[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

[1064.] MARÍLIA PAIS VITERBO DE FREITAS [I] || 1933 - 2015

* MARÍLIA PAIS VITERBO DE FREITAS *
[1933 - 10/08/2015]



Faleceu na segunda-feira, 10 de Agosto, Marília Pais Viterbo de Freitas. 

Prestigiada enfermeira, licenciada em História, membro do grupo Faces de Eva da FCSH da UNL, autora de dezenas de biografias de enfermeiras e colaboradora das obras coletivas Dicionário no Feminino (Séculos XIX-XX) [LIvros Horizonte, 2005] e Feminae - Dicionário Contemporâneo [CIG, 2013], assinando como M. V. F. [Marília Viterbo de Freitas].

Muito lúcida, ponderada e interventiva, a sua participação nas Faces de Eva e nas suas diversas iniciativas constituíram uma mais-valia. Nem nos períodos em que preocupantes motivos de saúde a obrigavam a abrandar deixou de comparecer e de dar o seu contributo.

Se é quase do domínio público a sua persistente intervenção na área da enfermagem, tendo os diversos órgãos associativos destacado o papel de uma vida dedicada à profissão e ao apoio solidário e efetivo a todas as mulheres que a ela recorreram, Marília Viterbo de Freitas foi também uma consequente antifascista, correndo riscos, muitos riscos, em tempos difíceis.

Isabel Lindim, no livro Mulheres de Armas [Editora Objectiva, 2012], dá conta do seu percurso de militante antifascista, iniciado sobretudo na Faculdade de Letras, em finais da década de 1960, quando cursava História, de como passou da consciencialização política à ação e o seu papel altruísta e solidário em albergar nas suas casas ativistas políticos clandestinos, para além de material de propaganda. 

Pelas suas casas passaram, nomeadamente, Vasco Cabral, que na altura "tinha residência fixa em Lisboa e era controlada pela PIDE" [Isabel Lindim, p. 193]  e Carlos Antunes, para além de outras pessoas que "nem sequer chegou a conhecer. Simplesmente confiava em quem as trazia" [p. 194].

Se "foi uma das simpatizantes das Brigadas Revolucionárias que emprestou a casa à organização" [Isabel Lindim, p. 191], soube sempre colaborar com todas as organizações que combatiam a ditadura, mantendo-se como uma mulher de esquerda nos 41 anos subsequentes ao 25 de Abril de 1974.

No Dicionário no Feminino [2005], publicou as biografias de Ana José Guedes da Costa [enfermeira, 14/12/1860 - 12/10/1947]; de Fernanda Falcão Alves Diniz [enfermeira e professora, 08/11/1913 - Novembro de 2001]; e de Maria Fernanda da Silva Rezende [enfermeira, 21/11/1923-3/8/1988].

Em Feminae [2013], saíram as entradas de Laura Guilhermina Martins Ayres [médica e investigadora]; de Lúcia Berner de Vasconcelos [fotógrafa]; de Maria de Lima Mayer Ulrich [escritora e poetisa]; de Maria Eugénia Lopes do Rosário Nunes da Silva Horta [médica, professora e investigadora]; de Maria João Gaudêncio Simões George [arquiteta]; e de Maria Madalena Bagão da Silva Biscaia de Azeredo Perdigão [pianista].

Se todos estes textos constituem leitura incontornável, merecem particular destaque, pelas memórias afetivas, os dedicados à arquiteta Maria João Gaudêncio Simões George [1948-2006], precocemente falecida num desastre de viação, e à médica Maria Eugénia Lopes do Rosário Nunes da Silva Horta [1923-1978], cujo convívio datava de há muitos anos, tendo andado com os filhos mais novos ao colo.

Recentemente, em 2012, publicou o livro Vidas de Enfermeiras.




[João Esteves] 

2 comentários:

Carlos Subtil disse...

Biografia oportuna e que merece ser divulgada junto dos enfermeiros para que saibam que a vida de certos líderes profissionais não é politicamente "asséptica" e que, como é o caso de Marília Viterbo Freitas, a sua acção discreta era política e socialmente comprometida, feita de utopias e de lutas.

João Esteves disse...

Marília Viterbo de Freitas foi sempre uma cidadã comprometida - familiar, profissional e socialmente -, sendo de toda a importância e justiça realçar a sua postura e coragem antifascista, tendo já então um filho pequeno a cargo, bem como a luta intransigente pelos direitos das mulheres. Discreta, sem necessidade de exibicionismos, não era alguém "politicamente asséptica".