[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

[1731.] ALBERTO EMÍDIO MIDÕES [I]

* 3 DE FEVEREIRO DE 1927 || DEPORTADO PARA TIMOR E S. TOMÉ || ALJUBE (LISBOA E PORTO) || PENICHE *

[Alberto Emídio Midões || ANTT || RGP/197]

Alberto Emídio Midões é um dos muitos nomes insuficientemente estudados na luta contra a Ditadura Militar e o Estado Novo, tendo desenvolvido a sua ação política conspirativa a partir de Matosinhos, localidade onde era dono do Central Hotel, situado no então n.º 19 da R. Brito Capelo, e do Café Central. 

Republicano e, posteriormente, comunista, por estar envolvido nas primeiras revoltas contra a Ditadura, foi deportado para Timor e transferido, depois, para Angola, esteve ainda preso no Aljube, de Lisboa e do Porto, e em Peniche.

Filho de Guilhermina de Jesus Midões e de Valentim José Midões, nasceu em Lisboa, em 21 de Novembro de 1882.

Negociante, comerciante e proprietário conotado, inicialmente, como elemento influente do Partido Republicano Português, foi preso, pela primeira vez, em 28 de Outubro de 1927, quando já tinha 45 anos, por ser "o chefe do grupo civil da conspiração revolucionária", que integrava Alfredo Fonseca Campelo, Augusto Araújo, Emílio Campos  Negrais, Pimentel e Silva, e "por ser revolucionário de 3 de Fevereiro" [ANTT, Cadastro Político 367].

Segundo as informações recolhidas pela Polícia de Informações do Ministério do Interior do Porto, era em Matosinhos, no seu Central Hotel, que se reuniam, sendo Alberto Midões acusado de "chefiar o grupo que atacou a coluna fiel ao governo que desembarcou em Leixões" [ANTT].

[Alberto Emídio Midões || ANTT || RGP/197]

Enviado para Lisboa em 29 de Outubro, foi deportado, em 22 de Novembro de 1927, para Timor, de onde se evadiu em 17 de Janeiro de 1929. No entanto, a fuga pode ter-se dado já a caminho de Angola, para onde fora transferido em 6 de Janeiro, segundo registo do seu Cadastro Político.

Segundo informações prestadas a Manuela Espírito Santo pelo neto, Alberto Midões "fugiu de S. Tomé, onde estava deportado, para Tenerife. De Tenerife chegou a Vigo, cidade onde permaneceu algum tempo, graças à  generosidade de uma família galega que o acolheu. A relação  (e amizade) com essa família chegou até  às gerações mais próximas" [informação via Manuela Espírito Santo].

Em 3 de Janeiro de 1930, um informador dava conta da sua presença em Matosinhos, com várias deslocações à Póvoa do Varzim.

Mais de meio ano depois, em 23 de Julho, era dada a informação que Alberto Midões continuava a deslocar-se a Matosinhos.

No ano seguinte, em 1 de Maio, é referenciado como estando envolvido na revolução preparada para o dia 2 e que acabou por fracassar. O mesmo informador dá conta de, ao ter conhecimento do movimento revolucionário, se ter deslocado de Vila do Conde para Matosinhos, talvez "acompanhado do ex-capitão Ramalho" [ANTT] e ter sido "hasteado no café de que é proprietário" "uma bandeira vermelha".

Alberto Emídio Midões só seria preso em 2 de Dezembro de 1931, no Porto, por andar fugido da deportação e estar envolvido nos acontecimentos do 1.º de Maio.

Enviado para Lisboa em 19 de Dezembro, saiu em liberdade em 18 de Fevereiro de 1932.

Novamente preso em 3 de Outubro de 1934, no Porto, "por estar envolvido em manejos revolucionários", envolvendo, entre outros, Armando Soares, Camilo Cortesão, Gregório Mendes e José Ferreira da Costa e Silva.

[ANTT || RGP/197]

Considerado pela Polícia como "um elemento irrequieto, conspirando sempre, embora o faça com toda a segurança, pois trata-se de uma pessoa esperta" [ANTT], foi transferido para a Fortaleza Militar de Peniche em 14 de Outubro, onde ficou a aguardar julgamento. e, em 9 de Novembro, passou para o Aljube.

Libertado em 14 de Dezembro de 1934, voltou a ser preso em 21 de Maio de 1935, no Porto. e enviado para o Aljube daquela cidade.

Solto em 1 de Julho, seria novamente detido, sempre no Porto, em 5 de Maio de 1937 e libertado em 2 de Agosto.

[Central Hotel || Matosinhos]

Segundo José Rodrigues, Alberto Midões "foi um comerciante, proprietário e militante do PCP que residiu em Matosinhos a maior parte da sua vida" e comprara o Central Hotel antes de Janeiro de 1927, tendo, durante a Ditadura Militar, pedido "a um pedreiro para fazer um quarto falso", "no qual ele sempre se escondia quando se perspectivava a sua prisão (além do pedreiro que o fez e do seu amigo e barbeiro Miguel Garcia, seus companheiros de Partido, ninguém mais sabia da existência desse quarto secreto)" [José Rodrigues].

Alberto Emídio Midões faleceu em 1946.

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

Fontes: ANTT, Cadastro Político 367; RGP/197. 
Informações prestadas pelo neto de Alberto Midões a Manuela Espírito Santo, a quem muito agradecemos a preciosa colaboração.

[João Esteves]

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