* GERTRUDES PAULINO *
[20/04/1923 - --/04/2012]
29 anos consecutivos na clandestinidade (1945-1974)
Na História das Oposições há muitos nomes por (re)descobrir, estudar, enquadrar e revelar, tarefa tanto mais difícil quando viveram durante décadas em situação clandestina sem nunca terem sido detectados pela polícia política. É o caso de Gertrudes Paulino, com 29 anos consecutivos de clandestinidade, assumindo constantemente identidades diferentes, sem que a historiografia dedicada aos 48 anos de Ditadura a incluam ou sequer a mencionem.
Costureira.
Nasceu em Vila Franca de Xira a 24 de Abril de 1923 e faleceu em Abril de 2012, com 72 anos de militância comunista em 89 de vida.
O pai, militante do Partido Comunista, trabalhava num armazém que tinha um negócio de cereais e possuía um barco com que os transportava; a mãe, costureira, fazia fatos para fora.
Cresceu em Vila Franca, fez o exame da 4.ª Classe e gostaria de ter sido professora, desejo inviabilizado pelas condições económicas da família, com seis filhos a cargo.
Marcada pelo espírito solidário da mãe e muito influenciada pelo pai, começou a ler muito nova o Avante! clandestino, a interessar-se por Alves Redol [1911-1969] e Soeiro Pereira Gomes [1909-1949] e a prestar atenção à situação em que viviam os trabalhadores e camponeses da lezíria.
Coordenou em 1943-1944, com Georgette Ferreira e Otília Borrelho, uma greve das costureiras nas alfaiatarias locais e empenhou-se na formação de um sindicato daquelas.
Em 1944, integrou o mesmo trio que juntou mulheres trabalhadoras junto à Praça de Touros de Vila Franca de Xira aquando da Marcha da Fome em 8 de maio de 1944 e destacou-se no apoio dados aos presos e suas famílias.
No ano seguinte, com apenas vinte e dois anos, entrou na clandestinidade, formando casa com Manuel Luís da Silva Júnior [n. 27/08/1908], militante comunista desde 1932 com quem viria a casar, ainda que só depois do 25 de Abril.
No âmbito da militância no Partido Comunista, esteve, tal como o companheiro, durante quase trinta anos consecutivos ligada à imprensa clandestina e a tipografias ilegais, sem nunca ser detida: passou pelo Algarve (Caldas de Monchique, onde conviveu com Maria Clementina Ventura, Luz de Tavira, São Brás de Alportel), Viseu (Besteiros), Cartaxo (Ereira), Torres Novas, Malveira, Porto, Lisboa (Rua Vítor Bastos, em Campolide, Travessa Barbosa, Tv. do Possolo, R. Arco do Carvalhão), Setúbal, Matosinhos, Famalicão e Vila do Conde.
Na vida clandestina passou por médica e professora.
Usou o pseudónimo “Maria” e os dois filhos nasceram na clandestinidade: a rapariga, quando tinha três anos, foi para casa de uma tia-avó, enquanto o rapaz, nascido em 1954, partiu para a União Soviética com sete anos e formou-se em engenharia de telecomunicações.
Só em 1974, após 29 anos de separação, é que Gertrudes Paulino reencontrou os pais.
O jornal O Mirante entrevistou-a e dedicou-lhe várias páginas em 2006.
Feminae. Dicionário Contemporâneo incluiu estes dados biográficos.
[João Esteves]
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