* FRANCISCA WOOD *
[04/10/1802 - 27/11/1900]
Francisca de Assis Martins Wood foi uma escritora com escassa obra publicada e que, no entanto, deixou marcas no periodismo feminino de caráter progressista.
Nascida em Lisboa e casada com William Thorold Wood, viveu décadas em Inglaterra, de onde regressou ao fim de 35 anos para fundar e dirigir, em conjunto com o marido, primeiro, o jornal A Voz Feminina (janeiro de 1868-1869), “empenhado no desenvolvimento social e intelectual da mulher”, e, depois, O Progresso (julho a dezembro de 1869), considerado por Ivone Leal “o primeiro jornal feminista surgido na Europa”. Aliás, no apelo lançado às mulheres portuguesas por Francisca Wood no primeiro número, os objetivos propostos eram quase revolucionários para a época:
“Não queiramos por mais tempo ser, o que até agora temos sido, - bonecas! Aos atrativos que a natureza nos deu, juntemos a preponderância que dá o saber. Às portuguesas não falta inteligência: falta-lhes o amor do estudo sério, falta-lhes o espírito de análise filosófica, não só sobre assuntos abstratos, mas até sobre os fenómenos mais familiares que nos circundam. Façamo-nos pois verdadeiros «Anjos do lar» mostremos ao mundo varonil que lhe não somos inferiores senão em força física. Trabalhemos, e a recompensa será um triunfo glorioso.”
Nos dois periódicos, Francisca Wood evidenciou-se como uma intelectual progressista que, com colaboradores e leitores, procurava esbater a futilidade e a acefalia associadas ao sexo feminino, considerando-se que o atraso em Portugal derivava da deficiente e incipiente instrução e educação das raparigas e mulheres, com repercussões nas limitações que apresentavam e no desinteresse pela causa pública: A Voz Feminina continha na primeira página a frase “A mulher livre ao lado do homem livre”, enquanto o lema de O Progresso era “La justice soit faite, coûte que coûte”.
Além da valorização da emancipação intelectual, económica, profissional e política dos dois sexos, sendo que a inteligência era um atributo idêntico a ambos, publicitaram-se documentos sobre os direitos das mulheres, o sufragismo e as carreiras profissionais, elucidando os leitores do que ocorria noutros países quanto aos avanços femininos.
Neles, deram a conhecer ativistas como Victor Hugo, Jules Ferry, Charles Lemonier, Jules Simon, Garibaldi e as ideias do filósofo Stuart Mill, e do livro A sujeição da mulher, foram apregoadas, recomendadas e comentadas.
Estava-se perante um avanço de duas décadas em relação às conceções da periodista Antónia Pusich, sendo que Francisca Wood pode ser englobada no grupo das pré-feministas da Europa e dos Estados Unidos.
Segundo Ana Maria Costa Lopes, “ao lermos os artigos de A Voz Feminina (1868) e de O Progresso (1869) verificamos que este casal deu um contributo imprescindível para a internacionalização dos movimentos pré-feministas no nosso país, ao mesmo tempo que pôs certas entidades estrangeiras a par da situação portuguesa. Tanto eles como alguns dos colaboradores, tentaram fazer uma reflexão séria sobre uma questão prioritária, a da emancipação.” [Ana Maria Costa Lopes, “Francisca de Assis Martins Wood”, Feminae. Dicionário Contemporâneo]
Por sua vez, Maria Regina Tavares da Silva considera A Voz Feminina “um grito feminista”, “crítico da situação das mulheres, do seu confinamento doméstico e cultural, do vazio das suas vidas e interesses”, sendo que “iguais no nascimento e na morte, queremos ser iguais na vida…”. [Maria Regina Tavares da Silva, A Mulher, Bibliografia Portuguesa Anotada (1518-1998), Lisboa, Cosmos, 1999]
Não por acaso, a jovem Maria Amália Vaz de Carvalho recusou dar a sua colaboração, sendo da opinião “que as folhas diárias, as publicações efémeras, o jornal enfim, deve ser masculino, porque só homens têm o espírito positivo que esse género demanda”. [Ivone Leal, “A Voz Feminina”, Um século de periódicos femininos]
Se o projeto jornalístico e o ideário de Francisco Wood não triunfaram na sociedade conservadora portuguesa, constituíram, no entanto, mais um avanço na passagem de algumas mulheres da esfera privada para a pública, antecipando as republicanas e as feministas novecentistas.
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