[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

[1256.] A LRMP SAÚDA ALEXANDRE BRAGA || 25/01/1912

* LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS || MENSAGEM ENTREGUE A ALEXANDRE BRAGA || 25 DE JANEIRO DE 1912 *

A direcção da LRMP, acompanhada por grande número de sócias [cerca de 250], entregou a Alexandre Braga uma mensagem de agradecimento pela sua apresentação de um projecto de lei sobre os direitos da mulher.

[Direção da LRMP e Sócias junto ao Parlamento || 25/01/1912]

[O Mundo || 26/01/1912]

«Os Direitos da Mulher -
As sócias da Liga Republicana entregam uma mensagem ao sr. Dr. Alexandre Braga
A Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo resolvido entregar ao sr. Dr. Alexandre Braga uma mensagem de felicitação e agradecimento pela apresentação do projecto de lei acerca dos direitos da mulher, convidou ontem as suas sócias a acompanharem a direcção ao edifício do Congresso, onde seria feita a entrega daquele documento. Com efeito umas duzentas e cinquenta senhoras foram ontem, pelas 15 horas, ao palácio de S. Bento em procura do ilustre parlamentar, depositando-lhe nas mãos, depois de lido pela sr.ª D. Maria Veleda, o seguinte documento: 

Ilustre cidadão – Reunida em sessão extraordinária a assembleia geral da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas para apreciar o acto belamente humanitário e da mais alta significação moral que vindes de praticar, apresentando no parlamento um projecto de lei que tem por objecto a emancipação civil e económica da Mulher, a qual até hoje tem vivido numa situação de escrava igualada aos irresponsáveis nos direitos, comparada aos Idiotas, submetida a uma tutela deprimente, tanto para ela como para os seres livres que a exerciam – seus pais ou seus maridos – foi por todas as sócias presentes e que assinam esta mensagem, o vosso nome aclamado como o de um benemérito, digno e nobilíssimo continuador daquele a quem as mulheres portuguesas devem os primeiros fulgores de justiça na sua aurora de libertação. Glória a Afonso Costa! Glória a vós, que, pondo o pé sobre a cabeça viperina do preconceito, levais a mulher até onde ela devia e era justo que fosse elevada. Numa República democrática não se compreendia que a Mulher pudesse permanecer na angustiosa, cruel e aviltante situação em que o Código Civil a mantinha. Não se compreendia que mães de homens livres continuassem sendo escravas. O projecto de lei, que apresentastes ao parlamento, e que este decerto aprovará integralmente, dando a todo o mundo culto mais um grandioso exemplo de solidariedade humana e engrandecendo cada vez mais a República, para que todas nós trabalhámos na medida das nossas forças – a nossa querida República! A nossa República bem amada, tão jovem e já de tanto prestígio! – o projecto de lei que apresentastes ao parlamento, constituiria ele só por si – ainda que outros e muitos outros não tivésseis – um preclaríssimo título de glória. Encarecê-lo mais é inútil: no seu mesmo significado, está o seu maior engrandecimento. Nós vimos simplesmente prestar-vos o tributo da nossa profunda gratidão. Milhares de bocas femininas pro-clamam reconhecidamente o vosso nome. Ele ficará, como um sol de rutilante brilho iluminando as páginas da nossa história. Viva Alexandre Braga! Viva a República! 

(Seguem-se as assinaturas). 

O sr. Dr. Alexandre Braga recebeu as sócias da Liga Republicana num dos gabinetes da câmara, e respondeu com um pequeno discurso, em que agradecia a manifestação, afirmando que ela lhe daria mais força para sustentar o projecto que apresentara. Foram soltados depois muitos vivas ao seu nome e à República. 

O sr. Dr. Magalhães Lima, que tinha prometido incorporar-se na manifestação e apresentar a direcção da Liga ao sr. Dr. Alexandre Braga, não compareceu por estar àquela hora impedido junto de um amigo que necessitava da sua presença para um acto solene.»

[O Mundo, 26/01/1912]

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