[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

[0779.] MARIA LAMAS [III]

* MARIA DA CONCEIÇÃO VASSALO E SILVA DA CUNHA LAMAS * 

90 ANOS DE VIDA VIVIDA *
[06/10/1893-06/12/1983]


Jornalista e escritora, Maria Lamas dedicou-se à literatura infantil e às mulheres do seu país. 

Combateu o Salazarismo e o Marcelismo e nunca abdicou da condição de cidadã empenhada e combativa.

Nasceu em Torres Novas em 1893, terra onde fez a instrução primária. 

Aos quinze anos deixou o Convento de St.ª Teresa de Jesus e só no ano letivo de 1922/1923, já adulta, fez o Curso Geral dos Liceus.

Em Março de 1911, com 17 anos, casou pelo Registo Civil com o oficial de cavalaria republicano Teófilo José Ribeiro da Fonseca [1886-1972], de quem se divorciou poucos anos depois [1919], ficando com as duas filhas do casal a cargo: Maria Emília Vassalo e Silva Ribeiro da Fonseca  [12/1911-1990] e Manuela Vassalo e Silva Ribeiro da Fonseca  [09/07/1913-1960].

Casou, em 1921, com o oficial dos correios e telégrafos e jornalista monárquico Alfredo da Cunha Lamas [n. 1877], passando a usar este apelido. No ano seguinte nasceu a filha Maria Cândida e separou-se em 1936.

Na década de 1920 começou a trabalhar na Agência Americana de Notícias. Colabora no jornal A Capital, inscreve-se no Curso Geral dos Liceus e dedica-se à escrita para crianças, publicando livros e assinando textos, contos e poesias sob o pseudónimo de Rosa Silvestre.


Foi no suplemento feminino Modas & Bordados, de O Século, que passou a dirigir em 1928, que se notabilizou. Ganhou notoriedade nacional com a coluna "O Correio da Joaninha", dedicada às raparigas, onde respondia às leitoras sob o pseudónimo de Tia Filomena. Em resultado dessa aproximação aos problemas da juventude feminina e do impacto em todo o país, a revista consolidou o seu prestígio e aumentou a tiragem.

Na qualidade de jornalista de O Século organizou, em 1930, a “Exposição da Obra Feminina, antiga e moderna de carácter literário, artístico e científico”, a qual recebeu a visita de milhares de pessoas.

Em 1934, foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada pelo Presidente Óscar Carmona, por mérito cultural na ação em prol das mulheres. 


A partir da década de 30 passou também a estar associada à luta pelos direitos das mulheres. Militou na Associação Feminina Portuguesa para a Paz e no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, tendo sido eleita, em Julho de 1945, sua Presidente. Neste ano assinou as listas para a fundação do MUD Juvenil, passando a ser perseguida pela ditadura salazarista.   

No âmbito dessas organizações, promoveu então campanhas de alfabetização e lutou pelos direitos das mulheres mais desfavorecidas. 

Era presidente do CNMP quando, em 1947, foi proibido pelas autoridades da ditadura, na sequência da organização, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, da exposição de “Livros escritos por mulheres”.

[Catálogo oferecido por Glória Marreiros e Henrique Cunha]

Forçada a optar entre o CNMP e a revista, onde era "muito bem remunerada", recusou-se a abandonar aquele e foi dispensada do Modas & Bordados, após vinte anos de trabalho contínuo de direcção [1928-1947]. 

Dedicou-se então à pesquisa e publicação em fascículos de As Mulheres do Meu País [1948-1950] e A Mulher no Mundo [1952], duas obras consideradas marcantes sobre a realidade feminina nacional e internacional.



Na década de 1940 intensificou a sua participação nos movimentos oposicionistas. Apoiou a candidatura de Norton de Matos a Presidente da República [1949], foi membro da Comissão Central do Movimento Nacional Democrático (MND) e foi presa e detida em Caxias neste ano.

Subscreveu o documento fundador da Comissão Nacional para a Defesa da Paz e foi presa pela PIDE e novamente detida em Caxias, apesar do seu estado de saúde [1950-1951].

Em 1953, quando regressava de uma viagem ao estrangeiro, foi novamente detida em 1953, no avião, sendo libertada em 1954.




Alvo de sucessivas perseguições e prisões, exilou-se em Paris entre 1962 e 1969, onde apoiou os portugueses, emigrantes e políticos, que saíam do país. O Grand Hotel Saint-Michel, na Rua Cujas, 19, tornou-se local de passagem obrigatório para os oposicionistas.

Viveu intensamente os acontecimentos subsequentes à Revolução de Abril de 1974, participou no 1.º de Maio de 1974 e aderiu, formalmente, ao Partido Comunista. 

Entre as várias condecorações que recebeu, conta-se a da Ordem da Liberdade, com que foi agraciada pelo Presidente Ramalho Eanes, em 1982.

Faleceu com 90 anos de idade.


[João Esteves]

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