as bandeiras vermelhas e verdes utilizadas na Rotunda durante a revolução de 5 de Outubro de 1910. Depois da militância na LRMP, surgiu, em 1914, como a impulsionadora do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, ainda que só a partir de 1920 se tenha tornado mais notório o papel por si desempenhado. O seu nome é indissociável do historial da agremiação por ter exercido o cargo de Presidente da Direcção, sucessivamente reeleita entre 1914 e 1935. Participou em Congressos nacionais e internacionais, quer como delegada oficial do governo, quer como mandatária do CNMP, em resultado da filiação na International Council of Women e na International Woman Suffrage Alliance. Preocupada, enquanto médica e professora, com a divulgação de informações científicas, escreveu sobre a educação, a amamentação, o espartilho, os preceitos da higiene, as doenças infecciosas, o alcoolismo, a puericultura, o abolicionismo e a eugenia, sempre numa perspectiva didáctica e recorrendo a uma linguagem acessível, por vezes coloquial. Participou, em 1928, na primeira campanha realizada em prol das famílias dos presos, deportados e emigrados políticos, promovida por sugestão do jornal republicano O Rebate e, em 1929, partiu inesperadamente para Angola, onde, talvez ingenuamente, plebiscitou a Constituição de 1933. Faleceu em Lisboa em 19 de Setembro de 1935, com 66 anos. 

3.º plano:


- Fábia Ochôa Arez

Professora, natural de Bragança, foi iniciada na Maçonaria em 1912 e militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde exerceu cargos dirigentes ao longo de toda a década de 20.

- Maria da Luz de Campos Santos

Militante do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, desempenhou, entre 1928 e 1934, diversos cargos. 

- Zoé Grabit Pereira

Militante de Lisboa do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, pertenceu à sua Direcção durante quase duas décadas, entre 1928 e 1945. 

- Mariana da Assunção da Silva

Natural de Vila Franca de Xira e educanda do Asilo de S. João, de onde saiu com o curso de professora, manteve, ao longo de quase quarenta anos, intervenção ininterrupta em organizações de mulheres, tendo vivido essa militância em regimes tão díspares como a Monarquia, a República, a Ditadura Militar e o Estado Novo: batalhou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas até à sua extinção (1919) e, depois, no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde desenvolveu actividades directivas durante anos consecutivos. Depois de se ter revelado um quadro fundamental na subsistência da LRMP, manteve no CNMP a mesma capacidade de intervenção, muito contribuindo para a sua sobrevivência “durante os anos em que ele quase estagnou”. Foi, provavelmente, a única activista que, entre 1908 e 1947, nunca se escusou a intervir em prol dos direitos das mulheres, mesmo quando as condições eram adversas, fazendo a ponte entre diferentes gerações de republicanas e feministas. Faleceu em 1950, com 83 anos.

- Elina Guimarães (advogada) - Vice-Presidente
[Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães da Palma Carlos]

Dedicou-se, desde muito nova, à defesa intransigente dos direitos das mulheres e pode ser considerada a herdeira dos valores da primeira geração de feministas portuguesas, preservando-os durante a vigência do Estado Novo e avivando-os no período subsequente à revolução de Abril de 1974. Nasceu em Lisboa, em 8 de Agosto de 1904 e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, com a classificação de 18 valores. Não chegou a exercer a advocacia, embora assinasse os textos como advogada, trabalhou durante algum tempo no Tribunal de Menores e casou, em 1928, com o advogado Adelino da Palma Carlos, colega desde os tempos do Liceu. A partir de 1925, quando estudante universitária, interveio no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, para o qual terá sido convidada por Adelaide Cabete, mantendo-se na agremiação até à sua proibição. Coube-lhe a presidência da Comissão Executiva da subscrição nacional aberta pelo jornal O Rebate a favor das famílias dos presos, deportados e emigrados políticos.

- Maria Luísa Amaro

Professora em Lisboa, militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde desempenhou cargos entre 1921 e 1934. Aderiu, em Junho de 1928, à campanha nacional promovida pelo jornal republicano O Rebate a favor das famílias dos presos, deportados e emigrados políticos.

- Deolinda Lopes Vieira Pinto Quartin

Nasceu em Beja, em Julho de 1888, e faleceu em Lisboa, cidade onde passou a viver desde os doze anos, em 8 de junho de 1993, com 104 anos de idade. Frequentou a Escola Normal de Lisboa, participou na greve académica de 1907, especializou-se no ensino infantil e exerceu a profissão docente na Escola Oficina N.º 1. Após a implantação da República, interveio no Segundo Congresso Nacional do Livre Pensamento e, entre 1913 e 1915, esteve no Brasil, por o marido, o jornalista anarcossindicalista António Tomás Pinto Quartim ter sido expulso do país. De volta a Portugal, voltou a leccionar na Escola-Oficina N.º 1 e aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas onde, a partir do início da década de 20, interveio no âmbito da sua actividade profissional. Depois de um interregno, voltou a aderir ao CNMP, integrando o numeroso grupo de Lisboa que, em 1945, se filiou na agremiação. 

- Cipriana Nogueira

Natural de Lisboa, militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas durante mais de uma dezena de anos. Iniciada na Maçonaria em 1923.

- Fernanda de Pinho Ferreira Pimentel

Activista do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas entre, pelo menos, 1925 e 1945. Trata-se de mais um caso em que a militância feminista é subsequente à iniciação na Maçonaria (1924).

[João Esteves]