[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 31 de janeiro de 2016

[1328.] EMÍLIA DIONÍSIA FERREIRA DOS SANTOS SILVA VERDIAL [I] || REPUBLICANA, FEMINISTA E ANTIFASCISTA

* EMÍLIA SANTOS SILVA [VERDIAL] *

REPUBLICANA, FEMINISTA E ANTIFASCISTA || PORTO

[Emília Santos Silva || A Pátria || 14/02/1911 || in Fina d'Armada, As mulheres na implantação da República || 2010]

Professora primária, republicana e democrata portuense. 

Filha de Ana Teixeira [f. 01/06/1894] e de Dionísio Ferreira dos Santos Silva [1853-1920], comerciante de chapelaria, proprietário de jornais e um dos envolvidos na revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891, tendo sido detido no Aljube do Porto e enviado para bordo do paquete Moçambique, onde seria julgado em Conselho de Guerra e absolvido.

Irmã do médico republicano Eduardo Ferreira dos Santos Silva [18/03/1879 - 14/09/1960] e de mais três professoras [Elvira, Etelvina e Evangelina], sendo que todos os nomes começavam pela letra E. 

Emília Santos Silva casou com o oposicionista ao Estado Novo Mem Tinoco Verdial [n. 03/12/1887], engenheiro industrial e professor nos Institutos Industriais de Lisboa e Porto e Instituto Comercial do Porto, deputado pelo Partido Democrático entre 1919 e 1921 e, posteriormente, activista do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Também o sogro de Emília Santos Silva, o ator Miguel Henriques Verdial [1849-1922, bisavô de Sérgio Godinho], era outro dos revolucionários do 31 de Janeiro, tendo sido degredado para África.

Oriunda de uma família portuense conhecida pelo republicanismo e combate antisalazarista, a sua intervenção cívica prolongou-se por décadas. 

Enquanto professora no Clube Republicano Rodrigues de Freitas, no Porto, foi, durante a Monarquia, a primeira oradora republicana daquela cidade [Fina d’Armada].

Em carta enviada ao irmão, datada de 3 de Janeiro de 1910, propõe-se discutir, «ou antes debiquemos um pouco sobre feminismo», assumindo-se como intransigente defensora dos direitos das mulheres em igualdade com os dos homens, pois não reconhecia às mulheres direitos diferentes dos daqueles. Nessa significativa missiva, rebate ponto por ponto a opinião de Eduardo Santos Silva de que «a mulher deve pugnar pelos seus direitos e não pelos mesmos direitos do homem, porquanto ela não é igual a ele», concluindo que a «Humanidade tanto se compõe de homens como de mulheres e não pode haver duas liberdades diferentes e antagónicas, uma para cada sexo. E é por isso, caro Eduardo, que eu queria - e por que não? - ver a mulher associada a todos os ramos da atividade humana.» [in Gaspar Martins Pereira, Eduardo Santos Silva. Cidadão do Porto (1879-1960), Campo das Letras, 2002].

Em Fevereiro de 1911, foi nomeada professora da Escola Normal do Porto.


[Diário do Governo || 44 || 23 de Fevereiro de 1911]

Pertenceu, tal como a cunhada, a actiz Alda Henriques Verdial [Godinho] [15/05/1889 - 26/01/1964], avó de Sérgio Godinho, e outros familiares ao Núcleo Feminino de Assistência Infantil, criado em 30 de Agosto de 1916 no âmbito da Junta Patriótica do Norte, e foi subscritora permanente da Casa dos Filhos dos Soldados, destinada a acolher e educar os órfãos de guerra. 

Nos anos 40, era directora da Escola Primária da Fábrica de Têxteis de Pinto de Azevedo, na Areosa.

Mãe de seis filhos, um dos quais Rolando dos Santos Silva Henrique Verdial [n. 22/05/1924] com responsabilidades clandestinas no Partido Comunista Português. 

Emília Santos Silva Verdial foi vítima das perseguições à família durante a ditadura do Estado Novo e faleceu em 7 de Outubro de 1960, no regresso de uma visita ao filho, então preso em Caxias. 

Segundo o jornal Avante!, de Novembro de 1960, o seu desaparecimento foi acelerado pela forma desumana e humilhante como a PIDE a tratou, não atendendo sequer à sua idade avançada: começou por impedir a visita do dia 6 de Outubro pelo facto de Emília e Mem Verdial, vindos do Porto, terem chegado minutos depois da hora regulamentar; no dia seguinte concederam-na, mas não foi permitida aos pais que se aproximassem do preso, o beijassem e abraçassem; e o desenlace fatal deu-se no regresso a casa, chegando já sem vida à sua residência. 

O sucedido serviu para o Avante! alertar para a forma como o regime ditatorial tratava os familiares e presos desde sempre, assinalando que «milhares de pessoas, numa significativa manifestação de dor e de repulsa, incorporaram-se no funeral de D. Emília Verdial, uma Mãe portuguesa como tantas e tantas outras, vítimas do ódio do ditador fascista ao longo destes 34 anos» [“D. Emília Verdial morta em consequência das perseguições às famílias dos presos”, Avante!, n.º 295, Novembro de 1960]. 

Emília Dionísia Ferreira dos Santos Silva faleceu menos de dois meses depois do desaparecimento do irmão Eduardo, falecido a 14 de Setembro de 1960.

Em 1962, aquando da evocação em ditadura do dia 8 de Março no Porto, entre as iniciativas constava o apelo «para que se cobrissem de flores as campas de Herculana de Carvalho [1900-1952] e Emília Verdial, mães dos dirigentes comunistas Guilherme da Costa Carvalho e Henrique Nuno Verdial» [Manuel Tavares, Feminismos. Percursos e Desafios (1947-2007), Texto Editores, 2010, p. 136].

Apesar da intervenção pública de Emília Santos Silva e, provavelmente de uma ou outra irmã, a atenção tem recaído unicamente sobre o progenitor e descendentes masculinos.

NOTA: No seu livro Republicanas quase desconhecidas [Temas e Debates, 2011], Fina d'Armada insere uma fotografia do casal Alda Verdial/Francisco Magalhães Godinho, cunhados de Emília Santos Silva Verdial [p. 97].  

[João Esteves]
[actualizado em 16 de Abril de 2017]

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