* VIRGÍNIA QUARESMA *
[1882 - 1973]
"Rememorando Virgínia Quaresma (1882 - 1973)"
Faces de Eva N.º 47 || 2022
Formou-se em Letras, quando escassas mulheres usufruíam de condições para aceder a uma academia dominada pelo sexo masculino; foi editora de periódicos que avocavam a reivindicação de direitos para quem nada tinha; escreveu na imprensa, antes de enveredar pela profissão de jornalista após o falecimento do pai; associou-se ao pacifismo e feminismo emergentes; tentou aceder a uma bolsa do reino para estudar a educação das raparigas em outros países e enveredar pela diplomacia; experimentou, momentaneamente, o ensino; assumiu-se, timidamente, como republicana; abraçou o jornalismo em Portugal e no Brasil, introduziu a publicidade redigida, representou agências publicitárias e revelou-se pioneira na organização da primeira agência de notícias internacional portuguesa.
Culta e irreverente, geriu, durante décadas, sociabilidades contraditórias, viajou muito, em lazer e em serviço, e no Brasil, onde permaneceu dezenas anos, ainda que intercalados, esta antiga republicana aproximou-se, ideologicamente, do regime ditatorial português, virando, a partir dos anos trinta, admiradora confessa de Salazar, não enfileirando, mesmo que pontualmente, na Oposição democrática.
Desde a primeira década do século XX até ao falecimento, nos anos setenta, raramente Virgínia Quaresma passou despercebida, sendo amiúde adjetivada como brilhante, culta, competente, profissional, objetiva, viajada, entusiasta, a que se acrescentam as caraterísticas enquanto colega de profissão, deixando impressões duradouras em todos os que a conheceram neste cenário. Se o percurso ímpar, com visibilidade na imprensa e reconhecimento reiterado pelos pares e instituições, justifica, só por si, a recuperação da sua memória, não menos relevante é a vida pessoal que assumiu sem constrangimentos, só possível pela independência económica que soube assegurar, não se privando de a desfrutar como bem entendia.
[João Esteves]
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