[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

[1175.] FEMINISMO || "JORNAL DA MULHER" - 07/07/1906

* FEMINISMO *

"JORNAL DA MULHER" || 07/07/1906

O “Jornal da Mulher” [O Mundo], de 7 de Julho de 1906 continua a pronunciar-se sobre o “Feminismo”:

«Feminismo

I
Por uma dessas aberrações do entendimento dos homens nunca se pensou até agora em preparar as mulheres para o seu mister de mães de família.

A maior parte dos homens entendem que toda a mulher medianamente inteligente sabe, como por instinto, executar facilmente os trabalhos do lar doméstico e que portanto não é preciso ensinar-lhos.

É um grande erro. O governo da casa carece de ensino, como qualquer outra coisa. Além disso os espíritos reflectidos sabem que nada se aprende sem esforço e sem método.

Algumas pessoas, é verdade, têm por si próprias chegado a possuir uma certa habilidade nos trabalhos domésticos, mas, para conseguirem isso, quanto tempo perdido, quantas dificuldades vencidas.!

É de um grande alcance social a questão culinária. 

Se é verdade que a questão social é, antes de tudo, uma questão de estômago, está claro que há dias aqui fizemos, pedindo para a mulher que trabalha um salário normal e remunerador, é unicamente um dos pólos magnéticos da questão. O outro pólo consiste na ciência e arte de utilizar o salário.

Para o homem a dificuldade de ganhar a vida deveria encontrar o seu contrapeso na habilidade da mulher em empregar os recursos com acerto, método e economia.

Seria de uma grande vantagem para a sociedade que os serviços de administração e de intendência fossem reservados à mulher, mas com a condição de lhos retribuírem.

Umas das reformas mais justas e que deveriam ser introduzidas nos costumes e nas leis, seria o princípio da remuneração dos serviços domésticos. As nossas estatísticas oficiais estabelecem hoje, em toda a parte, que um terço do mundo operário se compõe de mulheres. Ora deveriam mais que dobrar esse número. Não cometem os homens uma grande injustiça para com o sexo feminino, considerando inocupados os milhões de mulheres absorvidas pelos trabalhos domésticos? Os cuidados caseiros e a educação dos filhos são funções indispensáveis à ordem social e requerem um trabalho sério e esforços persistentes. Todo o trabalho merece salário. Quando as nossas criadas recebem um ordenado remunerador, pelo contrário, a esposa, a dona da casa, que trata o homem, cuida do lar, gera, amamenta e educa os filhos, não recebe retribuição algum em troca de todos esses inapreciáveis serviços! A solução consistiria em fundar a união conjugal, no ponto de vista dos interesses materiais, sobre as mesmas bases que as nossas sociedades comerciais e em estabelecer uma liquidação periódica do excedente disponível dos recursos. Esse excedente seria dividido entre os esposos em partes iguais, ou em quotas partes, cujo quantum respectivo seria fixado nas convenções matrimoniais.

(Continua).» 


[O Mundo || 7 de Julho de 1906]

[João Esteves]

Sem comentários: