[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 21 de março de 2018

[1773.] FRANCISCO SILVÉRIO MATEUS [I]

* FRANCISCO SILVÉRIO MATEUS || PARTICIPAÇÃO NO 18 DE JANEIRO DE 1934 || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO (1934 - 1936) E, DEPOIS, PARA O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL (1936 - 1949) *

Militante comunista desde o início da década de 1930, Francisco Silvério Mateus teve intervenção directa nos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934, em Lisboa. Preso e condenado a 12 anos, só saiu em liberdade condicional após mais de quinze anos e meio de cativeiro, treze deles no Tarrafal.

Como muitos outros nomes, desconhece-se o seu percurso político para além do que consta dos registos policiais, os quais devem sempre ser analisados com as devidas precauções e interrogações.

[Francisco Silvério Mateus || 1934 || ANTT || RGP/70]

Filho de Maria da Conceição e de Silvério Mateus, Francisco Silvério Mateus nasceu em 27 de Janeiro de 1903, em Vila Franca de Xira.

Pedreiro, com residência em Lisboa, na Vila Ferreira - Calhariz, terá aderido no início da década de 30 ao Partido Comunista por intermédio de Agostinho dos Reis, nome que, no entanto, nunca foi detido nem consta de outra documentação.

Por indicação de Agostinho dos Reis, organizou uma Célula na zona de Benfica, de que seria o Secretário, composta por Joaquim Bacalhau [?] e Mário de Almeida Pinto [RGP/282]. 

Decorridos cerca de dois anos, talvez em 1933, terão entrado para aquela Célula Américo da Silva [RGP/540], Américo Fernandes [RGP/34] e José Ramalho [RGP/329]. 

Segundo o seu Cadastro Político [ANTT, Cadastro 5193], Francisco Silvério procedeu, por indicação de Agostinho dos Reis, à organização do Comité de Zona Nº 3 do Partido Comunista, integrando-o os nomes acima referenciados.

Além de controlar a Célula Nº 3, composta por Carlos José Esteves [RGP/314] e Joaquim Bacalhau, Francisco Silvério Mateus assegurava a ligação daquele Comité de Zona ao Comité Regional de Lisboa do Partido Comunista.

[Francisco Silvério Mateus || 1934 || ANTT || RGP/70]

No âmbito das actividades do Comité de Zona Nº 3, por indicação de Agostinho dos Reis, Francisco Silvério Mateus interveio nos preparativos da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, juntamente com Américo Fernandes e Joaquim Bacalhau, cabendo-lhes actuar junto às portas das fábricas de Benfica e inutilizar a rede eléctrica, entre outras acções locais. 

No dia 18, reuniu-se com Américo Fernandes, Joaquim Bacalhau, José Pires, José Ramalho e Renato Duarte Simões [RGP/5660], entre outros, de forma a executarem um atentado contra a locomotiva de comboio que, à meia-noite, costumava passar pela Estação de Benfica. No entanto, só Francisco Silvério Mateus e Américo Fernandes estiveram envolvidos no lançamento de duas bombas [Processo 1075/SPS].

Preso em 24 de Fevereiro de 1934 e julgado em 14 de Agosto, foi condenado a doze anos de degredo, com prisão, multa de vinte mil escudos, ficando à disposição do Governo [Processos 153/934 e 162/934, do Tribunal Militar Especial].

Apesar do recurso interposto, o mesmo Tribunal, reunido em 1 de Setembro, manteve a sentença. 

Francisco Silvério Marques embarcou para Angra do Heroísmo em 23 de Setembro de  1934 e dois anos depois, em 23 de Outubro de 1936, integrou a primeira leva de presos políticos enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal. 

[Presos no Tarrafal - Década de 40 || Francisco Silvério Mateus está na 3.ª Fila, com casaco e gravata Fotografia retirada de Antifascistas da Resistência

Em 1945, subscreveu a exposição dirigida por presos políticos no Tarrafal à Comissão Executiva do Movimento de Unidade Democrática (MUD), onde se saúda e apoia as resoluções tomadas na sessão de Outubro de 1945. Subscreveram-na ainda, António Batista, António Gato Pinto, António Franco Trindade, António Gonçalves Coimbra, Armindo Guimarães, Constantino, Eurico Martines Pires, Jaime Tiago, João Maria, Joaquim Pedro e Tomás Marreiros [Casa Comum/Fundação Mário Soares]. 

Posto à disposição do Ministério da Justiça em 31 de Dezembro de 1945, o Tribunal de Execução das Penas só lhe concedeu a liberdade condicional em finais de 1949, com as seguintes condições: "fixação de residência na Colónia de Cabo Verde, sem prejuízo da vinda à Metrópole, mediante autorização"; "não frequentar meios ou locais, especialmente procurados por indivíduos suspeitos"; "não acompanhar com pessoas de má conduta, designadamente antigos companheiros, que tenham estado ligados a quaisquer actividades subversivas"; e "aceitar a protecção e indicações de uma instituição de Patronato ou de pessoa encarregada de a exercer".

[Francisco Silvério Mateus || 1934 || ANTT || RGP/70]

Saiu em liberdade condicional, por três anos, em 23 de Dezembro de 1949, ao fim de quase dezasseis anos de prisão e depois ter ter já cumprido a pena a que fora condenado.

Regressou em 13 de Fevereiro de 1950 e só obteve a liberdade definitiva em 13 de Dezembro de 1952, passando a residir na Travessa da Pereira, 11, 3.º dto - Lisboa.

Fontes: 
ANTT, Cadastro Político 5193 [PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0715, m0715a, m0715b, m0715c].
ANTT, Registo Geral de Presos / 70 [Francisco Silvério Mateus / PT-TT-PIDE-E-10-1-70_c0154].
ANTT, Fotografia de Francisco Silvério Mateus / 2419 / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0006].


[João Esteves]

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