* ARTUR DE OLIVEIRA SANTOS *
[22/01/1884 - 27/06/1955]
Republicano prestigiado em Ourém, Artur de Oliveira Santos testemunhou, em Lisboa, a Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Foi Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém quando do fenómeno de Fátima e combateu a Ditadura Militar desde o seu início.
Participou na Revolta de 20 de Julho de 1928, esteve preso e exilou-se em Espanha em 1931, onde interveio na Guerra Civil, aí permanecendo até 1939/1940.
[Artur de Oliveira Santos || 12/01/1950 || ANTT]
Filho Maria da Conceição Pereira e de Acácio de Oliveira, Artur de Oliveira Santos nasceu em 22 de Janeiro de 1884, em Vila Nova de Ourém, e faleceu em 27 de Junho de 1955, em Lisboa, com 71 anos.
Operário funileiro, tendo aberto no início do século XX uma oficina de latoaria denominada "A Social", foi ainda escritor e jornalista.
Fundou os periódicos Voz de Ourém e Povo de Ourém e colaborou nos jornais O Baluarte, A Capital, O Debate (Santarém), O Mundo, O País, O Povo, A Razão, O Rebate, A República (dirigido por Artur Leitão), A República Portuguesa, A Resistência (Coimbra), O Século, A Vanguarda e A Voz da Justiça (Figueira da Foz).
Iniciado na Maçonaria em 1907, esteve associado à fundação, em 3 de Novembro, do Centro Republicano Democrático e, no mesmo ano, integrou, como Vogal, a Comissão Municipal de Ourém do Partido Republicano Português.
Em 1909, fundou o Centro Republicano Dr. António José de Almeida, o qual se manteve até 1913.
Em 2 de Outubro de 1910, deslocou-se a Lisboa para presenciar a revolução republicana, sendo uma das suas testemunhas oculares. Aí permaneceu até ao dia 7, regressando a Ourém para içar, com Álvaro Mendes, a bandeira republicana no castelo da velha Ourém [José Poças, "Artur de Oliveira Santos e a implantação da República"].
De seguida, entre 1910 e 1913, exerceu cargos na vereação da Câmara Municipal de Vila Nova de Ourém: Vogal (1910); Presidente, Vice-Presidente e Vereador (1911); e Vereador (1913).
Na sequência da Revolução de 14 de Maio de 1915, foi nomeado interinamente Administrador daquele concelho, cargo que exerceu até 8 de Dezembro de 1917. Coube-lhe, então, a decisão de inquirir as crianças que diziam ter visto e falado com a Virgem Maria.
Voltou a ser seu Administrador, sendo demitido do cargo após o 28 de Maio de 1926.
[Artur de Oliveira Santos || 04/09/1928 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
Com o advento da Ditadura Militar, foi demitido, por motivos políticos, das funções que exercia no Ministério das Colónias e, em 1 de Setembro de 1928, «foi preso por estar implicado nos acontecimentos revolucionários de 20 de Julho» [ANTT, Cadastro Político 280].
[Artur de Oliveira Santos || 04/09/1928 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
Libertado em 28 de Maio de 1929, foi-lhe imposta a proibição de regressar a Santarém [Processo 3996].
Vigiado pela Polícia de Informações de Santarém, foi assinalada a sua presença em Chão de Maçãs em 7 de Maio de 1930.
[Artur de Oliveira Santos || 04/09/1928 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
No ano seguinte, na noite de 1 para 2 de Maio, atribuiu-se a Artur de Oliveira Santos, em colaboração com João Violante, Manuel Rodrigues Antunes e Sebastião Anastácio Júnior, a responsabilidade pelo levantamento das linhas do caminho-de-ferro e corte das comunicações telefónicas e telegráficas junto do Túnel de Albergaria [Processo 5001].
Nesse mesmo ano de 1931, exilou-se em Espanha e manteve contactos com os grupos oposicionistas à Ditadura, encontrando-se documentação no Arquivo Casa Comum, da Fundação Mário Soares. É possível ler as missivas para Bernardino Machado no Blogue do Dr. Manuel Sá Marques.
Com a Guerra Civil, trabalhou como maqueiro e prestou serviço em diversos hospitais. De regresso a Portugal, terá sido preso entre 5 de Janeiro e 16 de Março de 1940.
Utilizou o pseudónimo João de Ourém e casou com Idalina de Oliveira Santos, de quem teve vários filhos.
Faleceu em Lisboa em 27 de Junho de 1955.
[Diário de Lisboa || 28 de Junho de 1955]
Tomás da Fonseca dedicou-lhe o seu livro Fátima (cartas ao Cardeal Patriarca de Lisboa): «À memória do íntegro cidadão Artur de Oliveira Santos – que, no exercício das suas funções de Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém, muito se esforçou para evitar o embuste de Fátima – principal origem do descrédito e falência moral da Igreja, que perfilhou e explora com a repulsa dos cidadãos verdadeiros» [Rio de Janeiro, Editorial Germinal, 1955].
Sérgio Ribeiro, em declarações ao Diário de Notícias de 5 de Maio de 2017, considera Artur Oliveira dos Santos "inesquecível" e "um amigo excepcional": "Era um homem de raiz operária. Depois era um homem culto, da propaganda republicana. E era um activista político".
NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Fontes:
ANTT, Registo Geral de Presos / 11952 [Artur de Oliveira Santos]
ANTT, Cadastro Político 280 [Artur de Oliveira Santos] [PT-TT-PIDE-E-001-CX07_m0506, m0506a].
ANTT, Livro de Cadastrados, Fotografia 1601 [Artur de Oliveira Santos / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0005].
[João Esteves]
1 comentário:
Por portas e travessas de outras buscas e fontes de informação chegou-me, inopinadamente este post. Surpreendeu-me e emocionou-me. A lembrança do ti'Artur é indelével e vê-lo lembrado deixa-me parado no tempo. Que não para... Fico, por isso, grato a quem consegue o que não é possível! Nem a gralha no nome (Ribeiro dos Santos em vez de Oliveira Santos) me minguou o sentimento provocado pela leitura.
Muito obrigado. Artur de Oliveira Santos merece ser lembrado como figura da nossa História... que é também da minha pequenina história de vida.
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