[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 13 de maio de 2022

[2816.] JOÃO GOMES JÚNIOR || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO EM 1936

JOÃO GOMES JÚNIOR  *

[1872 - 1957]

DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO EM 1936

[João Gomes Júnior || Fotografia prisional tirada em Coimbra, datada de 29/08/1936 || ANTT, Registo Geral de Presos/4058]

João Gomes Júnior é um dos muitos nomes que passa despercebido na historiografia da 1.ª República e na da Oposição à Ditaduras Militar e Estadonovista e, no entanto, foi um denodado republicano, antes da República, e corajoso opositor do regime instaurado em 28 de Maio de 1926, tendo sido perseguido, preso e deportado já sexagenário.

Filho de Guilhermina dos Prazeres e de João Gomes, nasceu em Coimbra, em 9 de Novembro de 1872, e casou com Mariana da Conceição Gomes [10/09/1875 - 1961(?)], tendo o casal tido nove filhos [Carlos Gomes, Jaime, José Gomes dos Santos, Berta, Felismina, Mário Gomes dos Santos, João, Maria Adelaide e uma rapariga falecida ainda bebé].

Industrial, serralheiro de reconhecida arte e comerciante, foi ativista do Partido Republicano de Coimbra - Comissão Paroquial da Freguesia de Santa Cruz, onde era, em 1910, o respectivo Secretário, sendo um dos muitos cidadãos que, em 6 de Outubro, assinou o Auto de Proclamação da República em Coimbra elaborado na sede do Município. 

Aquando do triunfo da Ditadura Militar, enfileirou a oposição ativa republicana e sofreu duras consequências políticas, económicas e familiares. Amigo e correligionário de Bissaya Barreto [1886 - 1974], fez questão de cortar relações e não mais lhe dirigir a palavra na sequência do posterior posicionamento ideológico deste.

Nos anos 30, a partir da mercearia que detinha na Rua da Sofia, colaborou com alguns dos filhos na impressão e difusão do jornal A Verdade, afeto a Afonso Costa, sendo aquele estabelecimento "também frequentado assiduamente por tertúlias de vários «desafetos» ao regime" [Alberto Vilaça]. 

Na sequência desse envolvimento, andou quase três anos fugido à Polícia Política, escondendo-se onde podia na zona da Figueira da Foz, Lares e Coimbra, inclusivamente em estações de comboio, foi condenado, preso e deportado. O armazém, que abastecia a cidade e muitos lugares dos arredores, foi fechado e, "logo após a sua fuga e as dos filhos, seguidas das prisões destes, a esposa ter-se-á visto mesmo forçada, por falta de todos estes apoios, a encerrar a mercearia, convocando os credores" [Alberto Vilaça], causando danos económicos e familiares extremamente gravosos ao quotidiano familiar. 

Um dos filhos, José Gomes dos Santos, esteve diretamente envolvido na fuga de Armando Cortesão, um dos responsáveis pelo órgão republicano, e entregou, por volta de 1935, parte do tipo que se salvara, "escondida talvez nos escaninhos da mercearia de João Gomes Júnior" ao Partido Comunista "que dele pôde assim passar a usufruir" [Alberto Vilaça]. 

Os caracteres tipográficos salvos foram entregues dentro de um saco a António Mano Fernandes [23/01/1911 - 30/01/1938], estudante antifascista conimbricense que faleceu em 30 de Janeiro de 1938, com 27 anos, por falta de assistência médica, tendo sido transferido já moribundo do Forte de Peniche para os Hospitais Universitários de Coimbra.

Por andar fugido, foi julgado à revelia pelo Tribunal Militar Especial do Porto em 6 de Julho de 1934, acusado de ter autorizado, no segundo semestre de 1933, a armazenarem na sua mercearia muitos pacotes com o jornal clandestino A Verdade e que escondessem o tipo da impressão com que foi feito o seu número 5, para além de o ter distribuído na cidade de Coimbra.

Preso em Coimbra em 29 de Agosto de 1936, quando tinha 63 anos de idade, foi transferido para o Aljube em 26 de Setembro e deportado para a Fortaleza de Angra do Heroísmo em 17 de Outubro do mesmo ano, tendo embarcado no dia seguinte no vapor Luanda.

O regresso deu-se em 3 de Novembro de 1937, quando embarcou no navio Carvalho de Araújo, e foi solto a 8, na véspera de completar 65 anos.

No final da década de 1930, Manuel Campos Lima [1916-1996], então diretor do jornal O Diabo, era visita de sua casa quando se deslocava a Coimbra, onde se reunia, entre outros, com José Gomes  dos Santos.

João Gomes Júnior faleceu em Coimbra, na sua residência, com 85 anos de idade.

[João Esteves]

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