[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 5 de maio de 2020

[2368.] 1.º FESTIVAL NACIONAL DA JUVENTUDE [I] || 15 DE MAIO DE 1955

* 1.º FESTIVAL NACIONAL DA JUVENTUDE  || 1955 *

DOMINGO, 15 DE MAIO DE 1955

[Portugal Democrático || N.º 3 || 01/98/1956 || ANTT || PT-TT-JPD-0001_m0026]

No dia 15 de Maio de 1955, quase clandestinamente, realizou-se na margem sul do Tejo o 1.º Festival Nacional da Juventude, sob o lema "PARA A PAZ PELO CONHECIMENTO", evento que preparava a representação ao V Festival Mundial da Juventude para a Paz e a Amizade, a decorrer em Varsóvia, na Polónia, e que integraria vários membros do MUD Juvenil. 

O local escolhido foi um pinhal no Laranjeiro e, nesse domingo de Maio, grupos de "moços e moças, estudantes e trabalhadores" apanharam o barco no Terreiro do Paço, desembarcaram em Cacilhas e apanharam a camioneta para o local previamente escolhido e montado no dia anterior. À entrada, um grande cartaz com os dizeres "PAZ E AMIZADE!" e, pregado nas árvores, o programa das actividades programadas para o dia.

No recinto havia uma "Exposição", com livros, desenhos de pintores portugueses, a pomba branca de Picasso, fotografias oferecidas pelo realizador Manuel de Guimarães [1915 - 1975] de todos os seus filmes e gravuras chinesas; o bufete; uma orquestra para o baile; e campos de jogos, onde rapazes e raparigas conviveram animadamente. Praticaram voleibol, realizaram uma corrida de sacos, ganha por um jovem engenheiro de Lisboa, e envolveram-se em jogos como o dos rebuçados, das agulhas, das bilhas e dos ovos. 

"Estudantes, operários e camponeses confraternizavam", não só jovens mas, também, homens e mulheres de todas as idades. Compareceram ao evento, escritores, poetas e jornalistas, para além de António Sérgio, presente na parte da manhã, o realizador Manuel de Guimarães, a actriz Maria Olguim [1898 - 1984] e um jurista francês da Associação dos Juristas Democratas, a quem foi oferecido um saco feito pelos presos políticos de Caxias e ofertado ao Festival. 

Entoaram-se diversas canções, leram-se poemas, dançou-se, houve discursos, gritou-se pela Paz em Goa e a preceder a representação do "Auto da Isaura Silva", alusivo à enfermeira do MUD Juvenil que se encontrava presa desde 1953, uma intervenção sobre teatro da autoria de António José Saraiva. A assistir, Hortênsia Assunção da Silva, irmã de Isaura Silva, que interveio, pedindo que se lutasse pela sua libertação, e cerca de 400 pessoas assinaram um abaixo-assinado a solicitar a sua hospitalização.

[Portugal Democrático || N.º 3 || 01/98/1956 || ANTT || PT-TT-JPD-0001_m0026]

Terão passado pelo Festival, segundo números da organização, cerca de 700 pessoas, vindas de várias partes do país.

Na sequência deste encontro, foram presos vários jovens e membros do MUD Juvenil associados à sua organização. Um deles, foi José Prudêncio, detido, segundo registo policial, em 3 de Julho de 1955.

[João Esteves]

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