[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

[1966.] MÁRIO RODRIGUES PIO [I] || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO (1933-1934)

* MÁRIO RODRIGUES PIO *
["O MÁRIO MARRECO" OU "MÁRIO PICA-PICA"]

Militante do Partido Comunista desde 1930, colaborou com Francisco Paula de Oliveira em actividades clandestinas. 

Preso em 1933 e enviado para a Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, de onde regressou em Novembro de 1934. Novamente preso em 1937 (Caxias) e em 1947.  

[Mário Rodrigues Pio || 1933 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Guilhermina da Conceição e de Pio Rodrigues, Mário Rodrigues Pio nasceu em 18 de Outubro de 1907, em Setúbal.

Caldeireiro, seria o filiado 110 da Célula Nº 1 do Partido Comunista, a funcionar no Arsenal da Marinha, quando foi preso em 8 de Fevereiro de 1933, sendo procurado pela Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado desde Novembro de 1932 por «se encontrar envolvido numa distribuição de jornais clandestinos, intitulados "Frente Vermelha", tendo conseguido pôr-se em fuga» [ANTT, Cadastro Político 4417].

[Mário Rodrigues Pio || 1933 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Segundo o seu Cadastro Político, mantinha contactos com Francisco Paula de Oliveira, reunia-se com um núcleo de simpatizantes e militantes formado, entre outros, por António Castanheira, Emílio Miguel Valoroso, Firmino de Matos, Manuel dos Santos ("O Manuel da Fonte Santa") e Virgínio de Jesus Luís e, aquando da detenção, «foi passada uma uma busca na sua residência, na qual foram apreendidas várias actas e o boletim do Comité Central Executivo» [Processo 626].

Com o decorrer das investigações, Mário Rodrigues Pio foi considerado «um elemento bastante perigoso», até porque tinha ficado encarregado de guardar uma pistola entregue por Francisco Paula de Oliveira e, segundo José Martins Pinto Júnior, ter guardado em sua casa um embrulho com bombas. Segundo declarações prestadas por si à PVDE, terá lançado estas ao rio Tejo, «junto à popa do vapor "Lima"» [Processo 676]. Posteriormente, foi ainda acusado de, juntamente com Francisco Paula de Oliveira ("O Pavel"), ter procedido a pinturas no Cais do Sodré na madrugada de 4 de Setembro de 1932 [Processo 713].

[Mário Rodrigues Pio || 1933 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Em 19 de Novembro de 1933, por ordem do Governo, foi enviado para a Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, onde chegou no dia 22.

Julgado pelo Tribunal Militar Especial de 2 de Março de 1934, acusado de, «em datas anteriores e posteriores a 5 de Dezembro de 1932, ter feito propaganda de ideias subversivas, por meio de reuniões e conferências» [ANTT, Cadastro 4417]. Abrangido pela amnistia nos actos cometidos antes daquela data, Mário Rodrigues Pio acabou por ser condenado em 18 meses de prisão correccional [Processo 31/933, do TME e 626 da SPS/PVDE].

Novamente julgado pelo Tribunal Militar Especial - Secção dos Açores em 25 de Agosto de 1934, tendo por base o Processo em que era acusado de, «por meio de reuniões clandestinas, panfletos, manifestos e jornais também clandestinos, propagandear ideias contrárias ao estado actual da sociedade e seus princípios fundamentais». Considerado, parcialmente, abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932, foi, então, condenado na pena de 300 dias de prisão correccional, dada por expiada com a já sofrida, devendo «ser restituído à liberdade, por ter sido julgada expiada a pena em que foi condenado» [Processo 58/933, do TME, e 713 da SPS/PVDE].

No entanto, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado considerou que Mário Rodrigues Pio não devia «ser restituído à liberdade, ficando preso preventivamente, depois de cumprido o mandado do TME, por se tratar de um elemento perigoso» [Ofício 861 da Secção Política e Social].

Regressou de Angra do Heroísmo em 9 de Novembro de 1934, «por ter terminado o cumprimento da pena imposta pelo TME», e recolheu à prisão por decisão da PVDE [Processo 713-A], saindo em liberdade no dia 28 do mesmo mês [ANTT, Cadastro Político 4417] ou do mês seguinte [ANTT, RGP/162].

[Mário Rodrigues Pio || Fotografia de 18/03/1947 || ANTT || RGP/162]

Mário Rodrigues Pio voltou a ser preso em 26 de Maio de 1937, recolheu à 1.ª Esquadra e, em 10 de Junho, foi transferido para Caxias. Transferido novamente para a aquela esquadra no dia 12, foi entregue ao 5.º Juízo Criminal de Lisboa.

[Mário Rodrigues Pio || Fotografia de 18/03/1947 || ANTT || RGP/162]

Dez anos depois, em 18 de Março de 1947, foi preso pela última vez. Detido para averiguações, recolheu a uma esquadra incomunicável, tendo sido libertado em 1 de Abril.

[Mário Rodrigues Pio || Fotografia de 18/03/1947 || ANTT || RGP/162]

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Registo Geral de Presos 162 [Mário Rodrigues Pio / PT-TT-PIDE-E-010-1-162_m0330].
ANTT, Cadastro Político 4417 [Mário Rodrigues Pio / PT-TT-PIDE-E-001-CX14_m0443, 0443a, m0443b, m0443c, m0443d].
ANTT, Livro de Cadastrados - 4, Fotografia 2648 [Mário Rodrigues Pio / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0020].

[João Esteves]

Sem comentários: