* ABÍLIO GONÇALVES - "O GARRADAS" || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO E PARA O TARRAFAL *
Anarcossindicalista, Abílio Gonçalves, "O Garradas", foi preso e deportado para Angra do Heroísmo e para o Tarrafal por estar envolvido, no Barreiro, nos preparativos da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934.
Com 52 anos, foi o mais velho preso político a ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal.
["O Garradas" || ANTT || RGP/13]
Filho de Quitéria da Conceição e de José Gonçalves, Abílio Gonçalves nasceu em Silves, em 18 de Maio de 1884.
[Maria João Raminhos Duarte || Colibri, 2010]
"Anarco-Sindicalista desde muito jovem", "vestia-se de modo peculiar", "tinha dotes de orador" e "destacou-se no seio dos corticeiros e na sua Associação de Classe" [Maria João Raminhos Duarte, Silves e o Algarve - Uma História da Oposição à Ditadura (1926-1958), Colibri, 2010]. No Barreiro, trabalhou na fábrica Cantinho & Marques, Lda, tal como José dos Reis Sequeira, seu conterrâneo, que o descreve «como “um tipo original”, “o protótipo do anarquista clássico, infelizmente analfabeto” [in Maria João Raminhos Duarte].
[José dos Reis Sequeira || A Regra do Jogo, 1978]
A viver e a trabalhar no Barreiro, amigo e correlegionário de João Montes, foi preso em 20 de Janeiro de 1934, à entrada de Alhos Vedros, acusado de participar em reuniões e ter na sua posse bombas de dinamite, recebidas de Bernardino Augusto Xavier, a utilizar no movimento revolucionário de 18 do mesmo mês.
Julgado no Tribunal Militar Especial de 5 de Fevereiro, foi condenado a dez anos de degredo, com prisão, multa de vinte mil escudos e perda dos direitos políticos por dez anos.
Embarcou, em 8 de Setembro de 1934, para Angra do Heroísmo e dois anos depois, em 23 de Outubro de 1936, integrou a primeira leva de presos políticos enviada para o Tarrafal, de cujo Campo só foi libertado em 16 de Novembro de 1945.
[Caminho, 1978]
O livro Tarrafal - Testemunhos refere-se a "O Garradas" como um velho militante das lutas sindicais", "rijo, vaidoso da bigodeira que penteava muitas vezes no espelho suspenso do apoio central da barraca" e que terá sido o primeiro preso a ser afectado pela biliosa, embora tenha recuperado [Caminho, 1978].
["O Garradas" || ANTT || RGP/13]
Cândido de Oliveira anotou, no livro Tarrafal - O Pântano da Morte, editado postumamente em 1974, que Abílio Garradas sobreviveu a três biliosas (10/01/1937, 18/02/1939, 30/11/1941).
[Cândido de Oliveira || Editorial República, 1974]
Por sua vez, Maria João Raminhos Duarte escreve, na magnífica obra Silves e o Algarve - Uma Historia da Oposição à Ditadura (1926-1958), que ele «dizia não gostar de “andar a toques”, pelo que diariamente se levantava antes do toque da alvorada e se deitava antes do toque de recolher».
[Gilberto de Oliveira || Edições Avante!, 1987]
Gilberto de Oliveira, em Memória Viva do Tarrafal [Edições Avante!, 1987], incluiu-o na lista de cerca de três dezenas de “rachados”, aqueles que ganhavam alguns "benefícios" por transigirem com as autoridades salazaristas do Campo; José Correia Pires, em Memórias de um prisioneiro do Tarrafal [Ed. Déagá, 1975], "ao contrário deste, fala da invulgar irreverência de Abílio Gonçalves (o Garradas) e da sua fidelidade ao anarquismo" [Maria João Raminhos Duarte].
Regressou no paquete Guiné em 1 de Fevereiro de 1946, "com a saúde muito abalada" e "morreu triste e esquecido" [M. J. Raminhos Duarte].
Fontes: ANTT, Cadastro Político 8505 e RGP/13.
[João Esteves]
[alterado em 21/12/2022]
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