[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 29 de junho de 2018

[1838.] JOSÉ MANUEL TENGARRINHA [V]

* JOSÉ MANUEL TENGARRINHA (1932 - 2018) *



José Tengarrinha foi um dos escassos Professores dignos desse título que tive enquanto aluno de História da Faculdade de Letras.

As aulas de “História de Portugal (Séculos XVIII-XX)”, com o trabalho de equipa em torno de “A base social do liberalismo na Revolução burguesa de 1820 a 1834”, e o Seminário de Opção “Greves Operárias em Portugal no Século XX”, com dezenas de milhares de páginas lidas e/ou folheadas referentes ao período entre 1870 e 1890, fizeram-me acreditar que, afinal, estava no Curso certo.

O projecto colectivo do levantamento das Greves em Portugal nos Séculos XIX e XX, pioneiro e muito influenciado pelo estudo de Michelle Perrot "Les Ouvriers en grève: France 1871-1890", datado de 1973, era inovador e fascinante, tendo proporcionado a catalogação exaustiva de muitas centenas de paralisações até então desconhecidas.

Com o Professor Tengarrinha, aprendi a arte metódica de saber ler, interpretar e citar com rigor (jornal, número, data, título da notícia, página, coluna) a imprensa periódica.

Temporariamente seu Monitor, conversámos muito, com frequência na Biblioteca Nacional e, raras vezes, na sua casa do Estoril. Num tempo de grande proximidade, em que se aprendia com o que se escutava dos outros.

Em 1984, presenciei a tentativa, frustrada, de o sanear, meticulosamente planeada por quem julgava que se tratava do elo mais fraco de um conjunto de Professores que urgia afastar do corpo docente de História.

Então, perante professores e assistentes coniventes ou receosos de reagir junto dos novos poderes emergentes, os alunos e ex-alunos foram inexcedíveis e souberam lutar pela permanência do professor Tengarrinha na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: movimentaram-se, denunciaram o caso, intervieram junto dos órgãos directivos, recorreram à comunicação social (jornais, rádio e televisão) e fizeram greve(s). Não se calaram, tendo alguns dos protagonistas desses dias sido seriamente prejudicados enquanto estudantes e nas carreiras académicas.

Dez anos depois, José Tengarrinha voltava a entrar na Faculdade de Letras através dos seus alunos!

No dia da sua partida, num desenlace esperado, fica a delicadeza de trato, a capacidade de escutar, a amabilidade, o saber e a amizade, mesmo que só nos reencontrássemos muito esporadicamente.

E fica, também, a sua duradoura luta antifascista, só sendo libertado com o 25 de Abril de 1974, o trabalho político desenvolvido com o MDP/CDE e a renovação da historiografia, com estudos incontornáveis na área da Imprensa e dos Movimentos Sociais.

Até sempre, Professor Tengarrinha!

[João Esteves]

[1837.] JAIME DA FONSECA E SOUSA [I] || A MORTE NO TARRAFAL (1902 - 1940)

* JAIME DA FONSECA E SOUSA (1902 - 1940) || A CRUELDADE IMPUNE OU A MORTE DELIBERADA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL *

Jaime da Fonseca e Sousa foi um dos muitos presos políticos a quem foi aplicada a máxima de "Quem vem para o Tarrafal vem para morrer!", sendo por isso conhecido pelo "Campo da Morte Lenta". 

[Jaime da Fonseca e Sousa || ANTT || RGP/74]

Com graves problemas hepáticos, tendo já sido operado de urgência ao fígado quando deportado em Angra do Heroísmo, mesmo assim foi enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde morreu ao fim de quase quatro anos. 

A crueldade das autoridades policiais e militares do fascismo português sobressai nos tormentos deliberadamente infligidos a Jaime da Fonseca e Sousa, apesar das diferentes diligências e súplicas da sua mãe, levando-os ao seu falecimento precoce.

Filho de Felisbela de Jesus Rodrigues e de Artur da Fonseca Sousa, Jaime da Fonseca e Sousa nasceu em 1902, em Tondela.

Impressor da Casa da Moeda, a viver no Ginjal - Cacilhas, seria o filiado 130 da Célula 19 do Comité de Zona Nº 1 do Partido Comunista, organismo a que também pertencia Abel Augusto Gomes de Abreu e António Franco Trindade, ambos colegas de trabalho.

No âmbito do trabalho partidário, desenvolvido em conjunto com aqueles dois, Álvaro Augusto Ferreira, Eleutério Lopes Grosso (caixeiro numa taberna da Calçada da Bica), Jaime Tiago e Manuel Francisco da Silva ("O Manuel Pedreiro" que faleceu em 24 de Agosto de 1941, quando detido na Fortaleza de Angra do Heroísmo) [RGP/138], guardava em sua casa "todo o material de que dispunha o Comité Central das Brigadas de Choque (Comité Revolucionário)", nomeadamente "material para fabrico de bombas e [...] bombas já feitas", "dinamite, rastilho, espoletas e balas de espingarda", "bombas de maçaneta" e "antimónio" [ANTT, Cadastro Político 5406].

Na sequência das detenções feitas em 24 de Abril de 1932, na Serra de Monsanto, quando muitos dos seus camaradas assistiam à demonstração e preparação de lançamento de bombas, Jaime da Fonseca e Sousa foi preso na tarde no dia a seguir, no seu local de trabalho.

Considerado "um elemento desembaraçado que procedeu consciente e perfeitamente integrado na política revolucionária do Partido comunista" [Processo 452/SPS], foi determinado, em 10 de Agosto, que lhe "seja fixada residência obrigatória em Cabo Verde ou Timor, sendo-lhe aplicado o decreto Nº 20314" [ANTT, Cadastro 5406].

Preso, durante 19 meses, na Penitenciária de Lisboa, passou para Peniche onde, em 19 de Novembro de 1933, embarcou para Angra do Heroísmo, a fim de ficar detido na Fortaleza de São João Baptista.

Julgado, em 24 de Agosto de 1934, pela Secção dos Açores do Tribunal Militar Especial, "acusado de, com outros co-réus, no ano de 1932, por diversas vezes, ter tomado parte no fabrico, transporte, detenção e uso, para experiência, de bombas explosivas, em Lisboa e arredores" e deter "numeroso material explosivo e bombas, que guardava em sua casa", foi condenado a doze anos de prisão no degredo e multa de vinte mil escudos, ficando à disposição do Governo [Processo 16/933, do TME].

Jaime Sousa interpôs recurso, mas o mesmo Tribunal, reunido em 30 de Agosto de 1934, manteve a sentença.

Em Janeiro de 1935, quando se encontrava internado no Hospital Militar de Angra do Heroísmo, requereu ao Ministério do Interior a sua transferência para um hospital de Lisboa, a fim de ser operado. Embora aquele tenha deferido o requerimento, o Ministério da Guerra não terá autorizado a sua deslocação para um hospital do continente. 

[Jaime da Fonseca e Sousa || ANTT || RGP/74]

Quatro meses depois, em 20 de Maio de 1935, quando ainda se encontrava no Hospital Militar de Angra, Jaime da Fonseca e Sousa foi operado de urgência ao fígado.

Nas anotações que constam do seu Registo Geral de Presos, e noutra documentação após o seu falecimento, é dado a entender que o preso não seguiu para Lisboa por a operação já ter sido feita em Angra do Heroísmo: no entanto, o pedido e autorização do ministro do Interior, bem como a solicitação ao Ministério da Guerra para promover o seu regresso ao Continente, datam de Janeiro de 1935, enquanto a intervenção cirúrgica só aconteceu em Maio!

Durante o ano de 1935, foi mantida regular troca de informações entre o Ministério do Interior, o da Guerra e a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, sendo que, em 24 de Junho, em Ofício Confidencial, o Ministério da Guerra informava que o preso, internado no Hospital Militar de Angra, estava em em condições de fazer qualquer viagem.

Em 15 de Julho de 1935, Jaime Sousa solicitou ao Ministro do Interior "que lhe seja dada por expiada a pena a que foi condenado pelo Tribunal Militar Especial, alegando, entre outros motivos, o da falta de saúde e o de ter dado a sua adesão à União Nacional, por declaração que foi enviada oficialmente pelo Comando Militar dos Açores ao Ministério do Interior" [Cadastro 5406].

Tal pretensão foi negada, em 14 de Agosto de 1935, ela PVDE e, em 23 de Outubro de 1936, Jaime da Fonseca e Sousa integrou a primeira leva de presos políticos que seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal.

[Jaime da Fonseca e Sousa || ANTT || RGP/74]

Em 28 de Julho de 1938, sua mãe enviou uma carta dactilografada ao ministro do Interior a solicitar a libertação do filho, assinando-a como Felisbela Rodrigues de Sousa.. Nela, invocava os 15 anos de trabalho na Casa da Moeda, "sempre com exemplar comportamento", atribuía a culpa de deter explosivos a um colega de trabalho, descrevia o seu estado de saúde, tendo sentido "os primeiros ataques de fígado no campo de concentração de Angra do Heroísmo" e, por fim, referia, que "está filiado na União Nacional, adesão que meu filho fez gostosamente quando para tal foi falado".

Nesta carta de súplica para que "restitua a uma pobre velha a alegria que há tanto perdeu", a mãe refere-se  a Angra do Heroísmo como um campo de concentração, o mesmo fazendo para "o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde", para onde o filho foi enviado e onde "vive no desesperante receio de uma biliosa, de que já teve sintomas, ou, o que é pior, da perniciosa" [Cadastro 5406, Carta ao ministro do Interior, datada de 28 de Julho de 1938].


Jaime da Fonseca e Sousa faleceu no Campo de Concentração do Tarrafal em 7 de Julho de 1940, quando teria 37 ou 38 anos de idade. 

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5406 [Jaime da Fonseca Sousa / PT-TT-PIDE-E-001-CX10_m0303, m0303a, m0303b, m0303c, m0303d, m0303e, m0303f, m0303g, m0303h, m0303i, m0303j, m0303k].
ANTT, Registo Geral de Presos / 74 [Jaime da Fonseca e Sousa / PT-TT-PIDE-E-10-1-74_c0162].

[João Esteves]

terça-feira, 19 de junho de 2018

[1836.] CAROLINA LOFF DA FONSECA [I] || 1911 - 1999

* CAROLINA LOFF DA FONSECA (1911 - 1999) || IMPORTANTE DIRIGENTE COMUNISTA NA DÉCADA DE 1930 || EXPULSA DO PARTIDO COMUNISTA POR ENVOLVIMENTO EMOCIONAL COM O INSPECTOR DA PVDE JÚLIO DE ALMEIDA *

O percurso político de Carolina Loff é um dos mais polémicos e intrigantes, já que destacada militante e dirigente comunista na década de 30, com passagens pela União Soviética e missões da Internacional Comunista na Espanha Republicana durante a Guerra Civil, envolveu-se emocionalmente, depois de ter sido presa pela segunda vez, em 1940, com o inspector da PVDE responsável pelo seu processo. 

Apesar de expulsa do Partido Comunista, está por apurar o seu real envolvimento com os serviços de espionagem soviética, já que se revelara um quadro ao serviço da Internacional Comunista com tarefas atribuídas em Espanha e Portugal e que continuou, depois disso, a entrar e sair da URSS com enorme facilidade. 

[Carolina Loff || 01/06/1940 || ANTT || PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 63, registo n e 12405 || PT/TT/PlDE/E/010/63/12405 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filha de Ida Loff Fonseca, "jovem destemida e moderna, de uma família abastada" [Anabela Natário, "Carolina Loff", Portuguesas com História - Século XX, Temas e Debates, 2008] nasceu em Cabo Verde (Praia, Santiago) em 12 de Novembro de 1911 e faleceu em 6 de Março de 1999, com 87 anos. 

O pai, Carlos Eugénio de Vasconcelos [1883 - 1928], seria natural da Madeira e os bisavós, "um ucraniano de apelido Loff e a belga Lídia Léger", emigraram para Cabo Verde em meados do século XIX, dando "início a um futuro próspero" [A. Natário].

Aos 15 anos partiu, com a mãe, para Lisboa e estudou no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, a funcionar no Largo do Carmo, onde concluiu o Curso Geral dos Liceus. 

Prima dos activistas comunistas Álvaro [1910 - 1975] e Dalila Duque da Fonseca [15/01/1911 - 1992], era, tal como aqueles, originária de Cabo Verde e dirigente da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas nos primórdios da década de 30, depois de ter aderido por intermédio de José Grácio Ribeiro, estudante de Direito mais tarde afastado e que enfileirou na União Nacional. 

Integrou a primeira célula feminina comunista, organizada por Wilma Freund, cedo se notabilizou pela dedicada militância e enquanto autora de parte dos artigos da imprensa da FJCP. 

[Carlos Luís Correia Matoso || 12/09/1931 || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Presa pela primeira vez em 6 de Setembro de 1932, quando estava grávida do seu companheiro Carlos Matoso e andava a colar propaganda. 

Passou pela Cadeia das Mónicas e, embora detida e sob vigilância da Polícia e Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), o parto ocorreu na Maternidade Bensaúde, onde a filha Helena nasceu em 1933. 

O companheiro Carlos Luís Correia Matoso [n. 15/07/1908], dirigente do Partido Comunista, não terá chegado a conhecer a filha Helena: julgado à revelia em 20 de Outubro de 1934 e condenado a 10 anos de degredo, foi preso em 11 de maio de 1938, passou sucessivamente por diversas esquadras, Cadeia do Aljube, Forte de Caxias e de Peniche, até ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde entrou em 20 de Junho de 1939. Solto em 20 de Dezembro de 1945, regressou em 10 de Janeiro de 1946 e emigrou para o Brasil, onde se suicidou “passado pouco tempo, em condições misteriosas” [Edmundo Pedro, Memórias. Um Combate pela Liberdade, I Volume, Âncora Editores, 2007]. 

Em Março de 1935, Carolina Loff partiu para a União Soviética com a bebé, a convite de Francisco Paula de Oliveira, frequentou a Escola Leninista, da Internacional Comunista, com o pseudónimo Ana Marta, e quando Bento Gonçalves e Álvaro Cunhal foram a Moscovo, nesse mesmo ano, reencontraram-na a trabalhar “como intérprete e tradutora nas edições em língua estrangeira” [José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal – Uma Biografia Política, Vol. 1 – “Daniel”, O Jovem Revolucionário (1913-1941), Lisboa, Temas e Debates, 1999], destinadas sobretudo ao Brasil. 

[Carolina Loff || 01/06/1940 || ANTT || PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 63, registo n 12405 || PT/TT/PlDE/E/010/63/12405 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Aí, lidou com alguns dos nomes importantes da Internacional Comunista que, em 1937, a enviaram para Espanha com a finalidade de montar uma emissora clandestina do Comintern para Portugal (mais conhecida por rádio do PCP) que passasse por funcionar em Lisboa e denunciasse o apoio do governo aos revoltosos espanhóis, o que sucedeu: a emissão “era feita a partir do próprio edifício da sede do PCE em Valência e transmitida pela Telefónica para Madrid”, fazendo quase tudo sozinha – “era a locutora e redigia grande parte do material que era transmitido”. Além disso, “lidava directamente com os mais altos responsáveis do PCE” e intervém "junto da comunidade portuguesa exilada em Espanha, informando sobre o seu comportamento político quer o PCE, quer os serviços de informação associados ao secretariado de Togliatti /«Alfredo»” [JPP, vol. 1], usando um passaporte belga em nome de Berthe Mouchet. 

Nesse ano de 1937, o seu nome surgiu como possibilidade para substituir Armando Magalhães em Paris, o quadro mais influente naquela cidade e em rota de colisão com as orientações de Francisco de Paula Oliveira, então o principal dirigente do PCP, numa tentativa de solucionar conflitos internos que se arrastavam sem solução a contento deste. 

Em 1938, fez parte da direcção da União Antifascista dos Portugueses Resistentes em Espanha, sediada em Madrid, trabalhou no Comité da Frente Popular em Barcelona e manteve-se naquele país até ao fim da Guerra Civil, tendo sido presa e torturada pelos franquistas, afirmando-se então como jornalista belga. 

As autoridades espanholas entregaram-na na fronteira portuguesa em Outubro de 1939, “acompanha-da por um personagem misterioso [Nikolas Gargoff], suposto delegado da IC, e que vai ter um papel igualmente obscuro no processo da «reorganização»” [JPP, vol. 1] do Partido Comunista Português em 1940-1941.

Ao não ser, estranhamente, detida, regressou à luta política dentro do núcleo dirigente daquele. 

Até ser presa em Maio de 1940, viveu clandestina, usou o nome de Maria Luísa, manteve estreita colaboração com Álvaro Cunhal no Secretariado, contribuiu para a redacção de documentos políticos e de textos sobre a política internacional do movimento comunista, bem como interveio na sua distribuição. 

Devido ao comportamento na prisão, chegando a ser acareada com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, e ao facto de se ter ligado ao subinspector da PIDE Júlio de Almeida, com quem viveu cerca de dez anos e que, depois, partiu para Angola, viria a ser expulsa do Partido na década de 40, estando por apurar o real envolvimento com os serviços de espionagem soviética, já que se revelara um quadro ao serviço da Internacional Comunista com tarefas atribuídas em Espanha e Portugal e que continuou sempre a entrar e sair da URSS com enorme facilidade. 

[Carolina Loff || 01/061940 || ANTT || PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 63, registo n 12405 || PT/TT/PlDE/E/010/63/12405 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

O seu nome, a par do de Helena [Vieira] Faria, constou como exemplo nefasto nas primeiras edições do importante manual político de conduta em caso de detenção pela polícia política Se Fores Preso, Camarada..., bem como no Lutemos contra os espiões e provocadores – Breve história de alguns casos de provocação no PCP,  da autoria do Secretariado do CC do PCP e saído em 1952. 

Usou ainda os pseudónimos “Berta”, “Marta da Costa” e “Sylvie”. 

Edmundo Pedro manteve relações de amizade com Carolina Loff, que lhe apresentou a filha, então já sexagenária e mãe de um casal de gémeos, criada e educada na União Soviética, sendo uma dos muitos estrangeiros, incluindo filhos de portugueses, que passaram pela escola internacional de Ivanovo. 

O percurso intrigante e enigmático de Carolina Loff saiu reforçado por se ter recusado sempre, apesar da sua longevidade, a esclarecer episódios dessa vivência, originando, entre outras, as obra de ficção O Enigma de Zulmira, de Vasco Graça Moura, e Cartas Vermelhas, de Ana Cristina Silva. 

Segundo Anabela Natário, "Carolina afastou-se da política activa, mas nunca deixou de contribuir para as causas antifascistas, inclusive para o Partido Comunista".

Feminae - Dicionário Contemporâneo [Lisboa, CIG, 2013] incluiu uma nota biográfica de Carolina Loff da Fonseca.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Registo Geral de Presos / 12405 [Carolina Loff Fonseca / PT-TT-PIDE-E-010-63-12405_m0001].

[João Esteves]

domingo, 17 de junho de 2018

[1835.] ANTÓNIO MARQUES MONTEIRO [I]

* ANTÓNIO MARQUES MONTEIRO || MILITANTE COMUNISTA (1926 - 1933) || DO COMITÉ LOCAL DE BEJA AO COMITÉ REGIONAL DO OESTE || PENICHE (1934 - 1936) *

António Marques Monteiro manteve, entre 1926 e 1934, quando foi preso pela última vez, relevante militância no Partido Comunista, nomeadamente em Beja e Caldas da Rainha, com destaque na Organização Regional do Oeste.

Os dados biográficos que se seguem baseiam-se no seu Cadastro Político elaborado, primeiro, pela Polícia de Defesa Política e Social e, depois, pela Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado [ANTT, Cadastro Político 4701].

[António Marques Monteiro || ANTT || RGP/178] 

Encadernador, filho de Ermelinda de Jesus Marques e de Manuel Monteiro Marques, António Marques Monteiro terá nascido em 1900, em Lisboa.

Terá aderido ao Partido Comunista em 1926, embora, segundo o seu Cadastro Político, "mais tarde fosse suspenso temporariamente".

Em 1929, foi trabalhar para Beja e aí retomou a actividade política. Integrou o Comité Local do Partido Comunista e, em 1929-30, colaborou com Bento Gonçalves na conferência plenária da organização local que teve lugar na Casa dos Trabalhadores.

Também teve papel de relevo na organização de uma Conferência Camponesa, que teve a adesão de muitos dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais do Baixo Alentejo, filiados na União Nacional dos Trabalhadores Rurais, e contou com a participação de Daniel Neto Batalha enquanto Delegado da Comissão Inter-Sindical (CIS).

Ainda em Beja, António Marques Monteiro participou nos trabalhos de uma conferência plenária do Partido, "com o fim de ser desdobrado o aparelho local".

Acabou por ser preso naquela cidade em 16 de Abril de 1932, acusado de estar envolvido numa greve e comício de operários contra a carestia de vida e o desconto de 2% sobre os seus salários, decretado pelo Governo, tendo sido entregue, em 27 de Abril, pelo Comando local da PSP à Polícia de Defesa Política e Social [Processo 358].

Por parecer do Director-Geral de Segurança e anuência do Ministro do Interior, saiu em liberdade em 20 de Junho do mesmo ano.

No mês seguinte, participou em Lisboa, com Manuel Francisco Roque Júnior [RGP/13641] e Rodrigo Ollero das Neves [RGP/289], na reunião de Delegados de 17 Sindicatos aderentes ou simpatizantes da Comissão Inter-Sindical (CIS), de orientação comunista, que teve lugar no Sindicato do Pessoal dos Tabacos, na Rua do Mirante, com a finalidade de estabelecer as Bases de negociação com a Câmara Sindical do Trabalho, afecta à CGT, visando a criação de uma Frente Única de Luta [Processo 568].

[António Marques Monteiro || ANTT || RGP/178]

Devido a investigações posteriores à sua libertação, concluiu-se que António Marques Monteiro seria o principal elemento do Partido Comunista na região de Beja, tendo o seu processo sido enviado, em Fevereiro de 1933, ao Tribunal Militar Especial a fim de ser submetido a julgamento.

Em Lisboa, terá recusado integrar o Secretariado Político do Partido Comunista, para o qual tinha sido abordado por Manuel Francisco Roque Júnior, e foi viver para as Caldas da Rainha.

Nas Caldas, António Marques Monteiro retomou a militância comunista por via de Firmiano Cansado Gonçalves, então procurado pela Polícia. Coube-lhe assegurar ligações com as Célula da Marinha Grande e de Torres Vedras através, respectivamente, do vidreiro António Guerra e do relojoeiro Santana, para  além daquelas estabelecidas na terra onde vivia, nomeadamente com o encadernador Abílio de Sousa Marques.

Criado o Comité Regional do Oeste, Firminiano Cansado Gonçalves voltou para Lisboa e António Marques Monteiro tornou-se seu Secretário, Abílio de Sousa Marques ficou responsável pelas Juventudes Comunistas e Rafael Fernandes tratava da Imprensa.

Em 25 de Agosto de 1933, foi preso nas Caldas da Rainha, onde residia na Rua 15 de Maio - 43. 

Por documentos apreendidos a Alfredo Caldeira e a Bento Gonçalves, ambos procurados pela Polícia, sobressaiu a importância de António Marques Monteiro enquanto organizador da Célula Nº 1 das Caldas da Rainha e o papel que teve na ligação do Comité Regional do Oeste às Células do Bombarral, de Torres Vedras e da Marinha Grande, "ficando assim montado o Aparelho do Centro do País, o qual tinha ligação para Lisboa com a Comissão Central de Organização do Partido, por intermédio de Rafael Fernandes".

Através dos contactos partidários, António Marques Monteiro solicitou o envio de selos e verbetes do Partido Comunista, das Juventudes Comunistas e do Socorro Vermelho Internacional, para além de um copiógrafo a fim de ser utilizado pelo Comité Regional do Oeste [Processo 785].

No âmbito do Processo 568, foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 16 de Dezembro de 1933 e abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932 [Processo 11/933, do TME].

[António Marques Monteiro || ANTT || RGP/178]

Quanto às actividades desenvolvidas no Oeste, o julgamento no TME ocorreu em 30 de Maio de 1934, tendo sido condenado à multa de catorze mil e quatrocentos  escudos, a qual não sendo paga no prazo legal é convertido em prisão correccional, e perda de direitos políticos por cinco anos [Processo 81/934, do TME].

Entrou na Fortaleza Militar de Peniche em 19 de Junho de 1934, tendo, em 9 de Janeiro de 1936, o Comandante Militar Especial de Peniche proposto que "seja transferido daquela Fortaleza e, até, se possível for, para fora do Continente (Ofício confidencial Nº 10, do Comando Militar Especial de Peniche)".

Libertado em 19 de Junho de 1936, por ter terminado a pena imposta pelo TME.

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4701 [António Marques Monteiro / PT-TT-PIDE-E-001-CX06_m0775, m0775a, m0775b, m0775c, m0775d, m0775 e].
ANTT, Registo Geral de Presos / 178 [António Marques Monteiro / PT-TT-PIDE-E-10-1-178_c0387].
ANTT, Fotografia 2783 [António Marques Monteiro / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0028].

[João Esteves]

sexta-feira, 15 de junho de 2018

[1834.] ARMANDO DOS SANTOS CALET [I]

* ARMANDO DOS SANTOS CALET || GREVE GERAL REVOLUCIONÁRIA DE 18 DE JANEIRO DE 1934 || ALJUBE || PENICHE || FORTALEZA DE S. JOÃO BAPTISTA (1935 - 1936) || CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL (1936 - 1945) *

Armando dos Santos Calet foi um dos muitos intervenientes da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, tendo participado na sabotagem do Cabo Submarino entre a Trafaria e Porto Brandão. 

Preso em Agosto de 1934, foi deportado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, e para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde sobreviveu dez longos anos.

[Armando dos Santos Calet || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Mariana Borges e de José dos Santos Calet, um dos militantes do Partido Comunista Português durante a 1.ª República, Armando dos Santos Calet terá nascido por volta de 1908, em Lisboa - Santa Justa.

Serralheiro da Fábrica de Material de Guerra, em Braço de Prata, e Secretário Administrativo do Sindicato do Pessoal do Arsenal do Exército, foi acusado de estar envolvido nos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934 e ter participado na sabotagem do Cabo Submarino, entre Porto Brandão e Trafaria [Processo 1227/SPS], e naquela efectuada na Fábrica onde trabalhava [Processo 1031/SPS].

O caso da Fábrica de Braço de Prata foi entregue a um Oficial da Polícia Judiciária Militar que, em 19 de Fevereiro de 1934, enviou o processo para a Repartição de Justiça do Governo Militar de Lisboa, a fim de ser enviado ao Tribunal Militar Especial.

Este, reunido em 5 de Maio de 1934, absolveu Armando dos Santos Calet.

[Armando dos Santos Calet || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Quanto ao outro acto de sabotagem, colaborou com Bartolomeu José da Costa, empregado da Companhia dos Telefones, Eurico Pinto Mateus [RGP/6244] e Silvino Augusto Ferreira [RGP/12592], Secretário-Geral do Sindicato do Arsenal do Exército, tendo como missão o corte de diversas redes telefónicas antes da eclosão da Greve Geral, bem como do Cabo Submarino da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, cujas cabines se situavam no Portinho (entre Porto Brandão e Trafaria).

Na noite de 17 de Dezembro, seguiu do Cais do Sodré para Cacilhas, com Silvino Augusto Ferreira, onde os esperava Filipe José da Costa [RGP/1165], entre outros homens.

No Portinho, Armando dos Santos Calet participou directamente no corte de fios de duas das cabines do Cabo Submarino. 

[Armando dos Santos Calet || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Cumprida a sabotagem, andou fugido, só foi preso em 2 de Agosto de 1934, depois de ter regressado de Espanha, onde se refugiara, e prestou declarações em 18 de Agosto.

Enviado para o Aljube em 22 de Novembro de 1934, foi transferido para Peniche em 20 de Março de 1935, onde ficou até 8 de Junho.

Armando Calet foi deportado para Angra do Heroísmo em 8 de Junho de 1935, tendo o Avante! de Novembro desse mesmo ano chamado a atenção para o facto de se encontrar preso há 14 meses sem culpa formada.

Em 23 de Outubro de 1936, integrou a primeira leva de presos políticos enviada para o Campo de Concentração do Tarrafal [ANTT, Cadastro Político 5045]. Aí, integrou a Organização Comunista Prisional do Tarrafal (OCPT).

Permaneceu no Tarrafal dez anos, até 11 de Novembro de 1945, data em que foi libertado por ter sido abrangido pela amnistia de 18 de Outubro, embora só regressasse no navio "Guiné" em 1 de Fevereiro de 1946.


[Armando dos Santos Calet || RGP/302 || PT-TT-PIDE-E-10-2-302_c0211]

Em Lisboa, voltou a residir na Travessa do Maldonado, 3 - 2.º Esquerdo - Lisboa.

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

O nome aparece grafado como Callet ou Calet.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5045 [Armando dos Santos Callet / PT-TT-PIDE-E-001-CX07_m0332, m0332a, m0332b, m0332c].
ANTT, Registo Geral de Presos / 302 [Armando dos Santos Calet / PT-TT-PIDE-E-10-2-302_c0211].
ANTT, Fotografia 2457 [Armando dos Santos Callet / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0008].

[João Esteves]
[Revisto em 18/12/2018]

quarta-feira, 13 de junho de 2018

[1833.] FRANCISCO DA GLÓRIA PERROLAS [I]

* FRANCISCO DA GLÓRIA PERROLAS || PORTIMÃO || PRESO NO ALJUBE E EM PENICHE (1934 - 1935) *

Carpinteiro Naval, Francisco da Glória Perrolas foi preso em 1934 por integrar a organização comunista de Portimão e ser o reorganizador local do Socorro Vermelho Internacional.

A sua ficha do Registo Geral de Presos não contém fotografia que, no entanto, consta dos Livros de Cadastrados políticos da Torre do Tombo. Olhando-a com atenção, tudo indica ter sido torturado.

[Francisco da Glória Perrolas || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Maria João e de José da Glória Perrolas, Francisco da Glória Perrolas terá nascido em 1906, em Portimão, residindo na Rua do Craveiro - 12 quando foi detido.

Preso "por fazer parte da facção comunista de Portimão", ser "o reorganizador do Socorro Vermelho", "assistir a reuniões de carácter revolucionário" e estar envolvido num "plano de ataque à Força Pública, tendo recebido uma pistola e munições" [ANTT, Cadastro 5282], foi entregue, em 2 de Março de 1934, pelo Comando da PSP de Faro à Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado.

Organizado pelas autoridades do Distrito de Faro, o respectivo processo foi remetido para o Tribunal Militar Especial em 17 de Março de 1934 [Processo 1055-G], tendo Francisco da Glória Perrolas permanecido no Aljube entre 19 de Abril e 22 de Novembro.

[Francisco da Glória Perrolas || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Julgado pelo TME em 27 de Outubro e condenado a 12 meses de prisão correccional, "acusado de fazer propaganda de ideias contrárias ao actual estado da sociedade" [Processo 135/934, do TME], ficou encarcerado na Fortaleza Militar de Peniche entre 22 de Novembro e 18 de Fevereiro de 1935, data em que foi libertado.


[Francisco da Glória Perrolas || RGP/229 || PT-TT-PIDE-E-010-2-229_m0063

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5282 [Francisco da Glória Perrolas / PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0490, m0490a].
ANTT, Registo Geral de Presos / 229 [Francisco da Glória Perrolas / PT-TT-PIDE-E-10-2-229_c0063].
ANTT, Fotografia 2435 [Francisco da Glória Perrolas / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0012].

[João Esteves]
[Revisto em 18/12/2018]

terça-feira, 12 de junho de 2018

[1832.] FRANCISCO DO NASCIMENTO ESTEVES [I] || A MORTE, AOS 23 ANOS, NO TARRAFAL

* FRANCISCO DO NASCIMENTO ESTEVES  (1914 - 1938) || A MORTE, AOS 23 ANOS, NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL *

Francisco do Nascimento Esteves integra a lista dos 32 presos políticos portugueses falecidos no Campo de Concentração do Tarrafal.

Operário torneiro de metais com militância comunista, esteve preso no Aljube, em Peniche e, por fim, aquando da segunda prisão, foi enviado para o Tarrafal, onde faleceu em 21 de Janeiro de 1938, com apenas 23 anos de idade.

A sua ficha do Registo Geral de Presos não contém fotografia que, no entanto, consta dos Livros de Cadastrados políticos da Torre do Tombo.

[Francisco do Nascimento Esteves || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Júlia do Nascimento Esteves e de Luís Sérgio Esteves, Francisco do Nascimento Esteves nasceu em 1914, em Lisboa - Arroios.

Operário torneiro mecânico, foi preso em 27 de Junho de 1934, juntamente com Álvaro Martins e Manuel Venusto dos Santos Júnior [RGP/272], quando participava numa reunião de uma célula do Partido Comunista realizada na Quinta dos Apóstolos - Alto de São João [Processo 1190].

Aquela célula seria controlada por Manuel Venusto dos Santos Júnior e alguns dos presentes na reunião conseguiram fugir à polícia.

Transferido para a Fortaleza Militar de Peniche em 17 de Agosto de 1934, aí permaneceu até 18 de Janeiro de 1935, quando deu entrada no Aljube.

[Francisco do Nascimento Esteves || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Julgado pelo Tribunal Militar Especial em 19 de Janeiro, foi condenado a seiscentos dias de prisão correccional e perda dos direitos políticos por cinco anos [Processo 198/934, do TME].

Transferido, de novo, para Peniche, terá saído em liberdade em 22 de Fevereiro de 1935, quando completou os 600 dias a que fora condenado e, assim, "haver terminado a pena imposta pelo Tribunal", ou em 22 de Fevereiro do ano seguinte [ANTT, Cadastro Político 5682; RGP/232].

Em Março de 1936, foi alistado como soldado recruta no Batalhão de Aerosteiros, com o Nº 109, tendo, nesse mesmo mês, sido "mandado apresentar em Peniche, onde ficou detido" [ANTT, Cadastro 5682; AHM, PT/AHM/FO/011/1/4/358], tendo a Repartição do Gabinete do Ministério da Guerra solicitado à PVDE informações acerca de Francisco do Nascimento Esteves.

Em 2 de Maio de 1937, foi novamente preso pela Secção Política e Social da PVDE, recolheu incomunicável a uma esquadra, transitou, em 11 de Maio, para a 1.ª Esquadra e, no dia seguinte, entrou no Aljube. 

[Francisco do Nascimento Esteves || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Em Junho de 1937, integrou a segunda leva de presos políticos que chegou ao Campo de Concentração do Tarrafal, onde faleceu em 21 de Janeiro de 1938. Teria, apenas, 23 anos!


[Francisco do Nascimento Esteves || RGP/232 || PT-TT-PIDE-E-10-2-232_c0069]

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5682 [Francisco do Nascimento Esteves / PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0582, m0582a].
ANTT, Registo Geral de Presos / 232 [Francisco do Nascimento Esteves / PT-TT-PIDE-E-10-2-232_c0069].
ANTT, Fotografia 2435 [Francisco do Nascimento Esteves / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0007].
AHM, PT/AHM/FO/011/1/4/358.

[João Esteves]
[Revisto em 18/12/2018]

segunda-feira, 11 de junho de 2018

[1831.] ANTÓNIO SOARES MONTEIRO FERRO [I]

* ANTÓNIO SOARES MONTEIRO FERRO (n. 1894) || PRESO 11 ANOS E 7 MESES (1932 - 1943) || ALJUBE || PENICHE || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO (1935 - 1943) *

Comunista, António Soares Monteiro Ferro integrou o grupo envolvido nos preparativos da jornada de luta a ocorrer no dia 29 de Fevereiro de 1932, que implicava o recurso a bombas, e foi preso no âmbito dos preparativos do 1.º de Maio, estando presente nas experiências realizadas com aquelas na Serra de Monsanto, em 17 de Abril. 

Preso em 25 de Abril de 1932 e condenado a 10 anos de degredo, com prisão.

[António Soares Monteiro Ferro || ANTT || RGP/186]

Filho de Maria Francisca Soares e de José Soares Monteiro Ferro, António Soares Monteiro Ferro terá nascido em 1894, em Oliveira do Douro - Vila Nova de Gaia.

Soldado durante a 1.ª Grande Guerra, integrou a Companhia de Projectores de Campanha do Corpo Expedicionário Português, tendo embarcado em 2 de Julho de 1917 e desembarcado, em Lisboa, em 13 de Setembro de 1918 [AHM/PT AHM-DIV-1-35A-2-73-69033] 

No início da década de 1930 era carpinteiro em Lisboa, com morada no Pátio do Machado, porta 100 - Palma de Cima, integrava a Célula 21 do Comité de Zona Nº 4 do Partido Comunista e "organizou um núcleo de simpatizantes em Telheiras, que agregou àquela célula" [ANTT, Cadastro Político 5300]. 

Em Fevereiro de 1932, António Soares Monteiro Ferro esteve envolvido nos preparativos da jornada de luta a ocorrer no dia 29, juntamente com, entre outros, Dionísio Moreira de Paiva ("O Russo") [RGP/214], Francisco de Campos [RGP/63], João Facadinha, José Duarte 1.º [RGP/244] e Manuel Francisco da Silva ("O Manuel Pedreiro" que faleceu em 24 de Agosto de 1941, quando detido na Fortaleza de Angra do Heroísmo) [RGP/138]. Essa jornada implicava o recurso a bombas e acabou por não se realizar devido à prisão dalguns dos implicados. 

Falhada a jornada de 29 de Fevereiro, interveio nos preparativos do 1.º de Maio e, por isso, presenciou as experiências com bombas realizadas na Serra de Monsanto em 17 de Abril, juntamente com Álvaro Augusto Ferreira [RGP/535], Dionísio Moreira de Paiva, Francisco de Campos, João Facadinha e Manuel Francisco da Silva, entre outros [Processo 452/SPS]. 

[António Soares Monteiro Ferro || ANTT || RGP/186]

Terá conseguido escapar aquando das detenções feitas na Serra de Monsanto em 24 de Abril de 1932, mas foi detido no dia seguinte, sendo considerado "elemento perigosíssimo e activo na Organização" [ANTT, Processo 5300].

O seu processo foi enviado para o Tribunal Militar Especial em 24 de Fevereiro de 1933, mas o julgamento só no ano seguinte, em 20 de Outubro de 1934.

Acusado de, "em 1932 e por diversas vezes, ter tomado parte no fabrico, transporte, detenção e uso, para experiência, de bombas explosivas", sofreu a pena de dez anos de degredo, com prisão, e na multa de vinte mil escudos.

[António Soares Monteiro Ferro || ANTT || RGP/186]

António Soares Monteiro Ferro interpôs recurso, tendo a sentença sido confirmada pelo mesmo Tribunal em 3 de Novembro [Processo 16/933, do TME].

Enviado para o Aljube em 4 de Dezembro, foi transferido para Peniche em 19 do mesmo mês e reenviado para o Aljube em 20 de Março de 1935, a fim de seguir para a Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo (23/03/1935).

Regressou de Angra do Heroísmo em 1 de Julho de 1943 e levado para Peniche, de onde saiu em liberdade em 26 de Novembro do mesmo ano.

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

Fontes:
AHM [António Soares Monteiro Ferro / PT AHM-DIV-1-35A-2-73-69033_m0001, m0002].
ANTT, Cadastro Político 5300 [António Soares Monteiro Ferro / PT-TT-PIDE-E-001-CX07_m0151, m0151a, m0151b].
ANTT, Registo Geral de Presos / 186 [António Soares Monteiro Ferro / PT-TT-PIDE-E-10-1-186_c0404].
ANTT, Fotografia 2652 [António Soares Monteiro Ferro / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0020].


[João Esteves]

sexta-feira, 8 de junho de 2018

[1830.] ANTÓNIO AUGUSTO QUARESMA [I] || GREVE DE 18 DE JANEIRO DE 1934

* ANTÓNIO AUGUSTO QUARESMA (1905 - 1987) || GREVE DE 18 DE JANEIRO DE 1934 - SETÚBAL || ALJUBE || PENICHE || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO (1935 - 1938) *

Operário conserveiro, sendo soldador de latas de conserva em Setúbal, António Augusto Quaresma foi um dos activistas que esteve envolvido na preparação da Greve Geral Revolucionária a eclodir naquela cidade em 18 de Janeiro de 1934. 

Conotado com o ideário anarquista, foi preso e deportado para Angra do Heroísmo, onde ficou cativo três anos na Fortaleza de São João Baptista. 

[António Augusto Quaresma || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho Edwiges da Conceição e de Francisco Maria Quaresma, António Augusto Quaresma terá nascido por volta de 1905, em Setúbal - S. Julião.

Preso pelo Comando da PSP de Setúbal e entregue, em 2 de Fevereiro de 1934, à Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, "acusado de fazer parte de uma organização revolucionária que tinha em preparação um movimento de carácter comunista naquela cidade" [ANTT, Cadastro Político 6982; Processo 963/A].

[António Augusto Quaresma || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Julgado no Tribunal Militar Especial em 10 de Outubro de 1934 e condenado a três anos de desterro, multa de seis mil escudos e perda dos direitos políticos por dez anos [Processo 20/934, do TME], "acusado de, nos meses de Dezembro do ano findo e Janeiro do corrente ano, fazer parte do Comité Grevista Revolucionário de Setúbal, tendo efectuado várias reuniões nos arredores daquela cidade, preparatórios de um movimento grevista, contra o Governo constituído, movimento que chegou a eclodir em algumas localidades do País, no dia 18 de Janeiro do corrente ano" [ANTT, Cadastro 6982]. 

[António Augusto Quaresma || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-4-NT-8904 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Levado para o Aljube em 29 de Setembro, seguiu para Peniche em 19 de Dezembro e embarcou, em 23 de Agosto de  1935, para Angra do Heroísmo, de onde foi libertado em 24 de Outubro de 1938.

Depois de libertado, António Augusto Quaresma terá trabalhado na construção civil e faleceu em 1987.

A sua fotografia não consta do Registo Geral de Presos, mas encontra-se no Livro de Cadastrados - 4.

[António Augusto Quaresma || ANTT || RGP/192 || 

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 6982 [António Augusto Quaresma / PT-TT-PIDE-E-001-CX06_m0178, m0178a].
ANTT, Registo Geral de Presos / 192 [António Augusto Quaresma / PT-TT-PIDE-E-10-1-192_c0416].
ANTT, Fotografia 2554 [António Augusto Quaresma / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0014].

[João Esteves]