* CARMEN MARQUES *
[1902 - 1930]
Advogada, defensora dos direitos das mulheres, da República e da Democracia, Carmen Marques foi uma cidadã empenhada nas causas sociais e que faleceu muito jovem, com apenas 28 anos.
Desaparecida há 88 anos, era muito respeitada pelos seus pares, disso dando conta o discurso, corajoso e de denúncia da Ditadura, pronunciado por [Adelino] Palma Carlos aquando da homenagem que lhe foi feita na Associação do Registo Civil, no mês a seguir ao triste desenlace.
[Arquivo de História Social || Espólio Pinto Quartin]
Advogada, conferencista, escritora e activista política, Carmen Marques nasceu em 1902 e faleceu em 26 de Maio de 1930, no Hospital de São José.
Formada em Direito pela Universidade de Lisboa, pertenceu à Comissão de Propaganda do Directório da Liga da Mocidade da Republicana, que tinha por fim a propaganda da Republica e da Democracia. Aquele funcionava na sede da revista Seara Nova, na Praça Luís de Camões e também integravam o Directório, entre outros nomes, Aragão e Melo, Avelino Cunhal, Barros Queiroz, Elina Guimarães, Ginestal Machado, Matos Cid, Palma Carlos e Vitorino Nemésio, entre outros nomes.
Colaborou com a médica ginecologista Adelaide Cabete na Associação das Mulheres Universitárias de Portugal, fundada em 1928, participou, em 1928 e 1929, nos Congressos Feminista e Abolicionista e fez parte do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas a partir deste último ano, tendo aderido por proposta de Elina Guimarães, igualmente licenciada em Direito e dois anos mais nova.
Da sua actividade de conferencista, destacam-se os títulos "Trabalho manual e trabalho intelectual"; "A Igreja e o casamento civil"; "Crise de bom senso, crise do espírito jurídico", pronunciada na Associação Comercial dos Lojistas em 11 de Janeiro de 1930; e "Democracia e Feminismo", conferência pronunciada em Coimbra.
Os livros que editou abordavam questões de ordem profissional, social e política: Os Castelinhos (1922); Inquilino... Guloso: contra minuta de apelação no processo de acção de despejo [1926]; A Morte da Vida (1928), considerada pela crítica como a sua obra mais importante, pelo alcance moral e social, de luta contra a educação conventual, já que, tendo frequentado uma instituição religiosa, tinha um conhecimento privilegiado da situação.
Colaborou nos jornais Alma Feminina (1927), Humanidade e O Povo, onde “defendera e apresentara as doutrinas feministas com profundo conhecimento e vibrante entusiasmo” [Elina Guimarães, “Dr.ª Carmen Marques”, Alma Feminina, Maio- Junho de 1930].
Advogada da esposa de Alves dos Reis, Maria Luísa Alves dos Reis, ainda interveio em tribunal em Maio de 1930, tendo falecido quando “aguardava o desfecho do célebre julgamento do Angola e Metrópole”. Residia, então, na Rua Marques da Silva, nº 79.
[Diário de Lisboa || 08/05/1930]
A revista Alma Feminina, órgão do CNMP, inseriu um texto de Elina Guimarães sobre o seu percurso, acompanhado de fotografia, onde refere que “com a morte da Dr.ª Carmen Marques perde o feminismo português um dos seus melhores e mais prometedores elementos e perdem todas as mulheres uma defensora intrépida e esclarecida”.
Por sua vez, Adelaide Cabete realçou as condições difíceis por que teve de passar para conseguir o seu curso superior.
A Associação do Registo Civil realizou, em Junho de 1930, uma sessão de homenagem, presidida por Elina Guimarães e contou com intervenções de Jaime Gouveia, de Palma Carlos e de Rámon de la Féria.
Na sua intervenção, vigiada por informadores da Ditadura, Palma Carlos "fez algumas referências desprimorosas para a Ditadura", protestou "contra as deportações, citando nomes de alguns deportados políticos" e deu "vivas à República, aos combatentes do 7 de Fevereiro" e "abaixos à Ditadura" [ANTT, Cadastro Político 383].
O Dicionário no Feminino (Séculos XIX-XX) inseriu uma biografia de Carmen Marques [Livros Horizonte, 2005].
[João Esteves]
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