* JOSÉ MARIA SOARES BORREGO *
[27/03/1918 - ]
[José Borrego || Fotografia de 14/04/1947 || ANTT || RGP/17439]
Quarto filho de Maria José Soares Borrego e de José Maria Borrego Júnior, José Maria Soares Borrego nasceu em 27 de Março de 1918, em Castelo Branco, onde o pai se encontrava com escrivão de direito.
O pai, «militante e propagandista do Partido Democrático de Afonso Costa» e que, quando jovem escrivão de direito em Figueira de Castelo Rodrigo e em Castelo Branco, tinha sido «proprietário, director, redactor e repórter de jornais progressistas e até mesmo proprietário de tipografias várias vezes "empastelada" pelos reaccionários, que o ameaçavam e atacaram várias vezes à paulada, a soco e a tiro», era um democrata e opositor à Ditadura Militar, muito contribuindo para a formação humana e política dos cinco filhos.
Com oito anos, estando a família já a residir no Porto, José Borrego assistiu à Revolta de 3 de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura Militar, disso dando conta num texto que publicou em 1982, na revista História [n.º 40, Fevereiro], intitulado "Fevereiro de 1927: crónica de uma revolta falhada".
[História || Nº 40 || Fevereiro de 1982]
Esses cinco dias intensamente vividos, constituíram uma lição «que nos deixaria marcas que não mais se apagariam».
Em 1936, com dezoito anos, entrou na Escola de Belas-Artes do Porto, onde se evidenciou como activista estudantil.
Em 4 de Dezembro de 1939, juntamente com os colegas Amândio da Silva, Celestino de Castro, Fernando Monteiro, Francisco Valente, Hernâni Moreira, Joaquim Bento de Almeida, Maria Margarida Soares e Nadir Afonso, assinou a carta enviada ao Ministro da Educação a solicitar autorização para, ao abrigo do decreto regulamentar 21.566 de 6 de Agosto de 1932, fundar a Associação Académica de Belas-Artes do Porto [Gonçalo Esteves de Oliveira do Canto Moniz, O Ensino Moderno da Arquitectura. A Reforma de 57 e as Escolas de Belas-Artes em Portugal (1931-69), Dissertação de Doutoramento em Arquitectura, Coimbra, 2011, Vol. I].
Em 30 de Julho de 1943, segundo Gonçalo Canto Moniz, José Borrego integrou o grupo de 54 estudantes que enviou uma carta ao director da EBAP a apelar à permanência de Carlos Ramos como docente daquela instituição. Entre os subscritores constava, também, o nome de Lobão Vital, cuja amizade se manteve até ao fim.
Em 1946, integrava o denominado “Grupo de Estudantes de Belas-Artes do Porto" que editava um Boletim, promovia actividades e conseguiu, ainda, «implementar o funcionamento de assembleias-gerais de alunos, como espaço de discussão sobre as actividades do grupo e sobre o funcionamento da escola». O Conselho Escolar da EBAP interditou-o e, em 1 de Junho, foi aplicada a vários alunos, entre os quais José Borrego, uma suspensão por 90 dias [Gonçalo Canto Moniz].
Nesse mesmo ano, fez parte da Comissão Central do MUD - Juvenil, juntamente com António Abreu, Francisco Salgado Zenha, Júlio Pomar, Maria Fernanda Silva, Mário Sacramento, Mário Soares, Nuno Fidelino de Figueiredo, Octávio Pato, Óscar Reis e Rui Grácio [apenas Nuno Fidelino de Figueiredo e Rui Grácio não eram membros do Partido Comunista].
No ano seguinte, em 13 de Abril de 1947, foi preso pela PIDE, saindo em liberdade em 27 de Agosto, tendo o MUD - Juvenil distribuído um panfleto a apelar à sua libertação e de Francisco Salgado Zenha, Augusto Aragão, Almor Viegas Pires, Eugénio de Almeida e outros jovens democratas de todo o país presos à ordem da PIDE [Fundo Alberto Pedroso / Fundação Mário Soares].
Já casado com Júlia Borrego e referenciado como "profissional de arquitectura", foi julgado pelo Tribunal Plenário de 15 de Março de 1949 e condenado em 100 dias de prisão correccional, tendo a sentença sido confirmada por acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19 de Julho de 1950 [Processo 575/47; anteriormente, já lhe tinha sido aberto o Processo 1659/SR].
Já casado com Júlia Borrego e referenciado como "profissional de arquitectura", foi julgado pelo Tribunal Plenário de 15 de Março de 1949 e condenado em 100 dias de prisão correccional, tendo a sentença sido confirmada por acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19 de Julho de 1950 [Processo 575/47; anteriormente, já lhe tinha sido aberto o Processo 1659/SR].
José Borrego foi, ainda, Sócio Auxiliar da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, a que pertencia a sua mulher.
Em 1951, apoiou a candidatura presidencial de Ruy Luís Gomes subscrita pelo Movimento Nacional Democrático e, aquando do comício realizado em Rio Tinto, no Cine Vitória, foi um dos muitos presentes agredido pela polícia, tendo de se deslocar ao Hospital de Santo António devido a contusões diversas no dorso e pernas [José da Silva, Memórias de um operário, 2.º volume, 1971].
[José da Silva || Memórias de um operário || 1971]
A partir do início da década de 1950, José Borrego aparece associado às actividades do ODAM - Organização em Defesa de uma Arquitectura Moderna / Organização dos Arquitectos Modernos e, entre as suas traduções, consta o livro Manière de Penser l'Urbanisme, de Le Corbusier [Maneira de Pensar o Urbanismo, Publicações Europa-América, 1969].
Só em 1978, 42 anos depois de ter entrado na Escola de Belas-Artes do Porto, é que José Borrego recebeu o respectivo diploma.
A par da sua intervenção enquanto arquitecto, trabalhando no Porto e em Lisboa, José Borrego foi um dos mais dinâmicos membros do cineclubismo, assumindo diversos cargos no Cineclube Imagem e no Cineclube do Porto.
[João Esteves]
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