[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 29 de abril de 2016

[1457.] O QUE O TEMPO NÃO APAGOU [II] || CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO

* O QUE O TEMPO NÃO APAGOU || ANTENA 1 || PROGRAMA DE ANA ARANHA *

|| CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO || 29 DE ABRIL || 23 HORAS ||



A propósito deste programa de Ana Aranha, reproduz-se um excerto do texto escrito aquando do centenário do voto de CBA, em maio de 2011, celebrado na Universidade Nova de Lisboa

"Carolina Beatriz Ângelo e o Voto – Um não acaso

Apesar do voto de Carolina Beatriz Ângelo ser considerado como fortuito e, como tal, sistematicamente desvalorizado no contexto da I República, ele deve ser antes entendido no contexto de um processo iniciado nos últimos anos da Monarquia e que levou a esse desfecho não tão imprevisível como isso.

Embora se possa sempre invocar que se tratou de um acto isolado, sem consequências outras que não uma vitória individual, a que não seria alheio o facto do juiz que autorizou o recenseamento eleitoral de Carolina ser o pai da amiga Ana de Castro Osório, também não é menos verdade que o sufrágio feminino era o culminar de uma estratégia mobilizadora das militantes republicanas e que vinha sendo delineada antes do triunfo da República.

O voto, mais do que um acaso, só foi tornado possível porque a elite das republicanas funcionara, ainda durante a Monarquia, como um verdadeiro grupo de pressão junto dos dirigentes republicanos, por pertencerem à mesma geração e frequentarem meios e terem objectivos comuns.

A força da sua capacidade reivindicativa e mobilizadora foi potenciada pelo 5 de Outubro de 1910 e o sufrágio feminino restrito, ao ter adeptos importantes na nova governação, chega a ser encarado como uma possibilidade real, disso dando conta a jornalista e feminista francesa Madeleine Pelletier que se deslocara a Portugal para se inteirar do que se passava.

O seu voto só foi possível na sequência de uma revolução e quando o país ainda estava sob o efeito das suas consequências mais imediatas. Não por acaso, aconteceu sob a governação do Governo Provisório saído do 5 de Outubro e a sua aspiração seria definitivamente afastada com o triunfo do republicanismo mais conservador, patente nos governos subsequentes. Com ele, Carolina ganhou notoriedade em Portugal, reforçou a mobilização em torno da reivindicação do sufrágio feminino e contribuiu, de forma decisiva, para a internacionalização do feminismo português.

Considerar o sucedido a 28 de Maio de 1911 um acaso é não valorizar a intensa e persistente campanha que mobilizou, entre 1906 e 1911, cerca de dois milhares de mulheres em torno do reconhecimento de alguns dos seus direitos."

[João Esteves, Maio de 2011]

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