Professora.
Militante da Associação Feminina Portuguesa para a Paz entre 1940 e 1944, tendo sido sua Secretária durante três anos, numa altura em que era Presidente Cândida Madeira Pinto e tinham cargos directivos Maria Alice Lamy, Stella Fiadeiro e Maria Helena Pulido Valente, sendo muito ativas Cândida Gaspar, Maria Luísa Bastos, Joana Campina e Cândida Ventura.
Com Cândida Ventura, colega da Faculdade de Letras de Lisboa, colaborou na mobilização de artistas, escritores, actores e poetas para colaborarem nas sessões culturais e pacifistas que a AFPP promovia.
Na sede da Associação, na Rua D. Pedro V, ao Príncipe Real, organizavam pequenos pacotes com cigarros e géneros que mandavam, em colaboração com o Socorro Vermelho Internacional, para os prisioneiros nos campos de concentração.
Ainda no âmbito das actividades da AFPP, no dia 9 de abril, data da Batalha de La Lys, costumavam, depositar ramos de flores no monumento aos mortos da Grande Guerra.
Participou, no início da década de 1940, nos passeios de barco culturais e políticas realizados no rio Tejo, sendo, com Cândida Ventura, uma das duas únicas sobreviventes [sobre eles consultar http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/].
Posteriormente, já professora do Liceu, apoiou a campanha de Humberto Delgado; subscreveu as listas da Oposição Democrática; foi “compagnon de route” do Partido Comunista Português desde 1940 e filiada desde os anos setenta; tornou-se sócia da Associação de Amizade Portugal-Cuba; e pertence ao Conselho Português para a Paz e Cooperação.
O seu empenhamento profissional (pedagógico-didático) não é menos intenso e relevante. Licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1944, a sua tese, intitulada Paul Gauguin visto à luz da Caracterologia - Vida e Obra suscitou polémica visto ser então a primeira a versar sobre Arte, considerada então uma parente pobre da História.
Em 1948, fez Exame de Estado no Liceu Pedro Nunes com a tese Filosofia - Valores Éticos e Estéticos.
Lecionou nos Liceus de Faro, Beja, Évora, Oeiras, Lisboa (D. Leonor, D. João de Castro, Passos Manuel e Pedro Nunes) e na Escola do Magistério Primário de Évora.
Orientadora de Estágios Pedagógicos nos Liceus de Oeiras, Pedro Nunes e Passos Manuel, entre 1973 e 1976.
Participou nos Colóquios de História e de Filosofia realizados em 1959, no Liceu Pedro Nunes, sob a égide do Reitor Francisco Dias Agudo, que pela ousadia da sua promoção e pela categoria dos intervenientes (Professores Delfim Santos, Vieira de Almeida, Rui Grácio, Joel Serrão) representavam então uma luta pela actualização e dignificação dos conteúdos pedagógicos e informativos dos ramos abrangidos.
Dentro do mesmo combate ao ensino orientado pelo Estado Novo e veiculado pelos compêndios fascizantes, participou nas reuniões de professores progressistas, realizadas um tanto clandestinamente na Escola Francisco Arruda sob a direcção do Professor Calvet de Magalhães; frequentou os Cursos de Aperfeiçoamento Profissional orientados pelo Professor Rui Grácio no Sindicato dos Professores; e cursou, em 1975, o 10.º Curso de Pós-Graduação em História de Arte, instituído pelo Professor José Augusto França na Universidade Nova de Lisboa.
Após o 25 de Abril, interveio activamente, com muitos outros docentes [José Magno, Maria de Lurdes Ribeiro, Hardisson Pereira, João Cruz, Maria Eugénia Bráulia Reis, Ana Leal de Faria, Margarida Matos...], numa Comissão presidida por Maria Emília Diniz com o intuito de acabar com os velhos programas e actualizá-los com tudo o que tinha ocorrido na investigação e na metodologia.
Estes novos programas foram divulgados em cadernos de apoio editados pelo Ministério da Educação, substituindo os antigos compêndios do 6.° e 7.° anos. Coube a Maria Lucília Estanco Louro fazer o tema Humanismo e Experimentalismo na Cultura do século XVI e, em coautoria com João Cruz, A Arte Portuguesa nos Séculos XIX e XX, não tendo este último fascículo chegado a ser publicado, porque entretanto estes programas, julgados demasiadamente revolucionários, foram abolidos.
Realizou inúmeras palestras, participou em colóquios, escreveu artigos e colaborou em publicações.
Redigiu várias entradas no Dicionário de História de Portugal, dirigido pelo Professor Joel Serrão, e a convite deste.
Dos muitos escritos dispersos, é de mencionar “O Jovem Piteira” [Fernando Piteira Santos], publicado no Jornal de Letras, por se referir a “alguém cuja inteligência, sólida formação cultural (especialmente política) e fulgurante lucidez e poder de comunicação marcaram os jovens da minha geração, seus colegas na Faculdade de Letras de Lisboa nos anos 40” e que integrava “Barradas de Carvalho, Rute Arons, Olívia Cunha Leal, Rui Grácio, Joel Serrão, Joana Campina, Eunice Oliveira, Jorge Borges de Macedo, Francisco Morais Janeiro, Mário Faria, Nataniel Costa, Tony Nogueira Santos e eu própria, Maria Lucília”.
A competência, profissionalismo, dedicação e intervenção cívica de Maria Lucília Estanco Louro, quer sob condições políticas adversas, quer após a Revolução de Abril, podem ser testemunhados pelos seus antigos alunos, muitos dos quais tornadas figuras públicas, entre os quais se contam: Ana Maria Magalhães; António Damásio; António Torrado; Diogo Freitas do Amaral; Guilherme de Oliveira Martins; Joaquim Benite; Joaquim Letria; Joel Hasse Ferreira; Jorge Martins; José Meco; José Viana da Mota Brandão, Maria Beatriz Ruivo; Miriam Halpern Pereira; Maria Ângela de Sousa; Maria José Moura; Mário Vieira de Carvalho; Norberto Barroca; Rui Vieira Nery.
Pertence a uma geração única que dedicou décadas da sua vida na luta contra a ditadura e, coerentemente, continua, dentro das suas possibilidades, a manifestar o mesmo empenho político e cívico.
Existe uma entrada mais completa sobre Maria Lucília Estanco Louro em Feminae. Dicionário Contemporâneo [Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2013].
[João Esteves]
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