[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

[1646.] BENTO GONÇALVES [I] || A MORTE NO TARRAFAL (1902 - 1942)

* HÁ 75 ANOS, BENTO ANTÓNIO GONÇALVES FALECIA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL *

[02/03/1902 - 11/09/1942]

Quando Bento Gonçalves, Secretário-Geral do Partido Comunista Português, faleceu no Tarrafal, vítima de uma biliose, já tinha cumprido a pena a que fora condenado pelo Tribunal Militar Territorial em 3 de Agosto de 1936.

Filho de Germana Alves e de Francisco Gonçalves, Bento António Gonçalves nasceu em 2 de Março de 1902, em Fiães do Rio (Montalegre - Trás-os-Montes).

[Seara Nova || 1976]

Segundo António Ventura, no livro Bento Gonçalves. Escritos (1927-1930) [Seara Nova, 1976], e a "Contestação de Bento Gonçalves à secretaria do Tribunal Militar Especial" [Os Comunistas 1 - Bento Gonçalves, Opinião, 1976], aos 13 anos, depois de concluída a instrução primária, já se encontrava a trabalhar em Lisboa, no Bairro da Sé, como torneiro de madeira e, posteriormente, tornou-se aprendiz de torneiro mecânico, profissão que manteve até ao fim da vida.

Com pouco mais de 17 anos, em 29 de Outubro de 1919, foi admitido como aprendiz no Arsenal da Marinha, onde onze anos depois, em 29 de Setembro de 1930, seria preso, e aí se manteve até 1933 como operário metalúrgico do quadro (oficinas de máquinas).

Frequentou, segundo o próprio, a Escola Industrial Afonso Domingues e, em 16 de Junho de 1922, foi alistado no Exército: aí fez serviço efectivo na Escola de Condutores Militares de Automóveis, tirou o 2.º ano do Curso elementar de Pilotagem na Escola Auxiliar de Marinha e embarcou, em Janeiro de 1924, para Angola onde, até 1926, trabalhou como torneiro mecânico de primeira classe nas Oficinas Gerais do Caminho de Ferro de Luanda e colaborou com o Sindicato dos Operários locais.

[A Opinião || 1976]

Licenciado em 25 de Março de 1926, regressou a Portugal e, no ano seguinte, iniciou a sua actividade sindical ao intervir activamente na reorganização do Sindicato do Pessoal do Arsenal da Marinha, sendo eleito Secretário-Geral da sua Comissão Administrativa.

[Alberto Vilaça || Bento Gonçalves. Inéditos e Testemunhos || Edições Avante!, 2003]

Em Outubro de 1927, aquando do décimo aniversário da Revolução de Outubro, deslocou-se à Rússia, tendo Alberto Vilaça inserido uma fotografia desse tempo no seu livro dedicado a Bento Gonçalves [Edições Avante!, 2003]. Esta fotografia da Delegação Portuguesa ao Congresso dos Amigos da URSS consta dos Arquivos em Moscovo, tendo João Arsénio Nunes obtido uma reprodução [p. 66].

[Alberto Vilaça || Bento Gonçalves. Inéditos e Testemunhos || Edições Avante!, 2003]

Em 1928, em 20 de Setembro, convicto que "só o bolchevismo poderá conduzir a nossa classe à emancipação integral", tornou-se militante do Partido Comunista, sendo Secretário da Célula do Arsenal da Marinha e, em 21 de Abril do ano seguinte, com apenas 26 anos, foi eleito Secretário-Geral e participou na sua reorganização tendo em conta as condições resultantes do triunfo da Ditadura Militar de 28 de Maio de 1926: "não se podia aceitar a inactividade de trabalho comunista, tanto legal, como ilegal, neste momento em que [...] toda a nossa organização operária se afunda em pleno marasmo, tanto do ponto de vista de ideologia, como de acção sindical". 

Em 29 de Setembro de 1930, é preso no seu local de trabalho e enviado para o forte de S. Julião da Barra (8 de Outubro), de onde seguiu para os Açores, Lajes do Pico, com residência fixa. 

Em 15 de Fevereiro de 1931, foi transferido para Cabo Verde, para as ilhas do Sal e Fogo, de onde regressou em Fevereiro de 1933.

Nesse mesmo ano, em 9 de Agosto, Bento Gonçalves entrou na clandestinidade, tendo sobrevivido devido ao apoio e cotização de militantes do Partido Comunista e doutros opositores à Ditadura, como Francisco Pulido Valente: Armindo Rodrigues, no livro Um poeta recorda-se - Memórias de uma vida [Edições Cosmo, 1998], refere que uma "tarde procurei-o com uma ponta de comoção e contei-lhe que o secretário-geral do Partido Comunista Português, o camarada Bento Gonçalves, força exclusiva que sem tréguas combatia a ditadura do Salazar, atravessava dificuldades tremendas, até fome sofrendo, e que urgia dinheiro para ele. Imediatamente se levantou, foi ao casaco que guardava num compartimentozinho, dele tirou a carteira [...]".

Em Julho-Agosto de 1935, interveio no VII Congresso da Internacional Comunista organizado em Moscovo, sendo preso, juntamente com José de Sousa e Júlio Fogaça, pouco tempo depois do seu regresso, em Novembro.

Transferido para o Aljube em 20 de Dezembro de 1935, foi deportado para Angra do Heroísmo em 8 de Janeiro de 1936, condenado a 4 anos de prisão e enviado para o Tarrafal, onde chegou a 29 de Outubro do mesmo ano. Mesmo longe, vivendo em condições inimagináveis para os vindouros, é (mais uma vez) um dos obreiros da reorganização do Partido Comunista iniciada e concretizada em 1941-1942. Aí dirigiu a Organização Prisional Comunista e redigiu "Palavras Necessárias" e "Duas Palavras".

Nome muito respeitado por todos aqueles que com ele conviveram no local de trabalho, na tropa, no Partido Comunista, nas prisões e deportações, Bento Gonçalves faleceu aos 40 anos, sem a devida assistência médica no Campo de Concentração do Tarrafal. Já tinha cumprido a pena a que fora condenado, sendo, pois, mais uma vítima das muitas arbitrariedades do fascismo.


[Alberto Vilaça || Bento Gonçalves. Inéditos e Testemunhos || Edições Avante!, 2003]

Em 1973, Virgínia de Moura editou Palavras Necessárias. A vida do proletária em Portugal de 1872 a 1927, com introdução sua e de António Lobão Vital.


[Edição de Virgínia Moura || Fevereiro de 1973]

Em 11 de Setembro de 1974, no 32.º Aniversário da sua morte, realizou-se uma sessão evocativa no Arsenal da Marinha/Alfeite, estando presentes centenas de operários, assim como Francisco Miguel e Pedro Soares que estiveram com ele no Tarrafal.

[Augusta Madaleno Rodrigues e António Policarpo || Bento António Gonçalves. Vida e descendência em Portugal e Cabo Verde || Edições Avante! 2012]

[João Esteves]

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