[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

[2280.] PEDRO BATISTA DA ROCHA [VI] || DA MILITÂNCIA COMUNISTA À GUERRA CIVIL DE ESPANHA

* PEDRO BAPTISTA DA ROCHA *
[25/07/1912 - ?]

MILITANTE DAS JUVENTUDES COMUNISTAS E DO PARTIDO COMUNISTA || ACTIVISTA DO SOCORRO VERMELHO INTERNACIONAL || PRESO POLÍTICO || COMBATENTE DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA || PASSAGEM PELOS CAMPOS DE INTERNAMENTO EM FRANÇA E DE TRABALHO NA ALEMANHA NAZI || EXILADO

[Pedro Batista da Rocha || 06/12/1943 || ANTT || RGP/288 || PT-TT-PIDE-E-010-2-288]

O percurso político de Pedro Rocha revelou-se invulgarmente rico e complexo, tendo abrangido quase todo o período da Ditadura Militar e do Fascismo: militante comunista desde 1929; activista do Socorro Vermelho Internacional; combatente da Guerra Civil de Espanha; internado em Angelès-sur-Mer, Gurs e Vernet; passagem pela Alemanha nazi; preso nos anos 30 e 40; exílio no Congo francês e Brasil, só regressando após Abril de 1974.

Filho único de Hermínia do Carmo Batista e de António José da Rocha, sargento músico preso por estar envolvido na Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, Pedro Batista da Rocha nasceu em 25 de Julho de 1912, em Lisboa - Anjos, e cresceu em Alfama. 

Frequentou o Liceu Gil Vicente, tendo os amigos, as greves estudantis, as leituras, as dificuldades económicas e o ambiente familiar em torno dos ideais da República, contribuído para a sua adesão à luta contra a Ditadura Militar e militância comunista desde 1929. Usou os pseudónimos de "Hélder", nas Juventudes Comunista, de "Osvaldo", no Socorro Vermelho Internacional, e "José Pedro da Rocha".

Segundo as suas memórias, intituladas Escrito com paixão [Caminho, 1991], com 18 anos era já membro das Juventudes Comunistas, tendo aderido por influência de César Maurício e trabalhado directamente com Francisco Paula de Oliveira e, depois, com Fernando Quirino. Participou, então,  nas greves estudantis e nos comícios relâmpago. 

[Pedro Rocha || Escrito com paixão || Caminho || 1991]

Detectado e procurado como activista comunista desde 1932, Pedro Rocha desempenhou ainda trabalho partidário, entre outros, com Afonso Henriques Ventura, Afonso Martins da SilvaÁlvaro Duque da Fonseca, Bento Gonçalves, Bernard FreundCarolina Loff da Fonseca, Cassiano Nunes Diogo, Eliseu Monteiro, Isaac Soares, Joaquim Domingos LisboaJúlio dos Santos Pinto, Manuel Augusto da Rosa Alpedrinha, Mário Rodrigues PioTogo da Silva Batalha e Virgínio de Jesus Luís. Em 1933, integrou o Secretariado Político e Executivo das Juventudes Comunistas.

Foi, simultaneamente, activista, desde 1929, do Socorro Vermelho Internacional, em Lisboa, sendo funcionário da sua sede clandestina instalada no Regueirão dos Anjos. Posteriormente, em 1933, foi encarregue da sua reorganização no Alentejo e Algarve, assim como dos Comités Locais do Partido Comunista e das suas Juventudes: saiu de Lisboa em 19 de Junho e passou por Vale de Vargos, Aldeia Nova de São Bento, Beja, Aljustrel, Portimão, Lagos, Odeceixe, Monchique, Silves e Faro [Processo 799].

Integrou, ainda, diversas agremiações, como a Associação dos Amigos da União Soviética, criada em 1931, Caixa Económica Operária e Clube Naval de Lisboa. Enquanto empregado comercial, foi delegado do seu sindicato, filiado na Comissão Intersindical (CIS).

Preso, pela primeira vez, em 23 de Julho de 1933, juntamente com Rodrigo Ollero das Neves [n. 27/06/1906], na casa da Rua Bernardim Ribeiro, 57, 4.º, foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 22 de Janeiro de 1934, juntamente com mais vinte jovens, e condenado a dezoito meses de prisão correccional e perda dos direitos políticos por dois anos [Processo 87/933 do TME - Processo 798 da Polícia de Defesa Política e Social].

Libertado em 27 de Janeiro do ano seguinte, tinha passado pela Penitenciária de Lisboa, Aljube e Peniche, mantendo colaboração em periódicos feitos, clandestinamente, pelos presos.

Voltou a ser preso, «para averiguações», em 16 de Maio de 1936 e libertado em 26 do mesmo mês [Processo 1803].

Em Abril de 1937, dando seguimento ao apelo do Partido Comunista para que militantes e simpatizantes se juntassem às forças republicanas de Espanha e/ou porque tivesse sido enviado pela Frente Popular Portuguesa para se especializar em assuntos militares, Pedro Rocha saiu legalmente de Portugal para França, aproveitando a organização da Exposição Internacional de Artes e Técnicas Aplicadas à Vida Moderna. 

Embarcou no paquete "Aurigny", desembarcou no Havre, passou por Paris, onde contactou com os portugueses antifascistas residentes em França, assistiu ao 1.º de Maio em Lyon e, depois, atravessou os Pirenéus a pé e chegou a Figueras, na Catalunha, em Maio, após uma atribulada e tormentosa viagem. 

 [Pedro Batista da Rocha || 1937 ou 1938]

Em Espanha, manteve contactos estreitos com os portugueses Caetano João, Carolina Loff da Fonseca, César de Almeida, Jaime de Morais, José Ramos, Manuel Roque Júnior, Mário Batista Reis, Miguel Ramos, Óscar Morais, Utra Machado e Telmo dos Santos, entre outros. Aí também se cruzou com Luís António Soares, "um homem de meia-idade", pai de Pedro Soares, seu camarada das Juventudes Comunistas.

Por usar óculos, não pode ser piloto de caça, passando para a artilharia. Frequentou, segundo as suas memórias dactilografadas, a escola pré-militar de Pins del Vallès, em Sant Cugat del Vallès; a escola de comissários, cujo responsável militar era o major César de Almeida; e, por fim, a Escola de Artilharia N.º 2, em Lorca, perto de Valência, onde estavam mais cinco portugueses: Caetano João, Manuel Roque Júnior, Mário Batista Reis, Miguel Ramos e Óscar Morais.

Concluído aquele curso, foi promovido a tenente de artilharia. Adstrito à Reserva Geral de Artilharia e colocado no 2.º Grupo de Canhões de 7.62, Pedro Rocha participou em combates no sector Tremp/Blaguer; Lérida; frente do Levante (Sagunto), entre outros.

Foi quando estava em Lorca que, em Outubro de 1937, aderiu ao Partido Comunista de Espanha, talvez por intermédio de Mário Batista Reis, delegado português no Partido Socialista Unificado da Catalunha, integrando a célula da Escola Popular de Guerra N.º 2. 

[Diário de Lisboa || 9 de Setembro de 1983]

Em finais de Outubro de 1938, terá passado a capitão, como consta do Certificado passado em nome de Juan Negrín López, Presidente do Governo de Espanha e Ministro de Defesa Nacional. 

[Diário de Lisboa || 9 de Setembro de 1983]

Em Fevereiro de 1939, juntamente com Jaime Cortesão, Jaime de Morais, Mário Fernandes e outros portugueses, saiu de Espanha e começou, durante cerca de dois anos e meio, a prolongada passagem pelos campos de internamento franceses: Argelès-sur-Mer, Gurs, novamente Argelès e, por fim, Vernet d'Arriège, vigiado por milícias de Vichy. 

Forçado pelas condições desumanas e políticas deste último campo, inscreveu-se para trabalhar, como voluntário, na Alemanha nazi, onde trabalhou como carregador na IGFarben, em Bitterfeld e, depois, em Berlim, no escritório da editora da revista “O Espelho de Berlim”, de propaganda nazi. Também terá trabalhado como locutor de rádio, ganhando razoavelmente.

[Pedro Batista da Rocha || 06/12/1943 || ANTT || RGP/288 || PT-TT-PIDE-E-010-2-288]

Invocando a necessidade de visitar os pais, regressou a Portugal no Verão de 1942, entrou em contacto com os antigos camaradas de Partido, agora sujeito a nova reorganização, e viveu numa semiclandestinidade até ser preso, «para averiguações», em 4 de Dezembro de 1943. Enviado para o Aljube, foi libertado em 19 de Janeiro de 1944.

[Pedro Batista da Rocha || 06/12/1943 || ANTT || RGP/288 || PT-TT-PIDE-E-010-2-288]

Nesse mesmo ano, em Maio, partiu para Angola, onde se manteve por mais de dois anos e continuou a ser vigiado e perseguido pela PIDE.

Seguiu, então, para Brazaville e aí permaneceu, durante 14 anos, como locutor da RTF. Em fins de 1959, fixou-se no Brasil, trabalhando no Estado de São Paulo.

Logo que eclodiu a Revolução de 25 de Abril, Pedro Rocha ofereceu, por carta, os seus préstimos profissionais ao Movimento das Forças Armadas, não tendo obtido qualquer resposta. Em 1976, ao fim de 28 anos de exílio e de 43 de militância antifascista, regressou a Portugal.

João Varela Gomes, em artigo publicado no Diário de Lisboa de 9 e 10 de Setembro de 1983, dá amplo destaque ao percurso político de Pedro Rocha, inserindo documentação sua enquanto participante na Guerra Civil de Espanha. Voltou a dedicar um capítulo a Pedro Rocha no livro Guerra de Espanha. Achegas ao redor da participação portuguesa - 70 anos depois [Fim de Século, 2006].

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4602 [Pedro Baptista da Rocha / PT-TT-PIDE-E-001-CX14_m0725, m0725a, m0725b, m0725c, m0725d].

ANTT, Registo Geral de Presos 288 [Pedro Batista da Rocha / PT-TT-PIDE-E-010-2-288].

Varela Gomes, Diário de Lisboa, 9 e 10 de Setembro de 1983.

Varela Gomes, Guerra de Espanha. Achegas ao redor da participação portuguesa - 70 anos depois, Fim de Século, 2006.

[João Esteves]

Sem comentários: