[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

[1749.] AURÉLIO DIAS [I]

* AURÉLIO DIAS (1904 - 1934) || PRESO EM ABRIL DE 1932 E MORTO NA PRISÃO EM OUTUBRO DE 1934 *

Militante do Partido Comunista, Aurélio Dias faleceu na Cadeia Penitenciária de Lisboa em 30 de Outubro de 1934, sendo apontado como uma das primeiras vítimas mortais da Ditadura do Estado Novo, provavelmente após "30 dias de tortura".


[PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 || "Imagem cedida pelo ANTT" || (Atenção ao uso indevido desta imagem sem a devida autorização do ANTT)]

Nome pouco conhecido e sumariamente referenciado como tendo falecido em 1932 [excepção para o livro evocativo dos 60 anos de luta do Partido Comunista, Edições Avante!, 1982], o esboço biográfico que se segue assenta, sobretudo, no seu Cadastro Político que consta na Torre do Tombo. 

E apesar de todas as reservas inerentes à documentação policial, arquitectada em função dos interesses da governação vigente e da condenação dos opositores, há neste Cadastro Político algo de muito relevante: o segundo julgamento, realizado pelo Tribunal Militar Especial em 3 de Novembro de 1934, em virtude de recurso, realizou-se quatro dias depois do seu falecimento, sendo que a sentença passou de 10 anos de degredo para "2 anos de prisão correccional, dada por expiada com a já sofrida" [ANTT, Cadastro 4416], ou seja, ela terá sido moldada de acordo com a morte violenta de Aurélio Dias.

Filho de Carolina da Piedade e de João Dias Ferreira, Aurélio Dias terá nascido em 1904, em Constância, trabalhando em Lisboa como fragateiro.

Marítimo, a sua actividade política no âmbito do Partido Comunista data de 1931, integrando, primeiro, a Célula Nº 17 do Comité de Zona Nº 2 e, depois, a Célula Nº 24 do Comité de Zona Nº 1.

No ano seguinte, esteve envolvido nos preparativos da jornada de luta a ocorrer no dia 29 de Fevereiro de 1932 e que implicava o recurso a bombas, a qual acabou por não se realizar devido à prisão dalguns dos implicados. Falhada esta, envolveu-se na jornada do 1.º de Maio.

No âmbito daqueles preparativos, manteve contactos, entre outros, com Álvaro Augusto Ferreira, António Franco da Trindade, Artur Serra, Carlos Norberto, Eduardo Valente Neto (marítimo), Francisco Mera, José Martins Pinto Júnior, Leonel da Rosa Felício, Manuel Francisco da Silva ("O Manuel Pedreiro" que faleceu em 24 de Agosto de 1941, quando detido na Fortaleza de Angra do Heroísmo), Manuel Moor e Valério da Cruz [Processos 452 e 676].

Considerado "elemento duma actividade extraordinária e de uma grande preponderância no meio marítimo em Alfama, sendo bastante perigoso pelo desembaraço da sua acção revolucionária" [ANTT, Cadastro 4416], foi preso no dia 24 de Abril de 1932, na Serra de Monsanto, quando o grupo experimentava o material a usar no 1.º de Maio.

Em 10 de Agosto de 1932, por parecer do Director-Geral de Segurança Pública, e concordância do Ministro do Interior, decidiu-se que "lhe seja fixada residência obrigatória em Cabo Verde ou Timor, tendo dado entrada na Cadeia Penitenciária, onde fica aguardando a oportunidade de embarque".

Em 24 de Fevereiro de 1933, o processo de Aurélio Dias foi enviado para o Tribunal Militar Especial afim de se proceder ao seu julgamento [Processo 452], tendo, posteriormente, sido acrescentado um outro processo [Processo 676].

Julgado pelo Tribunal Militar Especial em 20 de Outubro de 1934, foi condenado a 10 anos de degredo com prisão e multa de vinte mil escudos.

Terá interposto recurso e do julgamento realizado em 3 de Novembro resultou a redução da pena para "2 anos de prisão correccional, dada por expiada com a já sofrida". Entretanto, já falecera em 30 de Outubro, na Penitenciária de Lisboa, com 30 anos.

A única fotografia que se conhece foi tirada na prisão, tem uma cruz por cima para indicar que falecera e publica-se aqui com a devida autorização do ANTT (Arquivo Nacional da Torre do Tombo) [PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 - "Imagem cedida pelo ANTT"].

Fontes: ANTT, Cadastro Político 4416; PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903.

[João Esteves]

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