[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

[0738.] BEATRIZ PINHEIRO [II]

- BEATRIZ DA CONCEIÇÃO PAES PINHEIRO [DE LEMOS] -
[1871-14/10/1922]

Escritora, professora, publicista, pacifista, republicana e defensora dos direitos das mulheres ainda no final do século XIX.

Beatriz Pinheiro é um nome a reter, não só porque pertenceu à geração das republicanas e feministas portuguesas mais relevantes do princípio do século XX, como pela intervenção na sua terra e que se estendeu muito para além da direção da revista Ave Azul [1899-1900]. 

Segundo Humberto Liz, citando o dr. Maximiano Aragão [1853-1929], amigo e correlegionário do marido, era filha de Joaquim António Pinheiro, empregado dos correios, e de Antónia da Conceição Paes de Figueiredo, de Mosteiro de Silgueiros, Beatriz da Conceição Paes Pinheiro nasceu em Viseu em 1871 [e não em 1872 como aparece referenciado em vários sítios, obras e estudos]. 

Fez a estreia literária na revista académica A Mocidade, quando ainda era aluna do liceu. 

Com o marido, Carlos de Lemos [1867-1954], poeta e professor do Liceu de Viseu que, em 1909, foi Presidente da Comissão Municipal Republicana, sendo então perseguido pelo seu posicionamento político, dirigiu a revista literária Ave Azul [1899-1900]. 

Aí assinou textos dedicados à emancipação feminina e, considerando que o feminismo pretendia “pôr a mulher em condições de viver dignamente na sociedade, por meio do seu trabalho, sem precisar dum homem que a mantenha” [15/11/1899, p. 500], incitou as mulheres à luta, para “que reivindiquem os seus direitos, que façam por conquistar a igualdade civil e política, que sejam nos bancos das Escolas as dignas rivais dos mais inteligentes e dos mais estudiosos” [15/08/1899, p. 324]. 

Nos seus escritos, revelou-se defensora da independência económica das mulheres e considerava que ela só era possível de alcançar com uma educação diferente para o sexo feminino.

Colaborou nos periódicos:
  • A BeiraNova Aurora [1900-1901];
  • Almanaque das Senhoras [1901, 1916, 1924];
  • A Crónica [1900-1906];
  • Alma Feminina ]1907-1908]; 
  • O Garcia de Resende [1908-1909]. 

Tornou-se, em 1899, correspondente local da Liga Portuguesa da Paz, a convite de Alice Pestana que a dirigia. Tornou-se, assim, uma das primeiras correspondentes locais daquela agremiação pacifista, onde se destacavam aquela pedagoga e Magalhães Lima.

Propagandista republicana aderiu à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas quando esta agremiação surgiu no final da primeira década do século XX orientada pela amiga Ana de Castro Osório.

Empenhou-se na campanha a favor da aprovação da lei do divórcio e reivindicou o ensino e a enfermagem laicas, servindo-se da imprensa para difundir o seu ideal. 

Diplomada em Ciências e Letras, terá começado a leccionar em 1900. Poucos anos volvidos sobre a implantação da República passou a residir em Lisboa, onde era professora provisória do Liceu Maria Pia e leccionava Francês, Geografia e História. 

Em 1913, foi escolhida, juntamente com Ana Augusta de Castilho, Ana de Castro Osório, Luthgarda de Caires, Joana de Almeida Nogueira e Maria Veleda, para fazer parte da comissão que deveria representar as feministas portuguesas no sétimo Congresso da International Women Suffrage Alliance, a realizar em Budapeste. 

Em 8 de Junho de 1916, proferiu no Liceu Maria Pia a conferência “A Mulher Portuguesa e a Guerra Europeia”, editada pela Associação de Propaganda Feminista. 
Segundo Henrique Perdigão, “deve-se-lhe a criação da Escola Liberal João de Deus, para raparigas pobres, fundada como protesto à educação congreganista por ocasião do célebre ‘caso Calmon’”, inaugurada a 10 de Novembro de 1901. Beatriz Pinheiro presidiu à sessão inaugural e discursou, juntamente com José Augusto Pereira, Carlos de Lemos, Maximiano Aragão e Ricardo (Paes) Gomes, tendo O Distrito de Viseu de 12 de Novembro de 1901 disso dado conta.

Como refere o Almanaque Republicano, blogue de Artur B. Mendonça e José M. Martins, pertenceu ao Instituto Liberal de Instrução e Recreio, fundado em 1904 e que, no ano seguinte, estaria na origem do Centro Republicano de Viseu, inaugurado a 30 de Janeiro por Bernardino Machado. 

Beatriz Pinheiro faleceu em Lisboa a 14 de Outubro de 1922.

Foi, juntamente com Carlos de Lemos, uma importantíssima propagandista republicana em Viseu antes da implantação do novo regime em Outubro de 1910.

A História da República, editada aquando do quinquagésimo aniversário da revolução republicana, inseriu a sua fotografia no grupo das mulheres republicanas.

[João Esteves]

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