[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 26 de janeiro de 2020

[2269.] ALCÍDIO AUGUSTO LOPES DE ALMEIDA [I] || PRESO E DEPORTADO POR ENVOLVIMENTO EM MOVIMENTOS CONTRA A DITADURA

* ALCÍDIO AUGUSTO LOPES DE ALMEIDA *
[1886 - ?]

Militar, Alcídio Augusto Lopes de Almeida foi um acérrimo opositor à Ditadura triunfante em 28 de Maio de 1926. A partir de 1927, entrou em sucessivas revoltas e conspirações, todas fracassadas, conhecendo prisões, deportações e a residência fixa.

Filho de Joana Augusta Moura Pinto de Almeida e de José de Almeida, Alcídio Augusto Lopes de Almeida terá nascido em 1886, no Porto - Freguesia da Sé.

Tenente do Batalhão de Infantaria 13, integrou o Corpo Expedicionário Português e embarcou para França em 22 de Abril de 1917. Distinguiu-se na Batalha de La Lys, como referem vários relatos, tendo a 2.ª Companhia, por si comandada, recebido ordens para ocupar a trincheira 5, em Senechal Farm, frente a La Couture, a fim de «estabelecer contacto com o inimigo» [Carlos da Silveira Gonçalves, Adriano de Sousa Lopes (1879 - 1944). Um pintor na Grande Guerra, FCSH - UNL, 2016]. 

Feito prisioneiro no dia 9 de Abril e levado para o Campo de Breesen, em Mecklembourg, na Alemanha, onde estavam concentrados a maioria dos oficiais do CEP, regressaria a Lisboa em 3 de Janeiro de 1919, a bordo do navio Pedro Nunes, tendo sido condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe [AHM, Alcídio Augusto Lopes de Almeida - Capitão da GNR / PT/AHM/DIV/1/35A/1/05/1333].

Aquando do 28 de Maio de 1926, era Comandante da GNR de Penafiel e aderiu à Revolta despoletada no Porto em 3 de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura Militar, engrossando, com aquela Companhia, os revoltosos instalados na Praça da Batalha.

Tal como muitos outros militares e civis envolvidos no Movimento de 3 de Fevereiro, refugiou-se em Vigo, na Galiza, e andou, desde então, fugido. Regressado ao Porto, manteve reuniões conspirativas com, entre outros, o Capitão Alfredo Chaves e Manuel António Correia.

Em meados de Dezembro de 1927, foi detectada a sua presença em Vila Real e Régua, aonde se deslocara desde o Porto, de automóvel, para distribuir panfletos de incitamento à revolta contra o governo. Fez nova incursão na zona da Régua no início de Fevereiro de 1928, tendo, em 7 desse mês, sido tentada a sua captura, disso dando conta o administrador do Concelho e o Governador Civil de Vila Real, este em carta ao Ministério do Interior datada de 10.

É referenciado como tendo participado na reunião nocturna de 12 (ou de 23, segundo informe da Polícia) de Fevereiro de 1928, realizada no Porto, na Rua Duarte Ferreira - 17, onde se registaram confrontos com a polícia e do qual houve um morto e um ferido grave. Apesar da investida repressiva da Polícia de Informações daquela cidade, tanto Alcídio como Manuel António Correia escaparam ao cerco.

Voltaria a escapar, juntamente com o tenente [LuísEmílio dos Santos Seca, outro dos participantes do 3 de Fevereiro de 1927, «à prisão em massa de 1 de Maio de 1928», em Lisboa [Irene Pimentel, Introdução ao livro Memórias de Um Resistente às Ditaduras, de Manuel António Correia, Temas e Debates, 2011].

Ainda nesse ano, terá estado envolvido na Revolta de 20 de Julho de 1928.

Vigiado, os informadores relatam regularmente os movimentos considerados mais suspeitos. Assim, o General informava que, em 24 de Outubro de 1928, «veio do Porto a Lisboa para tratar de assuntos revolucionários». Menos de um mês depois, em 19 de Novembro,  era a vez de Crato dar conta que Alcídio Lopes de Almeida fora visto nas ruas da Baixa, acompanhado do Tenente Emílio dos Santos Seca. Em 30 do mesmo mês, Crato informava que o antigo Comandante da GNR em Penafiel tivera uma reunião com o Capitão Fontes, antigo secretário de José Domingos dos Santos [ANTT, Cadastro Político 22].

Envolvido em sucessivos actos conspirativos e denunciado, acabou por ser preso pela Polícia de Informações em 7 de Janeiro de 1929, num restaurante na Rua dos Douradores, juntamente com os tenentes Seca e Aires Torres. Entregue às autoridades militares no dia 12 [Processo 4201], percorreu, então, diversos cárceres. Levado para o Aljube, onde reencontrou Manuel António Correia, passando, juntos, pelo Forte de São Julião da Barra, Presídio Militar da Trafaria e Forte de Nossa Senhora da Graça, em Elvas.

Em 13 de Abril de 1929, encontrava-se no presídio de Elvas e, em 21 de Abril, passou para o Aljube, estando acusado de manter ligações, militares e civis, com, entre outros, Hamilton Guedes, Norberto Guimarães e Pestana Júnior [Processo 4308]. Deportado, embarcou em 8 de Setembro para Ponta Delgada, sendo, então, referido a sua ligação a António Brandão, "O Brandãozinho da Bolsa Agrícola", apontado pela polícia como o chefe da Freguesia do Bonfim no movimento revolucionário de 20 de Julho do ano transacto.

Em 8 de Janeiro de 1931, o Ministério da Guerra solicitou à Polícia de Informações parecer sobre um eventual regresso ao Continente de Alcídio Augusto Lopes de Almeida, sendo dado parecer desfavorável.

No ano seguinte, quando se encontrava, por motivos políticos,  com residência obrigatória em Cabo Verde, foi abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932.

Embora se desconheça muito do envolvimento político de Alcídio Augusto Lopes de Almeida, sabe-se que, em 21 de Novembro de 1935, estava com residência fixa em Aljezur, data em que o Ministério da Guerra solicitou ao Ministério do Interior autorização para que o ex-Capitão fosse «de licença por dez dias, com princípio em 1 de Dezembro próximo, ao Porto, afim de visitar sua família», o que lhe foi permitido, embora com início em 22 de Dezembro, tendo a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado sido sempre informada.

Com a amnistia de Maio de 1936, o Ministério da Guerra indagou, através do Ministério do Interior, a PVDE sobre se haveria alguma inconveniência na transferência da residência fixa de Aljezur para o Porto. A Secção Política e Social daquela Polícia, em 14 de Junho, anuiu, faltando, no entanto, consultar a Delegação do Porto.

Segundo Manuel António Correia, Alcídio Augusto Lopes de Almeida tuberculizou, disso vindo a falecer.

Irmão mais novo de Abel Augusto Lopes de Almeida, oficial reformado do Exército que, em determinado momento, também conspirou contra a Ditadura, tendo sido preso e deportado.

O nome de Alcídio aparece, em vários casos, como Alcides.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 22 [Alcídio Augusto Lopes de Almeida / PT-TT-PIDE-E-001-CX05_m0533, m0533a, m0533b, m0533c, m0533d, m0533e].

Manuel António Correia, Memórias de um Resistente às Ditaduras, Introdução de Irene Flunser Pimentel, Temas e Debates, 2011.

[João Esteves]

Sem comentários: