[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 28 de junho de 2014

[0696.] IRENE CASTRO [II]


* IRENE FERNANDES DE MORAIS E CASTRO *
[05/09/1895 - 28/07/1975]

[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em grupo contra a corrente, 2011]


Filha de Torquato Fernandes e de Maria Augusta Loureiro Dias, nasceu a 5 de Setembro de 1895 na freguesia da Sé, no Porto, e faleceu a 28 de Julho de 1975. 

Tal como a mãe e irmãs, exerceu a profissão de professora do Ensino Primário, cujo exame na Escola Normal do Porto concluiu em 5 de Junho de 1914, com 20 valores. 

Foi Directora da Escola da Freguesia da Sé no Porto. 

Em 1917, casou com Amílcar Gonçalves de Morais e Castro, nascido a 22 de Maio de 1896, filho de Manuel Joaquim Gonçalves de Castro e de Ana Adelaide das Dores de Morais e Castro. Maçon e franco-atirador, escriturário de 3.ª classe dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, terminou o Curso de Direito depois de casado e passou a exercer a advocacia. Devido às suas ideias, esteve preso onze vezes na PIDE do Porto. 

Sócia fundadora da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, foi,  de 1949 a 1952, a sua última presidente. 

Organizou, em articulação com a sede de Lisboa, entre outras actividades, as comemorações do XV Aniversário da AFPP no ano de 1950, que tiveram como ponto alto as conferências O Dilema da Paz e da Guerra e Pró Paz proferidas, respectivamente, por Maria Lamas e Teixeira de Pascoaes. As conferências tiveram lugar no Salão Nobre do Clube Fenianos Portuense, a primeira a 25 de Maio e a segunda a 1 de Junho. 

Mãe de três filhos e de uma filha, a todos apoiou nas suas lutas políticas, tendo pedido às autoridades melhores condições de vida para os presos políticos e reclamado das injustiças praticadas. 

O filho mais velho, Armando Fernandes de Morais e Castro [18/07/1918 - 16/06/1999], professor e historiador de Economia e reconhecido oposicionista portuense, era casado com a sócia da AFPP Maria Virgínia Castro. 

O segundo filho, Raul Fernandes de Morais e Castro [25/08/1921 - 08/2004], advogado antifascista preso em 1947 e um dos Constituintes após 1974, casou com a sócia da AFPP Maria Carolina Campos.  

O terceiro filho, Amílcar Fernandes de Morais e Castro, nasceu em 1927; e a filha mais nova, Irene, em 1933. 

Irene de Castro apoiou os filhos nas lutas académicas e quando estavam presos na PIDE. 

Acolheu na sua casa todos os que precisavam de ajuda durante os tempos das lutas antifascistas e da oposição ao Estado Novo. 

Foi uma mulher política, mas não por influência do seu marido, de quem sempre ocultou a sua militância no Partido Comunista. Fez parte do Partido Comunista por vontade própria e nem os filhos, todos com relevante actividade oposicionista, souberam. Exigiu que o partido a contactasse através de uma mulher para que ninguém de casa desconfiasse. 

Integrou todos os Movimentos Unitários até ao 25 de Abril de 1974. Esteve presente na sessão do Olímpia em 13 de Outubro de 1945, onde se organizou o MUD no Porto. Pertenceu ao MDM - Movimento Democrático de Mulheres - e nessa qualidade recebeu no Porto a russa Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço. 

Em 11 de Outubro de 1992 foi homenageada por um grupo de personalidades, entre elas antigas sócias das AFPP, como Branca de Lemos. Nesse dia, domingo, foi organizada uma romagem com colocação de flores ao Cemitério Prado do Repouso, onde Virgínia Moura [19.07.1915-19.04.1998] relembrou o perfil de mãe, de mulher e de professora lutadora por uma educação progressista pela Paz e pelos direitos das mulheres. À tarde realizou-se uma sessão pública no Salão Nobre do Clube Fenianos do Porto, com apresentação de um vídeo feito especialmente com testemunhos de pessoas que com ela conviveram, música poesia e pintura. 

O filho Raul de Castro escreveu-lhe o seguinte epitáfio: à memória exemplar de quem sempre enfrentou a vida de forma a nem na morte deixar a imagem de vencida.  

O filho mais velho, Armando de Castro, disse dela no vídeo feito por ocasião da homenagem prestada em 1992: morreu de pé como sempre viveu, coerente consigo própria e, tal como Romain Rolland dizia, “esteve sempre em marcha e só parou na morte”. 

Como pedagoga, é referida pelo respeito que votava às crianças. Na sala de aula tinha uma caixa com lacinhos de organdi, que todas as suas alunas colocavam, enquanto estavam na escola, para que todas estivessem bonitas.

Lúcia Serralheiro escreveu a sua biografia para o Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), Livros Horizonte, 2005, sendo alguns dos elementos aqui mencionados retirados dessa importante entrada.

Em 2011, Lúcia Serralheiro editou Mulheres em Grupo Contra a Corrente [Rio Tinto, Edições Evolua, 2011], livro centrado na história da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e onde Irene de Castro foi figura central.

1 comentário:

mariahelenamluz@gmail.com disse...

Seria Irene Castro, descendente de Dona Brites Maria felizarda de Morais e Castro, mãe dos Barões de Nevogilde?
Meu questionamento é porque faço o estudo genealógico dessa família aqui no Brasil.
Agradeço desde já a resposta.