* 04 DE JANEIRO DE 1923 *
Realiza-se a 4 de Janeiro de 1923 a assembleia-geral do CNMP, para aprovação dos relatórios e eleição dos corpos gerentes. É presidida por Albertina Gamboa e secretariada por Irene Duarte e Eulália Lino da Silva:
"Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas - Assembleia-Geral
No dia 4 de janeiro último reuniu-se a Assembleia-Geral da nossa colectividade para leitura de relatórios, pareceres e eleições, com grande concorrência de associadas que assim bem demonstram a sua dedicação pela causa feminista.
Às 17 horas, na ausência da Ex.ma presidente da Assembleia-Geral, abriu os trabalhos a sr.ª D. Albertina Gamboa, secretariada pelas sr.as D. Irene Duarte e D. Eulália Lino da Silva.
Lido o expediente, passou-se à leitura dos relatórios da Direcção e presi-dentes de secções, que em seguida publicamos, para conhecimento das leitoras e que foram apro-vados.
Em seguida a sr.ª D. Albertina Gamboa usando da palavra propõe um voto de louvor à presidente do Conselho D. Adelaide Cabete, pelo seu trabalho, dedicação e esforço pela causa feminista e desenvolvimento da nossa agremiação. Foi aprovado. A Dr.ª Adelaide Cabete agradecendo o voto de louvor lembra que ele deve ser extensivo a todas as senhoras que a acompanharam, nada poderia ter feito de útil e prático sem a sua dedicação, tendo palavras elogiosas para a imprensa da Capital, pelo auxílio prestado ao Conselho, propõe um voto de louvor à imprensa que foi aprovado por unanimidade. O jornal O Século estava representado por um dos seus redactores.
Procedendo-se às eleições para os corpos gerentes que devem funcionar no próximo ano 1923, deu o seguinte resultado:
Assembleia Geral – Presidente, Vitória Pais Madeira; Vice-Presidente, Maria Emília Ferreira; 1.ª Secretária, Maria Luísa Amaro; 2.ª Secretária, Irene Duarte; 1.ª Suplente, Celeste Pinto Moniz; 2.ª Suplente, Luísa Gouveia Pinto.
Direcção – Presidente, Dr.ª Adelaide Cabete; 1.ª Vice-Presidente, Maria da Luz Pereira e Silva; 2.ª Vice-Presidente, Maria Amália Baptista Ferreira; Secretária do exterior, Antónia Laclaud; Secretária do Interior, actas, Domingas L. Amaral; Secretária do Interior, arquivista, Rosa Pereira; Secretária do Interior, adjunta, Maria José Ramos de Sousa; Tesoureira, Elisa Lima; Vogais, Josefina Ribeiro, Benedita Sá, Ema Rua, Cipriana Nogueira, Angélica Porto, Rita Silva, Amélia Trigueiros, Albertina Gamboa.
Conselho Fiscal – Presidente, Persina de Vasconce-los; Relatora, Maria Emília Gonçalves; Secretária, Etelvina Silva; Suplentes, Nazaré Ferreira, Aurora Pinheiro.
Presidentes de Secções – Assistência Social, Maria O’Neill; Beneficência, Amélia Trigueiros; Biblioteca, Ema Rua; Educação, Deolinda Lopes Vieira; Emi-gração, Rosalina Simões; Finanças, Elisa Lima; Higiene, Dr.ª Branca Lopes; Imprensa, Dr.ª Ade-laide Cabete; Legislação, Dr.ª Laura Côrte Real; Moral, Angélica Porto; Paz, Adelaide Carvalho; Propaganda, Albertina Gamboa; Sufrágio, Fábia Arez.
Relatório da Direcção
Um ano social terminou e um novo ano vai começar.
Quanto àquele que finda eu devo dizer às nossas consócias que ele se caracterizou, principalmente, pelo número grande de senhoras que aderiram à nossa causa, vindo assim engrossar as nossas fileiras.
Devemos atribuir este facto à grande propaganda desenvolvida não só pela Direcção que finda o seu mandato, mas também ao esforço individual de algumas consócias que assim bem merecem da nossa consideração e estima.
A revista Alma Feminina, órgão do nosso Conselho, continua mantendo o seu carácter doutrinário que desde o seu início mantém e que é bem conhecido de todas as senhoras que a lêem.
Quanto ao trabalho das secções, algumas delas ficaram inactivas pela força das circunstâncias, embora as suas presidentes empregassem todos os seus esforços para bem desempenhar a sua missão, outras alguma coisa fizeram e, em relatórios que vão ser lidos, se fará o resumo dos seus trabalhos.
Alguma coisa de útil se fez a bem da Humanidade e da Mulher em particular.
Foi nossa intenção realizar uma grande sessão feminista, comemorando o nosso aniversário e ao mesmo tempo ventilar mais uma vez os princípios feministas, mas não nos foi possível levá-la a efeito em 1922, pelo qual ela deverá realizar-se em 1923 no próximo dia 18 de Março.
Sobre as relações com o exterior, foram elas caracterizadas pela mais franca e leal camaradagem com o Conselho Internacional e com os restantes Conselhos Nacionais que sempre enviaram à nossa associação os seus anuários e quaisquer outras publicações vindo enriquecer a nossa biblioteca e me apraz verificar o número crescente das suas obras.
Muitas revistas estrangeiras, quase todas órgãos de Conselhos, são recebidas e as consócias poderão lê-las na sede, que muito as interessará!
As dificuldades financeiras que o País atravessa vêm dificultar a nossa missão, e, principalmente, a nossa situação perante o tesouro federal.
Recebemos há tempos 16 livros contendo os relatórios dos trabalhos realizados em Haia, na reunião das comissões do Conselho Internacional que o nosso Conselho terá de vender afim de auxiliar a federação, devendo eu dizer que julgo de grande utilidade a sua aquisição por parte das consócias.
Ao terminar eu quero fazer ardentes votos por um maior desenvolvimento do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e que, muito em breve, venha ele a ser uma instituição de utilidade pública.
Há muito a fazer e dentro do vasto programa que nos propusemos cumprir e por isso eu peço a todas as senhoras que se inscreveram no Conselho que olhem para ele com carinho, que façam propaganda do seu nome e dos seus fins que isso representa um grande auxílio à causa da Mulher.
Relatório da Comissão de Higiene
A Comissão de Higiene, durante o ano de 1922 limitou-se a publicar na nossa revista Alma Feminina artigos contra o alcoolismo, artigos esses, tirando a parte que nos cabe por serem nossos, foram bem apreciados pela oportunidade, princi-palmente.
Tivemos o prazer de ver que a nossa campanha, junta com algumas outras iniciativas de origem diversa teve repercussão no próprio Parlamento, onde o senador sr. Ferreira de Simas apre-sentou um projecto de lei, combatendo o alcoolismo e que já foi devidamente criticado na Alma Feminina.
É intenção nossa não abandonarmos este tema, nem deixar enfraquecer a campanha, que segundo o nosso parecer, alguma coisa de útil tem produzido.
Neste ano que vai começar, talvez a propaganda pela conferência e com projec-ções seja iniciada para assim melhor cumprirmos a sagrada missão de salvar a Humanidade de um dos seus maiores flagelos o Alcoolismo.
A nossa campanha é de um tão largo alcance social e de um tão grande benefício que nós ousamos solicitar a todas as nossas consócias que nunca percam qualquer momento para dar combate ao flagelo que tanto nos preocupa.
A luta antialcoólica deve-se fazer pela conferência, pela escrita, pela conversa, pelos conselhos, enfim por todos os meios ao alcance da mulher que, de resto, é a principal vítima.
Ela própria é vítima como o homem, é vítima ainda porque vê perderem-se nesse vício, o marido, o filho, o pai, o irmão.
Porque não há-de ela defender-se?
Contamos com a sua dedicação e com a sua boa vontade.
Ao terminar fazemos votos para um novo ano social todo cheio de prosperidades.
Relatório da Comissão de Imprensa
Em face da letra dos nossos estatutos a comissão de imprensa vem perante a assembleia do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas expor qual foi o seu trabalho durante o ano de 1922.
Trabalhou com entusiasmo, pode-se dizer sem receio, basta a publicação periódica da Alma Feminina para atestar o que afirmamos. As dificuldades de ordem gráfica que tivemos de vencer foram grandes, embora elas fossem previstas, dadas as precárias condições financeiras em que se debate a nossa querida Pátria. E apesar de tudo a nossa revista publica-se sempre, de 2 em 2 meses, embora contra nossa vontade por a querermos mensal, fez progressos na sua tiragem, aumentou o número das permutas, principalmente com revistas estrangeiras, continuou publicando fotografias das mais ilustres feministas acompanhadas de alguns dados biográficos, foram também publicados vários artigos sobre propaganda feminista, moral, educação e muito principalmente, sobre o alcoolismo.
A pedido da comissão conseguiu-se que os jornais diários de Lisboa fizessem referências à Alma Feminina quando ela dava entrada nas suas redacções. No referente à publicidade no estrangeiro, por intermédio da Comissão de imprensa as revistas estrangeiras, La Française de Paris, L’International Femenin de Bruxelas, The Catholice Citizen de Londres, Ativitta Femininle Social, de Roma, Nylaende, de Kristiania publicaram a seguinte notícia: “Uma mulher foi nomeada tesoureira interina pela municipalidade de Alvaiazer. // O segundo Congresso das classes marítimas, após uma larga discussão sobre a sindicalização das mulheres na indústria marítima aprovou: 1.º a adopção do princípio a trabalho igual, salário igual; 2.º organização em sindicato das mulheres que trabalham na indústria marítima; 3.º execução da lei de protecção às mulheres e às crianças.
O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas festejou no mês de Outubro o aniversário da sua fundação, e a revista feminina, Alma Feminina, órgão do mesmo Conselho, mantém uma campanha contra o alcoolismo”.
Devemos acrescentar que, desta notícia, só a parte referente à comemoração do nosso aniversário não foi cumprida este ano.
Queremos destacar a Revista Feminina de S. Paulo, Brasil, que nos deu a honra de transcrever o nosso artigo sobre M.me Henni Forchamer, Luiza Capetilo e M.meAvril de Sainte-Croix. Quanto a trabalhos futuros podemos já anunciar que ela passará a publicar mais uma gravura sobre mulheres que se tenham distinguido e imposto à consideração e admiração públicas, pelo seu trabalho, pela sua sabedoria e devido à gentil oferta do ilustre feminista e educador sr. Luiz Leitão. Mais nada nos resta levar ao conhecimento do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, aproveitamos a ocasião para agradecer a todos que nos ajudaram e fazemos votos para que o novo ano social seja de muito progresso e de grande desenvolvimento.
Relatório da Comissão da Biblioteca
Em fins de 1921, foi publicada uma nota na Alma Feminina para conhecimento de todas as associadas no Conselho Nacional das Mulheres, que na sede da organização ia organizar-se uma biblioteca feminista para uso exclusivo das sócias.
Logo em 1921 se começaram a registar ofertas de sócias e amigos do Conselho, ao mesmo tempo que os relatórios e folhetos publicados pelos Conselhos Nacionais davam entrada na Biblioteca.
Assim, já nós podemos ter o prazer de levar ao conhecimento das consócias que contamos para cima de 200 volumes, e alguns deles de valia.
Em vários números da mesma revista se têm publicado as listas de ofertas e por elas se podem ver os livros da nossa colecção.
É intenção fazer este ano o catálogo, abrir o gabinete de leitura às sócias e esperamos que haverá interesse.
Não podemos deixar de solicitar às nossas amigas que continuem a oferecer alguns exemplares de livros ou revistas para a nossa biblioteca afim de podermos com mais facilidade levar a bom fim um dos números do programa feminista.
Nem mesmo a nossa missão era completa se não tivéssemos organizado a biblioteca.
Nunca é demais facilitar a aquisição de conhecimentos úteis.
Se não cuidarmos do desenvolvimento intelectual da Mulher, como poderá ela influir na vida social?
Como poderá ela ser boa mãe, boa esposa ou boa filha se não sabe quais são os seus deveres?
Ex.mas consócias, ao lerdes estas palavras lembrai-vos que há uma legião de mulheres que vivem nas trevas e a quem se torna necessário dar a instrução precisa para elas serem um elemento útil à sociedade.
Oferecer livros para uma biblioteca, equivale a lançar uma pedra no grande edifício que é o desenvolvimento da instrução."
[Alma Feminina, n.º 1 e 2, Janeiro e Fevereiro de 1923, pp. 5-10]
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