[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 31 de março de 2019

[2091.] MANUEL TOMÁS BARRETO [I] || PRESO NO ALJUBE, ONDE TERÁ ENLOUQUECIDO

* MANUEL TOMÁS BARRETO *

PRESO EM ARRAIOLOS EM 1932 || "ENLOUQUECEU" NO ALJUBE EM 1933

Filho de Engrácia de Jesus e de Mário Monteiro Barreto, Manuel Tomás Barreto terá nascido em 1888, em Nossa Senhora da Graça do Divor, concelho de Évora.

Cantoneiro, com residência na Estrada  Nacional Nº 18 - Casa do Cantoneiro, foi preso pela Polícia de Segurança Pública de Évora por motivos sociais [Processo 570] e entregue à Polícia de Defesa Política e Social em 30 de Novembro de 1932, tendo o respectivo processo sido enviado ao Tribunal Militar Especial para se proceder ao seu julgamento [ANTT, Cadastro Político 4518].

Segundo um comunicado da Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, datado de Março de 1933, Manuel Tomás Barreto tinha sido preso em Arraiolos, juntamente com outro modesto trabalhador de estradas, «sob a única acusação de pertencerem aos corpos gerentes da sua Associação de Classe cujo funcionamento estava autorizado por todas as leis vigentes». 

[Março de 1933 || ANTT || PT-TT-PIDE-001-00538_m0001]

Ainda segundo o mesmo documento, os dois presos, «Levados para a cadeia de Évora, foram ali sujeitos aos maiores vexames e torturas físicas e morais, as quais continuaram em Lisboa na tenebrosa sede da moderna inquisição. // Nos infames calabouços policiais sofreram largos dias de rigorosa incomunicabilidade – suficiente só por si para transtornar o cérebro mais forte – sendo, por fim, arremessados para a tétrica Cadeia do Aljube onde impera o mais infame dos regimes penitenciários!».

Em 3 de Março de 1933, o Director da Cadeia do Aljube informou a Polícia de Defesa Política e Social que Manuel Tomás Barreto começara a «apresentar indícios de alienação mental», sendo-lhe comunicado que o preso se encontrava à disposição do Tribunal Militar Especial de Lisboa, «única entidade que poderá modificar a sua situação»  [ANTT, Cadastro Político].

No dia seguinte, o TME autorizou a transferência de Manuel Tomás Barreto para a Enfermaria da Cadeia do Limoeiro. Atendendo ao agravamento do seu estado de saúde, entrou, em 13 de Março, no Miguel Bombarda, onde ficou internado.

No comunicado da Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, intitulado AO POVO // A DITADURA E A SUA OBRA // Um preso que enlouquece no Aljube de Lisboa, afirmava-se que «Manuel Tomás Barreto talvez consciente da desgraça que o liquidava ainda gritou no princípio da sua loucura violentos morras à Ditadura e vivas à Revolução Social. Os tiranos que o desgraçavam não o esqueciam! O Ideal que, embora rudemente tinha concebido, tardava a apagar-se-lhe da mente!», denunciando-se que «À extensa e negra lista de assassinatos, torturas, violências que a Ditadura já tinha escrito foi-lhe acrescentado um crime mais, cuja características horríveis não podem deixar ninguém, ninguém indiferente!».

O julgamento de Manuel Tomás Barreto e do companheiro, só terá ocorrido no ano seguinte, em 13 de Outubro de 1934.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4518 [Manuel Tomás Barreto / PT-TT-PIDE-E-001-CX14_m0190, m0190a].
ANTT, Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, "AO POVO // A DITADURA E A SUA OBRA // Um preso que enlouquece no Aljube de Lisboa" [PT-TT-PIDE-001-00538_m0001].

[João Esteves]

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