[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 29 de junho de 2018

[1838.] JOSÉ MANUEL TENGARRINHA [V]

* JOSÉ MANUEL TENGARRINHA (1932 - 2018) *



José Tengarrinha foi um dos escassos Professores dignos desse título que tive enquanto aluno de História da Faculdade de Letras.

As aulas de “História de Portugal (Séculos XVIII-XX)”, com o trabalho de equipa em torno de “A base social do liberalismo na Revolução burguesa de 1820 a 1834”, e o Seminário de Opção “Greves Operárias em Portugal no Século XX”, com dezenas de milhares de páginas lidas e/ou folheadas referentes ao período entre 1870 e 1890, fizeram-me acreditar que, afinal, estava no Curso certo.

O projecto colectivo do levantamento das Greves em Portugal nos Séculos XIX e XX, pioneiro e muito influenciado pelo estudo de Michelle Perrot "Les Ouvriers en grève: France 1871-1890", datado de 1973, era inovador e fascinante, tendo proporcionado a catalogação exaustiva de muitas centenas de paralisações até então desconhecidas.

Com o Professor Tengarrinha, aprendi a arte metódica de saber ler, interpretar e citar com rigor (jornal, número, data, título da notícia, página, coluna) a imprensa periódica.

Temporariamente seu Monitor, conversámos muito, com frequência na Biblioteca Nacional e, raras vezes, na sua casa do Estoril. Num tempo de grande proximidade, em que se aprendia com o que se escutava dos outros.

Em 1984, presenciei a tentativa, frustrada, de o sanear, meticulosamente planeada por quem julgava que se tratava do elo mais fraco de um conjunto de Professores que urgia afastar do corpo docente de História.

Então, perante professores e assistentes coniventes ou receosos de reagir junto dos novos poderes emergentes, os alunos e ex-alunos foram inexcedíveis e souberam lutar pela permanência do professor Tengarrinha na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: movimentaram-se, denunciaram o caso, intervieram junto dos órgãos directivos, recorreram à comunicação social (jornais, rádio e televisão) e fizeram greve(s). Não se calaram, tendo alguns dos protagonistas desses dias sido seriamente prejudicados enquanto estudantes e nas carreiras académicas.

Dez anos depois, José Tengarrinha voltava a entrar na Faculdade de Letras através dos seus alunos!

No dia da sua partida, num desenlace esperado, fica a delicadeza de trato, a capacidade de escutar, a amabilidade, o saber e a amizade, mesmo que só nos reencontrássemos muito esporadicamente.

E fica, também, a sua duradoura luta antifascista, só sendo libertado com o 25 de Abril de 1974, o trabalho político desenvolvido com o MDP/CDE e a renovação da historiografia, com estudos incontornáveis na área da Imprensa e dos Movimentos Sociais.

Até sempre, Professor Tengarrinha!

[João Esteves]

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