[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 29 de junho de 2014

[0697.] HENRIQUE CUNHA [I]

* HENRIQUE LUÍS RAMOS PEREIRA DA CUNHA *
[20.09.1932-26.08.2010]

Henrique Cunha nasceu no dia 20 de setembro de 1932, no seio de uma família democrata e activa: o pai, oficial de engenharia, por perseguição política foi afastado  do exército com o posto de major, situação na qual permaneceu vários anos, só vindo a ser reintegrado tardiamente no posto de coronel, a que teria direito se tivesse permanecido ao serviço, mas já sem condições de subir a oficial-general. Do lado materno, o avô, Luís Inocêncio Ramos Pereira, médico republicano, foi deputado nas Constituintes de 1911 e era pai do contra-almirante Jorge Maia Ramos Pereira [06.04.1901-16.04.1974] que chegou a ser candidato da CDE por Viana do Castelo nas eleições de 1969. Em 1973, fez ainda parte da Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática que se reuniu em Aveiro.

Henrique Cunha envolveu-se cedo no associativismo e na luta antifascista. Exerceu actividade no movimento associativo estudantil, designadamente na Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, instituição onde concluiu a licenciatura em engenharia mecânica e, muito jovem, aderiu ao MUD Juvenil e, em 1956, ao Partido Comunista.

Foi membro activo da Comissão de Apoio aos Presos Políticos e Famílias e à Comissão de Amnistia.

Sentindo-se perseguido, esteve algum tempo em refúgio e quando voltou ao trabalho, em 1964, em plena actividade profissional no Arsenal do Alfeite, foi preso pela PIDE.

Submetido à tortura do sono durante 5 dias e 5 noites e a espancamento que lhe provocou lesão irreversível no ouvido esquerdo, esteve preso no Aljube, em Caxias, em Peniche e no Hospital Prisão São João de Deus em Caxias, onde foi submetido a operação cirúrgica em consequência de traumatismo. 

Julgado e condenado a Prisão Maior e Medidas de Segurança, saiu da prisão, em liberdade condicional, em 1967, tendo continuado actividade política que prosseguiu depois do 25 de Abril. 

Esteve ligado à célula dos engenheiros da Organização Regional de Lisboa e, após 1976, de forma continuada até ao seu falecimento, exerceu actividade partidária na Comissão dos Assuntos Económicos junto do Comité Central do Partido Comunista, particularmente no organismo ligado à política industrial.

Homem simples, solidário, afável, discreto, algo tímido e, não raras vezes, (muito) distraído, revelava-se, entre os mais próximos, um excelente ouvinte e conversador. Apesar de todas as adversidades por que passou, manteve até ao fim um sorriso genuíno e cativante, marcando todos aqueles que com ele conviveram.

Casado com a activista e escritora Glória Marreiros.

sábado, 28 de junho de 2014

[0696.] IRENE CASTRO [II]


* IRENE FERNANDES DE MORAIS E CASTRO *
[05/09/1895 - 28/07/1975]

[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em grupo contra a corrente, 2011]


Filha de Torquato Fernandes e de Maria Augusta Loureiro Dias, nasceu a 5 de Setembro de 1895 na freguesia da Sé, no Porto, e faleceu a 28 de Julho de 1975. 

Tal como a mãe e irmãs, exerceu a profissão de professora do Ensino Primário, cujo exame na Escola Normal do Porto concluiu em 5 de Junho de 1914, com 20 valores. 

Foi Directora da Escola da Freguesia da Sé no Porto. 

Em 1917, casou com Amílcar Gonçalves de Morais e Castro, nascido a 22 de Maio de 1896, filho de Manuel Joaquim Gonçalves de Castro e de Ana Adelaide das Dores de Morais e Castro. Maçon e franco-atirador, escriturário de 3.ª classe dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, terminou o Curso de Direito depois de casado e passou a exercer a advocacia. Devido às suas ideias, esteve preso onze vezes na PIDE do Porto. 

Sócia fundadora da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, foi,  de 1949 a 1952, a sua última presidente. 

Organizou, em articulação com a sede de Lisboa, entre outras actividades, as comemorações do XV Aniversário da AFPP no ano de 1950, que tiveram como ponto alto as conferências O Dilema da Paz e da Guerra e Pró Paz proferidas, respectivamente, por Maria Lamas e Teixeira de Pascoaes. As conferências tiveram lugar no Salão Nobre do Clube Fenianos Portuense, a primeira a 25 de Maio e a segunda a 1 de Junho. 

Mãe de três filhos e de uma filha, a todos apoiou nas suas lutas políticas, tendo pedido às autoridades melhores condições de vida para os presos políticos e reclamado das injustiças praticadas. 

O filho mais velho, Armando Fernandes de Morais e Castro [18/07/1918 - 16/06/1999], professor e historiador de Economia e reconhecido oposicionista portuense, era casado com a sócia da AFPP Maria Virgínia Castro. 

O segundo filho, Raul Fernandes de Morais e Castro [25/08/1921 - 08/2004], advogado antifascista preso em 1947 e um dos Constituintes após 1974, casou com a sócia da AFPP Maria Carolina Campos.  

O terceiro filho, Amílcar Fernandes de Morais e Castro, nasceu em 1927; e a filha mais nova, Irene, em 1933. 

Irene de Castro apoiou os filhos nas lutas académicas e quando estavam presos na PIDE. 

Acolheu na sua casa todos os que precisavam de ajuda durante os tempos das lutas antifascistas e da oposição ao Estado Novo. 

Foi uma mulher política, mas não por influência do seu marido, de quem sempre ocultou a sua militância no Partido Comunista. Fez parte do Partido Comunista por vontade própria e nem os filhos, todos com relevante actividade oposicionista, souberam. Exigiu que o partido a contactasse através de uma mulher para que ninguém de casa desconfiasse. 

Integrou todos os Movimentos Unitários até ao 25 de Abril de 1974. Esteve presente na sessão do Olímpia em 13 de Outubro de 1945, onde se organizou o MUD no Porto. Pertenceu ao MDM - Movimento Democrático de Mulheres - e nessa qualidade recebeu no Porto a russa Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço. 

Em 11 de Outubro de 1992 foi homenageada por um grupo de personalidades, entre elas antigas sócias das AFPP, como Branca de Lemos. Nesse dia, domingo, foi organizada uma romagem com colocação de flores ao Cemitério Prado do Repouso, onde Virgínia Moura [19.07.1915-19.04.1998] relembrou o perfil de mãe, de mulher e de professora lutadora por uma educação progressista pela Paz e pelos direitos das mulheres. À tarde realizou-se uma sessão pública no Salão Nobre do Clube Fenianos do Porto, com apresentação de um vídeo feito especialmente com testemunhos de pessoas que com ela conviveram, música poesia e pintura. 

O filho Raul de Castro escreveu-lhe o seguinte epitáfio: à memória exemplar de quem sempre enfrentou a vida de forma a nem na morte deixar a imagem de vencida.  

O filho mais velho, Armando de Castro, disse dela no vídeo feito por ocasião da homenagem prestada em 1992: morreu de pé como sempre viveu, coerente consigo própria e, tal como Romain Rolland dizia, “esteve sempre em marcha e só parou na morte”. 

Como pedagoga, é referida pelo respeito que votava às crianças. Na sala de aula tinha uma caixa com lacinhos de organdi, que todas as suas alunas colocavam, enquanto estavam na escola, para que todas estivessem bonitas.

Lúcia Serralheiro escreveu a sua biografia para o Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), Livros Horizonte, 2005, sendo alguns dos elementos aqui mencionados retirados dessa importante entrada.

Em 2011, Lúcia Serralheiro editou Mulheres em Grupo Contra a Corrente [Rio Tinto, Edições Evolua, 2011], livro centrado na história da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e onde Irene de Castro foi figura central.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

[0695.] NATALINA BASTOS [I]

* NATALINA MORA PEREIRA BASTOS *
[1914-2011]
[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em grupo contra a corrente, 2011]
Professora, terá nascido no Porto a 26 de Julho de 1914 [e não em 1915] e faleceu, na mesma cidade, a 1 de Agosto de 2011. 

Colaboradora da revista portuense Pensamento, subscreveu, em 1934, com com Aida Mesquita, Antónia Girão Azuaga Santos, Berta Neves, Cândida Bastos, Cecília Moreira, Claudina Martins, Ema Rosine Cunha, Henriqueta Mesquita, Laura Neves de Castro, Leopoldina Mesquita, Maria Clarisse Bastos, Maria Lucena e Maria Silva, o manifesto O dia do Armistício, distribuído profusamente no Porto e noutras terras do país. 

Presa em 14 de Maio de 1935 pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado do Porto, acusada de ter escrito e enviado “ao arguido João Dinis Cupertino de Miranda, uns versos que estão junto aos autos e em que demonstra claramente as suas ideias avançadas”, foi restituída à liberdade na mesma data.

Segundo Amadeu Gonçalves, no blogue Literatura e Filosofia, Natalina Bastos integrava então grupo “Jovens Liras”, composto por colaboradores da revista Pensamento, entre os quais João Dinis Cupertino de Miranda [1911-1993], com quem terá casado, tendo editado nesse ano o livro colectivo de poemas O nosso eu [Porto, Edições Pensamento, 1935]. Natalina Bastos era a "Lira de Oiro" e assinava com o pseudónimo Jodinal, enquanto aquele era a "Lira Irreverente" e tinha o pseudónimo Kupertinu. Do mesmo grupo, entre outros, fazia parte Armando Bacelar [1918-1998] (a "Lira Indómita") e Maria Clarisse, outra das subscritores do manifesto pacifista.

Novamente presa a 29 de Janeiro de 1937 e solta em 9 de Fevereiro.

Nos anos 40, participou no núcleo do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz (AFPP) e fez parte, enquanto 1.ª Vogal, da Direcção eleita para o ano de 1943-1944. 

Sócia, com o número 11969,  da Associação de Solidariedade Social dos Professores.

Lúcia Serralheiro, no livro dedicado àquela delegação, insere a fotografia aqui publicada de Natalina Pereira Bastos [Mulheres em Grupo Contra a Corrente, Rio Tinto, Evolua Edições, 2011] e Feminae. Dicionário Contemporâneo contém uma entrada dedicada a esta professora [Lisboa, Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2013].

[João Esteves]

quinta-feira, 26 de junho de 2014

[0694.] GLÓRIA MARREIROS [II]


- GLÓRIA MARIA MARREIROS DA CUNHA -
[26.08.1929]
[25.04.2014]

- Natural de Marmelete, Monchique.

- Estudou enfermagem na Escola Artur Ravara, em Lisboa, e enfermagem  psiquiátrica na escola do Hospital Psiquiátrico Sobral Cid,  em Coimbra, cidade onde, simultâneamente, fez, em 2 anos, o curso de Parteira na Faculdade de Medicina, exercendo, entre 1954 e 1961, na Maternidade Alfredo da Costa.

- Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

- Pós-Graduação em Museologia Social na Universidade Lusófona.

- Participou na campanha presidencial de 1958, tendo então aderido ao Partido Comunista e integrado a Comissão de Assistência aos Presos Políticos e Famílias. 

- Foi uma das fundadoras do Movimento Democrático de Mulheres e candidata pela CDE (Comissão Democrática Eleitoral) nas eleições de 1969.

- Serviu de" ponto de apoio"  a antifascistas na clandestinidade e  quando se deu o 25 de Abril  encontrava-se na situação de "residência fixa no concelho de Lisboa", por ter assinado um documento contra o Marcelismo  e a Guerra Colonial .

- Várias vezes interrogada pela PIDE.

- Integrou, de Maio de 1974 até às primeiras eleições autárquicas, a Comissão Administrativa da Freguesia de S. Jorge de Arroios.

- Integra, entre outras associações, o MDM, a União dos Resistentes Antifascistas (URAP) e a Comissão para a Memória do Forte de Peniche.

- Autora de vasta obra, envolvendo vários géneros.

- Casada com o Engenheiro Henrique Luís Ramos Pereira da Cunha [20.09.1932-26.08.2010], resistente antifascista preso, em março de 1964, no Arsenal do Alfeite, só sendo libertado três anos depois, em junho de 1967, depois de ter "passado" pelo Aljube, Caxias e Peniche.

[2010]

[0693.] TRÊS IRMÃS: SOFIA, GEORGETTE E MERCEDES FERREIRA

[1922-2010]

[1925]

[1928]

quarta-feira, 25 de junho de 2014

[0692.] LUÍSA RODRIGUES [II]


- LUÍSA RODRIGUES [1903-1961] -
- BIOGRAFIA PRISIONAL
[Comissão do Livro Negro Sobre o Regime Fascista, Presos políticos no regime fascista II - 1936-1939, 1982]

[0691.] LUÍSA RODRIGUES [I]

* LUÍSA RODRIGUES [1903-1960] *
[Desenho de António Domingues, in José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal – Uma Biografia Política – O Prisioneiro (1949-1960), Vol. 3, Lisboa, Temas e Debates, 2005]

Operária, nasceu em Lisboa no ano de 1903.

Militante comunista nas décadas de 1930, 1940 e 1950. 

Presa pela primeira vez a 21 de novembro de 1936, acusada “de fazer propaganda subversiva e haver a suspeita de ter distribuído panfletos clandestinos nas oficinas da fábrica onde trabalha”, sendo “conhecida como pessoa de ideias avançadas, chegando a cantar a Internacional e mais versos comunistas, na oficina onde é operária”. 

Foi libertada quase cinco meses depois, a 12 de abril de 1937. 

Ter-se-á tornado funcionária do Partido Comunista por volta de 1942 [José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal – Uma Biografia Política, Vol. 2, Lisboa, Temas e Debates, 2001, p. 640]. 

Escassos anos depois, era companheira de casa de Manuel dos Santos, operário comunista conhecido pelo “pequeno Dimitrov” [03/02/1914-25/10/1947], condenado nos anos 30 a 22 anos de prisão e fugido do Limoeiro em setembro de 1944, após 12 anos em várias prisões, morrendo na clandestinidade com apenas 33 anos. 

Novamente presa em 10 de fevereiro de 1949, em Macinhata do Vouga, Sever do Vouga, na casa clandestina que partilhava com Militão Bessa Ribeiro [13/08/1896-02/01/1950], tendo este escapado por poucos dias. 

Levada para a sede da PIDE do Porto, recusou prestar quaisquer informações. Um mês depois, assistiu à chegada às mesmas instalações de Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira, tendo os seus constantes gritos contribuído para que se soubesse daquelas prisões. 

Devido ao grave estado de saúde, a PIDE acabou por a libertar sem processo, tendo o número de setembro do jornal Avante! denunciado que foi torturada até à loucura. 

Morreu a 1 de dezembro de 1960, com 57 anos de idade. 

Referenciando-a como companheira de Militão Ribeiro, o Avante! de janeiro de 1961 sublinhou que o assassinato do companheiro pela PIDE e a saúde fortemente abalada pela prisão, martirizou toda a sua existência [Avante!, n.º 296].

António Domingues assinou, em 1954, um desenho onde a retratou com um ar acusador e o braço esquerdo levantado, tendo umas grilhetas quebradas na mão, o qual foi publicado por Pacheco Pereira no III volume dedicado à biografia política de Álvaro Cunhal.

Feminae - Dicionário Contemporâneo, editado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, inseriu uma biografia mais desenvolvida de Luísa Rodrigues.

[João Esteves]

terça-feira, 24 de junho de 2014

[0690.] MARIA LUÍSA COSTA DIAS [VI]


[1916-1975]
[in Movimento Democrático de Mulheres (MDM), Toponímia no Feminino na Região de Setúbal, 2013]

[0689.] MARIA LUÍSA COSTA DIAS [V] || PEDRO E LUÍSA - MORRER ANTES DO FIM

* PEDRO E LUÍSA - MORRER ANTES DO FIM *
[JUNHO DE 1975]

Pedro e Luísa, morrer antes do fim
[Pedro e Luísa: morrer antes do fim || Texto: Nuno Gomes dos Santos || Fotos: José Tavares || edições dêágâ || Junho de 1975]

[informação via Margarida Castro]

segunda-feira, 23 de junho de 2014

[0688.] MARGARIDA TAVARES FERNANDES ERVEDOSO [II]

- BIOGRAFIA PRISIONAL -
[Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, Presos Políticos no Regime Fascista II – 1936-1939, 1982]

[0687.] MARGARIDA TAVARES FERNANDES ERVEDOSO [I] || CASADA COM GABRIEL PEDRO, MÃE DE EDMUNDO PEDRO - MILITANTE COMUNISTA

* MARGARIDA TAVARES FERNANDES ERVEDOSO *

[in Edmundo Pedro || Memórias. Um combate pela liberdade || Âncora Editora || 2007]

Nasceu em 1903, em Alcochete. 

Iniciou muito nova a sua vida afectiva e política: aos 14 anos ligou-se a Gabriel Pedro [22/04/1898 - 1972], com quem casou aos 15, já mãe de Edmundo Pedro [08/11/1918 - 27/01/2018], nascendo, dois anos depois, João (1920-1935) e, por fim, Germano Tavares Pedro

Margarida Ervedoso manteve, nos anos 30, intensa actividade política no Partido Comunista Português e chegou a ser um dos seus primeiros funcionários permanentes. 

Em 1928, terá acompanhado o marido, deportado para a Guiné.

Em 1931, radicou-se com o marido e o filho João em Sevilha. Aderiram ao Partido Comunista Espanhol e participaram activamente os três no IV Congresso realizado naquela cidade.

Margarida Tavares, “então com 28 anos, também usou da palavra em nome da organização comunista das mulheres portuguesas”, por sinal inexistente [Edmundo Pedro, pp. 27 e 68]. 

Na sequência deste episódio, marido e mulher foram convidados pela direcção do PCP a ingressar nele “e regressarem clandestinamente a Portugal para se dedicarem, a tempo inteiro, à actividade partidária” [EP, p. 69], tornando-se funcionários políticos em 1932. 

Segundo as Memórias de Edmundo Pedro, a mãe aderiu totalmente às novas ideias e actividades e a família instalou-se em Lisboa, “com nomes fictícios, numa casa alugada pelo Partido, na Rua S. Sebastião da Pedreira” [EP, p. 69], transformada em sede central do PCP. Aí se reuniam os principais dirigentes, nomeadamente Alfredo Caldeira, Bento Gonçalves, Francisco de Paula Oliveira (Pavel) e José de Sousa, e editava-se a imprensa clandestina, como o Avante! e o Militante

Pavel refugiou-se nessa casa aquando da fuga do sanatório da Ajuda, em 1933. 

No Verão desse ano, enquanto funcionária do partido, Margarida Tavares deslocou-se a Sevilha e foi detida no regresso, na fronteira. 

Em 21 de Setembro de 1933 deu entrada na Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado

Submetida a interrogatórios, negou tudo, foi enviada para a Cadeia das Mónicas e o processo seguiu, em 12 de Outubro de 1933, para julgamento no Tribunal Militar Especial. Em Janeiro de 1934, a mãe e Edmundo Pedro, ambos detidos, encontraram-se na prisão do Governo Civil, a que se juntaria pouco tempo depois o pai. 

Pedro Batista da Rocha, activista da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas na década de 30 conta, no livro Escrito Com Paixão, como se cruzou com Margarida na sede da Polícia de Informações, estando ambos então presos [Pedro Rocha, p. 83], evocando “que em Espanha havia conhecido La Pasionaria no início da sua carreira revolucionária” e “era militante da secção feminina do Partido Comunista Português” [p. 84]. 

Margarida Tavares não chegou a ser julgada, ao contrário do marido e filho, voltou a ser transferida para a Cadeia das Mónicas e libertada alguns meses após a sua detenção, em maio. 

Passou a visitar o filho e marido no Aljube, onde, durante as conversas através do parlatório, acordou-se no divórcio perante a perspectiva da condenação daquele por muito tempo e na sequência da deportação para Angra do Heroísmo, para onde seguiu em 8 de Setembro de 1934. 

Retomou a actividade política no Partido Comunista, funcionando quase como secretária de Bento Gonçalves, que a encarregava “do desempenho de tarefas semilegais inerentes à sua actividade de secretário-geral do Partido” [EP, p. 235, nota 38], e refez a sua vida com Afonso Silva, guarda-livros, deportado nos Açores que regressara havia meses: conheceu-o “no âmbito da actividade partidária” e “essa ligação manteve-se enquanto ambos foram vivos” [EP, p. 257]. 

Em maio de 1935, morreu, com 14 anos, o filho do meio, em consequência de violenta agressão após uma acção política realizada na Escola Fonseca Benevides, e nesse mesmo ano, com a detenção de Bento Gonçalves, “separou-se definitivamente do PCP” [EP, p. 349]. 

No primeiro volume das Memórias de Edmundo Pedro é inserida uma fotografia de Margarida Tavares Fernandes Ervedoso com cerca de 60 anos [EP, p. 130].

Foi inserida uma biografia mais desenvolvida em Feminae. Dicionário Contemporâneo [CIG, 2013]

[João Esteves]
[alterado em 11/02/2023]

domingo, 22 de junho de 2014

[0686.] NAZARÉ PATACÃO [II]


[n. 1924]
[Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, Presos Políticos no Regime Fascista IV – 1946-1948, 1985]

[0685.] NAZARÉ PATACÃO [I]


- Maria da Nazaré Ferreira Patacão -
[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em grupo contra a corrente, 2011]

- Licenciada em Físico-Química. 

- Filha de Maria das Dores Vilar e de Domingos Ferreira Patacão, nasceu a 16 de julho de 1924 em Aveiro, cidade onde teve contactos com a Associação Feminina Portuguesa para a Paz e se tornou sua sócia de província. 

- Prosseguiu os estudos universitários no Porto, onde era a sócia n.º 242 da Delegação da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e pertenceu ao MUD Juvenil, em nome do qual assinou vários comunicados aos estudantes portuenses. 

- A sua prisão pela PIDE, em meados de 1947, suscitou os protestos de Ruy Luís Gomes [1905-1984] que acabou também por ser detido e foi a causa imediata da sua expulsão da Universidade por ter dirigido uma carta ao diretor da Faculdade [entrevista de Ruy Luís Gomes à revista Flama a 24 de maio de 1974]. 

- Esteve presa alguns meses no Forte de Caxias e foi proibida de exercer a profissão. 

- Casada com o engenheiro António Soares, um dos autores que desenhou, com Jorge Delgado, o Palácio de Cristal.


[João Esteves]

[0684.] MARIA LUÍSA BASTOS [I] || 1921 - 2006

* MARIA LUÍSA COSTA SILVA BASTOS *
[08/07/1921 - 12/06/2006]
[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em grupo contra a corrente, 2011]

Filha de Ermelinda Costa Silva Bastos e de Daniel da Silva Bastos, republicano convicto e amigo de Manuel de Arriaga, Diretor de Alfândega em Goa, nasceu a 8 de julho de 1921, em Caranzalém, e faleceu em Lisboa a 12 de junho de 2006.

Aprendeu a ler por si própria e fez os primeiros estudos em Goa, tendo sido a primeira criança europeia do sexo feminino a frequentar a Escola Primária Massano de Amorim.

Em Goa, completou os estudos no Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, cujo reitor, professor de matemática, era o seu padrinho. 

Em 1938, terminado o liceu, partiu para Lisboa, onde se inscreveu no Curso de Românicas da Faculdade de Letras, residindo em Campo de Ourique.

Foi colega de Faculdade de Maria Lucília Estanco Louro e, nessa altura, aderiu à Associação Feminina Portuguesa para a Paz, onde desempenhou o cargo de 2.ª vogal do conselho fiscal no ano de 1944-1945, presidido por Glaphira Vieira de Lemos. Maria Palmira Tito de Morais era a presidente da Direção e Maria Letícia Clemente da Silva a presidente da Assembleia Geral. 

Em 1946-1947 foi 1.ª Secretária da Direção, presidida por Maria da Conceição M. do Valle. Maria Isabel Aboim Inglês era a presidente da Assembleia Geral e Maria Valentina Trigo de Sousa do Conselho Fiscal. 

Concluído o curso, por não ter assinado o decreto 27.103, foi-lhe retirado o diploma de professora oficial e particular, tendo trabalhado sempre no Liceu Francês Charles Lepierre. 

Foi casada com Jaime Pereira Gomes, irmão de Joaquim Soeiro Pereira Gomes.

Lúcia Serralheiro estudou-a na sua Tese de Mestrado, editada com o título Mulheres em Grupo Contra a Corrente [Evolua Edições, 2011] e fez uma biografia desenvolvida para Feminae. Dicionário Contemporâneo [Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2013].

[João Esteves]

sábado, 21 de junho de 2014

[0683.] ALBERTO FERREIRA [IV]

"O Mestre Alberto Ferreira e a Turma do Liceu Camões"

- Um texto de Cecília Cunha sobre Alberto Ferreira nos cem anos do Liceu Camões -

[0682.] ALBERTO FERREIRA [III]


[0681.] ALBERTO FERREIRA [II]

 [1920-2000]

[1998]

[0680.] ALBERTO FERREIRA [I]

[05.10.1920-10.12.2000]

Um resistente e um Homem íntegro, injustamente esquecido, que comecei por conhecer enquanto ímpar professor e pedagogo no Liceu Camões, depois do 25 de Abril, sempre pronto a conviver com os mais novos e a ouvi-los, em sala de aula ou em voltas incessantes pelo pátio, mesmo com aqueles que não eram seus alunos (como era o meu caso). 

Reencontrei-o, depois, em casa dos meus pais. A ele e à Maria José Marinho, pois a filha, também Maria José Marinho, já a conhecia.

Mas foi na Faculdade de Letras e na Biblioteca Nacional, durante a década de 1980, que mais contatámos e conversámos, convidando-me, sempre que nos cruzávamos, para a sua mesa, a que se juntavam, não raras vezes, entre outros, os professores José Tengarrinha e Manuel Ferreira. 

Afetuoso, sensível, excelente ouvinte e, simultaneamente, um contador de histórias e de História que a todos prendia, dotado de uma cultura vastíssima, muito contribuiu para a minha formação enquanto cidadão interessado pela História e Histórias, interpelando, com interesse genuíno, o estado dos meus trabalhos.

[0679.] MARIA CLEMENTINA VENTURA [II]



[Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, Presos Políticos no Regime Fascista IV – 1946-1948, 1985]

[0678.] MARIA CLEMENTINA VENTURA [I]


[25.05.1948]
- Irmã de Cândida Margarida Ventura e de Joaquim Pires Ventura, companheiros de militância no Partido Comunista Português nos anos da luta clandestina, nasceu em Lourenço Marques a 19 de junho de 1917. 

- Presa por motivos políticos em Monchique a 24 de Maio de 1948, recolheu ao Forte de Caxias. Tornou a ser detida em 28 de Março de 1950 e a recolher à mesma prisão.

Militou, no início da década de 50, na Associação Feminina Portuguesa para a Paz, tendo sido convidada para integrar a sua Direção (dezembro de 1951).

- Casada com o escritor, advogado e militante Manuel Campos Lima [1916-1996], último diretor do jornal O Diabo.

[João Esteves]

[0677.] CÂNDIDA VENTURA [II]


- BIOGRAFIA PRISIONAL -
[Comissão do Livro Negro Sobre o Regime Fascista, Presos políticos no regime fascista VI (1952-1960), 1988, pp. 566-567]

sexta-feira, 20 de junho de 2014

[0676.] MANUEL LOUZÃ HENRIQUES [I]

* MANUEL LOUZÃ HENRIQUES - ALGURES COM MEU(S) IRMÃO(S) *

|| POR: MARIA MANUELA CRUZEIRO E TERESA CARREIRO ||
Edição Lápis de Memórias

[0675.] MARIA LUCÍLIA ESTANCO LOURO [II]



[0674.] MARIA LUCÍLIA ESTANCO LOURO [I]



Professora.

Militante da Associação Feminina Portuguesa para a Paz entre 1940 e 1944, tendo sido sua Secretária durante três anos, numa altura em que era Presidente Cândida Madeira Pinto e tinham cargos directivos Maria Alice Lamy, Stella Fiadeiro e Maria Helena Pulido Valente, sendo muito ativas Cândida Gaspar, Maria Luísa Bastos, Joana Campina e Cândida Ventura

Com Cândida Ventura, colega da Faculdade de Letras de Lisboa, colaborou na mobilização de artistas, escritores, actores e poetas para colaborarem nas sessões culturais e pacifistas que a AFPP promovia. 

Na sede da Associação, na Rua D. Pedro V, ao Príncipe Real, organizavam pequenos pacotes com cigarros e géneros que mandavam, em colaboração com o Socorro Vermelho Internacional, para os prisioneiros nos campos de concentração. 

Ainda no âmbito das actividades da AFPP, no dia 9 de abril, data da Batalha de La Lys, costumavam, depositar ramos de flores no monumento aos mortos da Grande Guerra. 

Participou, no início da década de 1940, nos passeios de barco  culturais e políticas realizados no rio Tejo, sendo, com Cândida Ventura, uma das duas únicas sobreviventes [sobre eles consultar http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/]. 

Posteriormente, já professora do Liceu, apoiou a campanha de Humberto Delgado; subscreveu as listas da Oposição Democrática; foi “compagnon de route” do Partido Comunista Português desde 1940 e filiada desde os anos setenta; tornou-se sócia da Associação de Amizade Portugal-Cuba; e pertence ao Conselho Português para a Paz e Cooperação. 

O seu empenhamento profissional (pedagógico-didático) não é menos intenso e relevante. Licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1944, a sua tese, intitulada Paul Gauguin visto à luz da Caracterologia - Vida e Obra suscitou polémica visto ser então a primeira a versar sobre Arte, considerada então uma parente pobre da História. 

Em 1948, fez Exame de Estado no Liceu Pedro Nunes com a tese Filosofia - Valores Éticos e Estéticos.

Lecionou nos Liceus de Faro, Beja, Évora, Oeiras, Lisboa (D. Leonor, D. João de Castro, Passos Manuel e Pedro Nunes) e na Escola do Magistério Primário de Évora. 

Orientadora de Estágios Pedagógicos nos Liceus de Oeiras, Pedro Nunes e Passos Manuel, entre 1973 e 1976. 

Participou nos Colóquios de História e de Filosofia realizados em 1959, no Liceu Pedro Nunes, sob a égide do Reitor Francisco Dias Agudo, que pela ousadia da sua promoção e pela categoria dos intervenientes (Professores Delfim Santos, Vieira de Almeida, Rui Grácio, Joel Serrão) representavam então uma luta pela actualização e dignificação dos conteúdos pedagógicos e informativos dos ramos abrangidos. 

Dentro do mesmo combate ao ensino orientado pelo Estado Novo e veiculado pelos compêndios fascizantes, participou nas reuniões de professores progressistas, realizadas um tanto clandestinamente na Escola Francisco Arruda sob a direcção do Professor Calvet de Magalhães; frequentou os Cursos de Aperfeiçoamento Profissional orientados pelo Professor Rui Grácio no Sindicato dos Professores; e cursou, em 1975, o 10.º Curso de Pós-Graduação em História de Arte, instituído pelo Professor José Augusto França na Universidade Nova de Lisboa. 

Após o 25 de Abril, interveio activamente, com muitos outros docentes [José Magno, Maria de Lurdes Ribeiro, Hardisson Pereira, João Cruz, Maria Eugénia Bráulia Reis, Ana Leal de Faria, Margarida Matos...], numa Comissão presidida por Maria Emília Diniz com o intuito de acabar com os velhos programas e actualizá-los com tudo o que tinha ocorrido na investigação e na metodologia. 

Estes novos programas foram divulgados em cadernos de apoio editados pelo Ministério da Educação, substituindo os antigos compêndios do 6.° e 7.° anos. Coube a Maria Lucília Estanco Louro fazer o tema Humanismo e Experimentalismo na Cultura do século XVI e, em coautoria com João Cruz, A Arte Portuguesa nos Séculos XIX e XX, não tendo este último fascículo chegado a ser publicado, porque entretanto estes programas, julgados demasiadamente revolucionários, foram abolidos. 

Realizou inúmeras palestras, participou em colóquios, escreveu artigos e colaborou em publicações. 

Redigiu várias entradas no Dicionário de História de Portugal, dirigido pelo Professor Joel Serrão, e a convite deste. 

Dos muitos escritos dispersos, é de mencionar “O Jovem Piteira” [Fernando Piteira Santos], publicado no Jornal de Letras, por se referir a “alguém cuja inteligência, sólida formação cultural (especialmente política) e fulgurante lucidez e poder de comunicação marcaram os jovens da minha geração, seus colegas na Faculdade de Letras de Lisboa nos anos 40” e que integrava “Barradas de Carvalho, Rute Arons, Olívia Cunha Leal, Rui Grácio, Joel Serrão, Joana Campina, Eunice Oliveira, Jorge Borges de Macedo, Francisco Morais Janeiro, Mário Faria, Nataniel Costa, Tony Nogueira Santos e eu própria, Maria Lucília”. 

A competência, profissionalismo, dedicação e intervenção cívica de Maria Lucília Estanco Louro, quer sob condições políticas adversas, quer após a Revolução de Abril,  podem ser testemunhados pelos seus antigos alunos, muitos dos quais tornadas figuras públicas, entre os quais se contam: Ana Maria Magalhães; António Damásio; António Torrado; Diogo Freitas do Amaral; Guilherme de Oliveira Martins; Joaquim Benite; Joaquim Letria; Joel Hasse Ferreira; Jorge Martins; José Meco; José Viana da Mota Brandão, Maria Beatriz Ruivo; Miriam Halpern Pereira; Maria Ângela de Sousa; Maria José Moura; Mário Vieira de Carvalho; Norberto Barroca; Rui Vieira Nery.

Pertence a uma geração única que dedicou décadas da sua vida na luta contra a ditadura e, coerentemente, continua, dentro das suas possibilidades, a manifestar o mesmo empenho político e cívico. 

Existe uma entrada mais completa sobre Maria Lucília Estanco Louro em Feminae. Dicionário Contemporâneo [Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2013].

[João Esteves]

[0673.] CÂNDIDA VENTURA [I]


- Cândida Margarida Ventura -
[n. 30.06.1918]

- Nasceu em Moçambique, na então cidade de Lourenço Marques, a 30 de Junho de 1918, filha de António Ventura, funcionário dos caminhos-de-ferro, e de Clementina de Deus Franco Pires Ventura, mas cresceu nas Caldas de Monchique, no Algarve. 

- As influências do pai, então funcionário da administração das termas de Monchique que “inculcou nos filhos o amor pela natureza, doando-nos a rectidão do seu carácter, a sua bondade, a compreensão, o diálogo e o respeito pelos outros como base das relações humanas” [O Socialismo que eu vivi, p. 21], e dos seus amigos, entre os quais se contavam o Dr. Rui Teles Palhinha e o poeta algarvio Francisco Xavier Cândido Guerreiro [1872-1953], marcaram a maneira de ser e de pensar de Cândida Ventura, estimulando-lhe o interesse pela História e pela Filosofia, para além da política. 

- Como a mãe era professora primária, em 1929, com 11 anos, partiu para Lisboa e ficou no Instituto do Professorado Primário, fundado e dirigido pela pedagoga Amália Luazes [1865-1938]. 

- Estudou no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, ainda no Largo do Carmo, onde “foi de grande importância para mim a influência de professoras como Ema de Oliveira, Olímpia Bastos, Margarida Pinto, Seomara da Costa Primo (assistente do Dr. Rui Teles Palhinha)” [idem, p. 22].

- Em 1936 matriculou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conviveu, entre outros nomes, com Mário Dionísio [16/07/1916-17/11/1993], Vasco Magalhães-Vilhena [1916-1993] e Fernando Piteira Santos [23/01/1918-28/09/1992], com quem se casou muito nova. 

- No meio académico, marcado pelos acontecimentos trágicos da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), iniciou a sua vida política e, tal como os dois irmãos, Joaquim Pires Ventura e Maria Clementina Ventura Campos Lima [n. 19/06/1917], aderiu ao Partido Comunista Português, numa militância activa que perdurou por quatro décadas, até Agosto de 1976, desempenhando, de forma continuada, funções políticas relevantes. 

- Pertenceu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas – trabalhou com Álvaro Cunhal [1913-2005], cinco anos mais velho, em 1937-1938.

- Integrou o Bloco Académico Antifascista (BAAF), organização ilegal e clandestina criada em finais de 1935 que visava combater o fascismo e o governo salazarista.

- Foi a responsável do Socorro Vermelho Internacional na sua Faculdade.

- Integrou a Associação Feminina Portuguesa para a Paz e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. 

- Fez parte da redacção do jornal O Diabo, participou, com outros jovens intelectuais e activistas, nos passeios de barco pelo rio Tejo de características culturais e políticas, realizados nos anos de transição da década de 30 para a de 40, e apoiou, em 1940-1941, os reorganizadores do Partido Comunista Português. 

- Em 1943, no mesmo ano em que concluiu o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra e teve papel de destaque na preparação e orientação das greves do calçado de S. João da Madeira, ocorridas em Agosto, passou à clandestinidade por proposta de José Gregório [19.03.1908-1961], tornando-se na primeira mulher com funções directivas após a reorganização.

- Sucedeu a Joaquim Pires Jorge [1907-1984] enquanto responsável do PCP na zona Norte e, como tal, chegou a viver nas casas do Porto de Nina Perdigão [Tomázia Josefina Henriques Perdigão, 02.05.1902-1988] e de Alexandre Babo, que já a conhecia desde os tempos do BAAF e a considerava “para a nossa geração uma referência determinante, quase um mito, ligado à sua luta, à sua coragem e até à sua beleza” [Alexandre Babo, Recordações de um caminheiro, Lisboa, Escritor, 1993]. 

- Participou na reunião ampliada do Comité Central realizada, em Maio de 1945, na Casa da Granja; interveio no II Congresso Ilegal, realizado numa casa da Lousã em Julho de 1946, onde passou a integrar, como suplente (1946) e depois como efectiva (1957), o Comité Central, apesar de em Março de 1954, na sua V Reunião Ampliada, ter sido acusada de actividade fracionária, suspensa e readmitida em 1956.

- Desenvolveu tarefas na organização operária de Lisboa, foi a responsável pela criação do boletim 3 Páginas, órgão especificamente dedicado às mulheres clandestinas das casas do Partido, e em Abril de 1958 saiu ilegalmente do país para visitar a União Soviética. 

- Presa a 3 de Agosto de 1960, ao fim de 18 anos de vivência clandestina no país, recolheu ao Forte de Caxias. 

- Julgada pelo Tribunal Plenário de Lisboa a 13 de Maio de 1961, foi condenada a cinco anos de prisão maior, suspensão de direitos políticos por 15 anos e medida de segurança de internamento, indeterminado, de seis meses a seis anos.

- Libertada, por questões de saúde, a 11 de Julho de 1963, partiu em 1964 para o estrangeiro e retomou a actividade política. 

- A partir de 1965, viveu na Checoslováquia enquanto representante do Comité Central naquele país e na Revista Internacional, sob o nome de Catarina Mendes. Aí acompanhou por dentro os acontecimentos relacionados com a “Primavera de Praga” e viu a filha Rosa juntar-se-lhe em 1969, quando tinha dezassete anos. 

- Regressou a Portugal ao fim de dez anos, no início de 1975, e no ano seguinte consumou a ruptura com o Partido de décadas.

- Usou os pseudónimos “Joana”, “André”, “Maria” e “Catarina Mendes” e colaborou no Avante!

- Após afastamento do PCP, manteve intervenção política e cívica noutros quadrantes político-partidários e trabalhou como professora e funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros antes de voltar ao seu Algarve e fixar residência em Portimão. 

- Escreveu, em 1984, o livro O Socialismo que eu vivi. Testemunho de uma ex-dirigente do PCP, com Prefácio de Artur London [1915-1986], com apontamentos memorialistas em que é privilegiado o período posterior a 1968 em detrimento da riquíssima militância anterior. 

- Rose Nery Nobre de Melo inseriu a sua “Biografia Prisional” no livro Mulheres Portuguesas na Resistência

- Mário Dionísio lembrou-a, enquanto “Joana de olhos claros”, em Balada dos Amigos Separados

- Pacheco Pereira, na trilogia dedicada à biografia política de Álvaro Cunhal, inseriu fotografias suas, nomeadamente uma num dos passeios de barco pelo rio Tejo.

[JE]