* PAULO MARQUES DA SILVA *
A PIDE E OS SEUS INFORMADORES. O CASO DE INÁCIO
Apresentação: Luís Reis Torgal
[Palimage || 2019]
Em “A PIDE e os seus informadores. O caso de Inácio”, Paulo Marques da Silva descreve, com minúcia, a actvidade de um informador de Coimbra que durante três dezenas e meia de anos, entre 1935 e 1971, vigiou e prestou informações detalhadas sobre os oposicionistas daquela cidade, sem nunca ser detectado pelos antifascistas com quem se encontrava e de quem ouviria confidências como se fosse um deles.
Não deixa de impressionar a facilidade com que “Inácio” se movimentava por (quase) todos os ambientes oposicionistas locais, desde a Academia às instituições culturais e desportivas, passando por cafés, via pública e espaços privados, até aos eventos de natureza pública como sessões, comícios e datas comemorativas, relatando aos seus superiores, sempre com enfâse persecutória, tudo o que dizia ter ouvido ou observado de dezenas de nomes, mesmo que tal não fosse necessariamente fidedigno, «identificando explicitamente nesses documentos os indivíduos que lhas tinham fornecido» [p. 46].
Os seus relatórios «são sistemáticos e cadenciados […] com nomes, acções ambiente “político” e contactos» [p. 51], contendo opiniões e orientações que os seus superiores deveriam seguir, para além de insinuações, suposições infundadas e muita adjectivação, terminando, quase sempre, com a referência «[a]o ódio à nossa polícia» que os visados partilhariam, de forma a instigar a PVDE/PIDE a actuar segundo as suas apreciações.
Nos relatórios redigidos sobressai, ainda, antipatia pessoal e política sobre os vigiados, havendo a preocupação constante de enfatizar a responsabilidade política de Albano Rodrigues Cunha, Francisco Salgado Zenha, Joaquim Vitorino Namorado ou Manuel Deniz Jacinto, todos conotados com o Partido Comunista e que tudo manobrariam na cidade, transcrevendo fragmentos de conversas, por vezes claramente inverosímeis conhecendo-se os envolvidos.
Nos relatórios redigidos sobressai, ainda, antipatia pessoal e política sobre os vigiados, havendo a preocupação constante de enfatizar a responsabilidade política de Albano Rodrigues Cunha, Francisco Salgado Zenha, Joaquim Vitorino Namorado ou Manuel Deniz Jacinto, todos conotados com o Partido Comunista e que tudo manobrariam na cidade, transcrevendo fragmentos de conversas, por vezes claramente inverosímeis conhecendo-se os envolvidos.
Não estamos perante um informador qualquer, sendo que lidava directamente com Manuel Nogueira Branco e, depois, José Barreto Sacchetti, responsáveis pela Delegação da PVDE/PIDE de Coimbra, elencando Paulo Marques da Silva «mais de duzentos nomes de indivíduos denunciados por Inácio» [p. 46].
Nesta investigação exaustiva e minuciosa, com Apresentação de Luís Reis Torgal, o Autor evidencia quão importante foi o papel dos informadores ao serviço da PVDE/PIDE/DGS e como ele se revelou eficaz na perseguição e condicionamento das actividades oposicionistas, assim como dá a conhecer parte significativa das redes locais antifascistas, embora apenas as mais visíveis, pois houve outras que se mantiveram intocáveis e passaram despercebidas ao informador e ao regime.
E apesar de conhecer muitíssimo bem o terreno em que se movia, constata-se que “Inácio” desconheceria o percurso anterior aos anos 30 de alguns dos nomes referenciados, bom como o percurso de outros que, em determinado momento, mudariam de campo. O facto de nunca referir as reuniões e encontros tidos nas casas de campo de alguns intelectuais, nomeadamente as que se realizavam regularmente na de João José Cochofel, pode indiciar que não estaria tão informado como faria crer aos seus superiores.
Embora não fosse esse o objectivo do livro, Paulo Marques da Silva revela a identidade de quem se escondia por trás do pseudónimo “Inácio”, «um informador que provocou grandes malefícios em Coimbra» [p. 315] no dizer de Alberto Vilaça: um funcionário dos Caminhos de Ferro Portugueses nascido em 19 de Novembro de 1899 e que fez grande parte da sua carreira naquela cidade. No dia 19 de Dezembro de 1974, foi inquirido pelos Serviços de Coordenação e Extinção da PIDE/DGS e LP de Coimbra, assinou um relatório sobre as suas actividades, confessando «que, por vezes, romanceava um pouco» [p. 318] e, perante a Ordem de Captura datada do dia seguinte, ter-se-á suicidado em 21 de Dezembro na zona da Pedrulha, arredores de Coimbra.
O Índice Onomástico constitui um importante auxiliar para quem quiser estudar o Antifascismo em Portugal.
O Índice Onomástico constitui um importante auxiliar para quem quiser estudar o Antifascismo em Portugal.
Leitura igualmente inadiável para quem reconhece vivências de muitos dos nomes referenciados em memórias recuadas, alguns dos quais familiares ou convivas próximos.
Como Benedita Vasconcelos [1947 – 2017] gostaria de ter lido este livro!
[João Esteves]
1 comentário:
O Dr. Alberto Vilaça avisou no tempo todo o grupo que, depois do trabalho, se encontrava na " Brasileira " da existência desse informador que se fazia passar por alguém que contestava o regime fascista e dos cuidados a ter. Julgo que quando o fez ainda não se sabia quem era, mas um pouco mais tarde foi indicado um indivíduo como sendo esse Inácio.
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