[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

[2195.] ANTÓNIO MARREIROS [I] || MARINHEIRO DEPORTADO PARA O TARRAFAL

* ANTÓNIO MARREIROS *
[06/01/1910 - 12/07/1971]

Este esboço biográfico de António Marreiros, "aquele que esteve preso no Tarrafal porque era contra o Salazar" [p. 37] só se tornou possível a partir do rigoroso livro José António Cabrita A PIDE em Pinhal Novo. Para que a memória não esmoreça [Câmara Municipal de Palmela, 2017], sendo que as informações apresentadas e documentação referida têm por suporte aquela obra.

[António Marreiros || ANTT || RGP/4261 || PT-TT-PIDE-E-010-22-4261]

Filho de Gertrudes da Conceição [18/09/1889 - 16/01/1958] e de Nicolau Florentino [1883 - 23/10/1961], António Marreiros nasceu em Ferrarias, freguesia de Algoz - concelho de Silves, em 6 de Janeiro de 1910.

[Processo SPS n.º 1985, 2.º vol. || PT-TT-PIDE-E-009-1985-2_m0191]

Carpinteiro e ainda a viver na freguesia de Algoz, casou com Rosália da Trindade Cabrita [m. 11/05/2000]. Posteriormente, já a viver na Cova da Piedade, ingressou na Marinha de Guerra, sendo grumete de manobra do navio Bartolomeu Dias aquando da revolta dos marinheiros de 8 de Setembro de 1936.

[Processo SPS n.º 1985, 1.º vol || PT-TT-PIDE-E-009-1985-1_m0090]

Preso nesse mesmo dia e entregue pelas autoridades da Marinha à PVDE, foi enclausurado na Mitra, transferido para a Penitenciária dez dias depois e julgado pelo Tribunal Militar Especial em 13 de Outubro, sendo condenado a 5 anos de prisão maior celular, seguidos de dez anos de degredo ou, em alternativa, a 17 anos de degredo em possessão de 2. Classe. 
 
[Processo SPS n.º 1985, 2.º vol. || PT-TT-PIDE-E-009-1985-1_m0164]

Pena pesadíssima para quem não dirigiu a revolta, apesar de ter participado nela, andando armado e ter passado para o navio Afonso de Albuquerque para o sublevar.

[Processo SPS n.º 1985, 2.º vol. || PT-TT-PIDE-E-009-1985-2_m0191]

Quatro dias depois, em 17 de Outubro, António Marreiros embarcou no cargueiro Luanda a caminho do Tarrafal, de onde só sairá em Junho de 1953, mas para ainda dar entrada no Forte de Peniche.

Com mais 37 marinheiros que participaram no levantamento de Setembro, integrou a primeira leva de presos que inaugurou o Campo de Concentração, chegando na tarde de 29 de Outubro de 1936.

Aí permaneceu quase 17 anos, tendo por directores do Campo os capitães Manuel Martins dos Reis (1936-1937), José Júlio da Silva [17/11/1937 - 20/10/1938] e João da Silva [1938 - 1940], que saiu dali para dirigir a prisão do Forte de Caxias, José Olegário Antunes [1940 - 1943], que estivera à frente do Forte de São João Baptista, Filipe do Nascimento Barros [1943 - 1945] e, por fim, David Prates da Silva [1945 - 1954].

António Marreiros, que pertencia à Organização Comunista Prisional, integrou a duríssima Brigada Brava, uma criação do PIDE Henrique de Sá e Seixas e conheceu a "frigideira", onde penou 42 dias: "A história de António Marreiros, no Tarrafal, é a história de uma bruteza sem limites" [p. 62]: "Dele, provindas de punho próprio, não se revelaram cartas, ou outros escritos [...]. De António,  o que se pode ler são as dedicatórias postas no verso de meia dúzia de fotografias, todas com datas do ano de 1950" [p. 62].

[António Marreiros || Dezembro de 1949 ? || Fotografia do Acervo do filho, publicada por José António Cabrita em A Pide em Pinhal Novo]

A sua família recebeu notícias e fotografias, como a de cima, aquando da ida ao Tarrafal de Herculana e Luís Alves Carvalho, em finais de 1949, para ver o filho Guilherme da Costa Carvalho, também aí encarcerado. 

Só sairia do Tarrafal em Junho de 1953, sendo levado para Peniche, onde permaneceu preso alguns meses.

Quando foi libertado, depois de 17 anos de clausura, tinha 43 anos, os seus pais já tinham falecido sem nunca os ter voltado a ver, o filho contava 22 anos e meio.

[António Marreiros || ANTT || RGP/4261 || PT-TT-PIDE-E-010-22-4261]

Estabeleceu-se, então, em Pinhal Novo, terra onde já tinha familiares, tomando, por trespasse, uma taberna.

Como escreve José António Cabrita a finalizar o capítulo dedicado a este tarrafalista, "Bandidos! Canalhas! Era quase só o que se escutava de António Marreiros, o que esteve no Tarrafal porque era contra o Salazar, no tempo que lhe sobrou de vida depois do seu martírio no pântano da morte" [p. 69].

Fontes:
José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo. Para que a memória não esmoreça, Câmara Municipal de Palmela, 2017, pp. 33-69.

ANTT, Registo Geral de Presos 4261 [António Marreiros / PT-TT-PIDE-E-010-22-4261].

ANTT, Processo SPS n.º 1985, 1.º vol. [PT-TT-PIDE-E-009-1985-1] e Processo SPS n.º 1985, 2.º vol. [PT-TT-PIDE-E-009-1985-2].

[João Esteves]

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