* NOS 100 ANOS DO CNMP || 1914-2014 *
Inserido nas Jornada Internacionais Falar de Mulheres - 10 anos depois, decorreu hoje de manhã a evocação do centenário do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Foram também oradores Anne Cova e Paulo Guinote, tendo a sessão sido moderada por Natividade Monteiro.
O CNMP foi constituído há 100 anos, em Março de 1914, e merece ser evocado, celebrado e estudado por razões óbvias.
Apenas algumas notas.
1.º O CNMP sobreviveu durante 33 anos, tornando-se a organização de mulheres que mais tempo perdurou durante todo o século XX: nasceu e cresceu durante a 1.ª República; conheceu a Ditadura Militar; e foi extinta pela Ditadura do Estado Novo, em 28 de Junho de 1947.
2.º Durante esses anos sobressaem 3 nomes, embora só 2 é que permanecem vivos, historiograficamente falando:
- Adelaide Cabete, nome mais sonante desde a fundação até 1935, ano em que faleceu.
- Maria Lamas, que está associado aos três últimos anos do CNMP e que lhe deu nova vida.
- Maria Clara Correia Alves, o nome “esquecido” e que foi essencial nos primeiros anos da sua existência até à viragem da década de 10 para a de 20.
3.º Os 33 anos do CNMP foram desiguais, passando por várias fases:
- A década de 1910, que corresponde ao início, teve como principais dinamizadoras Adelaide Cabete e Maria Clara Correia Alves. Está ainda por esmiuçar o porquê do surgimento em Março de 1914, quando ainda subsistiam a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e a Associação de Propaganda Feminista, organizações lideradas por correlegionárias de Adelaide Cabete? Os republicanos e maçónicos já não confiavam em Ana de Castro Osório ou era uma orientação internacional que se impunha às feministas portuguesas?
- Na década de 1920, quando a República estava já a soçobrar, atingiu o seu primeiro ponto alto ao tornar-se uma organização feminista com impacto em Portugal e no estrangeiro mediante os 6 congressos internacionais e 4 nacionais a que esteve associado entre 1920 e 1929. É também nestes anos que maçónicas repartiram os sucessivos corpos gerentes.
- Com o endurecimento da ditadura Militar e a sua mutação em Estado Novo, sobrevive com muitas dificuldades e ambiguidades, verificando-se um difícil equilíbrio do CNMP com as outras organizações de mulheres criadas pela ditadura: OMEN e MPF. Talvez por o CNMP não ser então uma organização “segura”, as mulheres de esquerda tenham avançado para a fundação da Associação Feminina Portuguesa para a Paz (1935-1952). Até 1935, mesmo quando estava em Angola, Adelaide Cabete continuava a ser a sua figura tutelar.
- Em meados da década de 40 deu-se o renascimento do CNMP com a eleição de uma direção presidida por Maria Lamas.
4.º O CNMP tinha começado como uma organização republicana e feminista, embora se declarasse apolítica e arreligiosa, e acabava como uma agremiação antifascista.
- A forte adesão de jovens mulheres universitárias, intelectuais e oposicionistas por altura do fim da II Guerra não foi um acaso.
- Em torno do CNMP, da AFPP, do MUD e do MUD Juvenil despontava a segunda geração de mulheres oposicionistas.
- A resistência ao fascismo não se deu só no masculino e continua a ser um erro crasso não ver o alcance da militância política, para além da cultural, destas mulheres.
5.º Em conclusão, o CNMP deixa, pelo menos, dois legados: enquanto aglutinador de republicanas, feministas e maçónicas num primeiro momento e, na última fase, enquanto mobilizador e dinamizador da oposição feminina antifascista.
6.º Alguns estudos sobre o CNMP:
- Rosmarie Wank-Nolasco Lamas, Mulheres para além do seu tempo (1995).
- Vanda Gorjão, A Reivindicação do voto no programa do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914-1947), Lisboa (1994).
- Célia Rosa Batista Costa, O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914-1947) – Uma organização feminista (2007).
- Rosa de Lurdes Matias Pires Correia, O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas: a principal associação de mulheres da primeira metade do século XX (1914-1947) (2013).
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