[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 21 de março de 2025

[3516.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCCLXXXVII

 PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCCLXXXVII *

00209. Alexandre Vieira Alexandre Fernandes Vieira [1927]

[Alexandre Vieira || F. 04/03/1927 || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Alexandre Vieira.
Porto - Santo Ildefonso, 11/09/1880. Filho do ferroviário José Fernandes Vieira. Operário gráfico e jornalista. Aos dez anos era aprendiz de latoeiro em Viana do Castelo e depois, aos quinze, iniciou, em Coimbra, a sua vida de tipógrafo, profissão a que ficou sempre associado. Destacou-se enquanto figura relevante do movimento operário e do sindicalismo revolucionário nos últimos anos da Monarquia e durante toda a I República. A sua intervenção sindical e política esbateu-se a partir da década de 1930Dirigiu, em Viana do Castelo, "O Lutador", órgão local da Federação das Associações Operárias e filiou-se na Associação dos Compositores Tipográficos quando se fixou em Lisboa. Conviveu com Adolfo Lima [28/05/1874-27/11/1943], António Tomás Pinto Quartin [15/01/1887-07/02/1970], Aurélio Pereira da Silva Quintanilha [24/04/1892-27/06/1987], Emílio Martins Costa [21/02/1877-17/02/1952], João Evangelista Campos Lima [1877-1956] e Neno Vasco [09/05/1878- 15/09/1920], quase todos da sua geração, e tornou-se ativista do sindicalismo revolucionário. Em 1908, durante escassos seis meses, dirigiu o diário "A Greve", em colaboração com o anarquista Pinto Quartin e o socialista Fernandes Alves, periódico substituído, em Novembro de 1910, pelo semanário "O Sindicalista". Esteve ativo durante os 16 anos da República: participou no Congresso Operário de 1911 e no Congresso Nacional Operário de Tomar, realizado em Março de 1914, assembleia onde se deliberou a criação da União Operária Nacional e seria eleito secretário-geral da Comissão Executiva; integrou, em 1916/1917, a Comissão de Sindicalistas que diligenciou junto de Afonso Costa devido à galopante carestia de vida; foi o primeiro diretor do jornal "A Batalha", cujo primeiro número saiu em 23 de Fevereiro de 1919; e interveio, como delegado, no II Congresso Operário Nacional, realizado em Setembro de 1919, em Coimbra, reunião que criou a Confederação Geral do Trabalho (CGT) em substituição da União Operária Nacional. Manteve um trajeto muito peculiar no movimento sindical, não procurando rupturas com os diferentes intervenientes da época e convivendo com alguns dos principais intelectuais republicanos e socialistas. Preso por oito vezes, sem nunca ir a julgamento, passou pelas prisões do Limoeiro e do Governo Civil, tendo também permanecido detido no Forte de ElvasChefiou a tipografia da "Seara Nova" e, depois, a da Biblioteca Nacional quando Jaime Cortesão [29/04/1884-14/08/1960] e Raul Proença [10/05/1884-20/05/1941] assumiram a sua direção. Foi aqui que, já depois de instituída a Ditadura Militar e demitidos aqueles, Alexandre Vieira seria preso pela nona vez, na sequência de um conflito laboral com Fidelino de Figueiredo [20/07/1888-20/03/1967], o novo diretor da instituição nomeado em 16 de fevereiro, tendo-o agredido. Preso em 03/03/1927 e levado para o Governo Civil, onde permaneceu uma semana. Passou, em 10/03/1927, para o Forte de Monsanto e, em 14/05/1927, seguiu para a Cadeia do Limoeiro, sendo libertado, sob fiança e a aguardar julgamento. Este decorreu em 23/06/1927, no tribunal da Boa-Hora, tendo por advogado Ramada Curto e como testemunhas de defesa Afonso Lopes Vieira, Aurélio Quintanilha, Ferreira de Macedo, José de Figueiredo e Pinto Quartin. Ferreira de Macedo, antigo diretor da Biblioteca Nacional, declarou que não conhecia "ninguém mais equilibrado do que o réu. É invulgarmente culto. Não é um simples operário. É uma pessoa de rara ponderação, de uma rara isenção e de uma rara tolerância." José de Figueiredo, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, afirmou que só explicava o ato que praticou "por motivos de autoritarismo do seu chefe de serviço". O escritor Afonso Lopes Vieira afirmou que "Alexandre Vieira é um homem de exemplar caráter, de perfeita educação e absolutamente calmo em todas as circunstâncias da sua vida". Por sua vez, Aurélio Quintanilha, professor da Universidade de Coimbra, expôs que o conhecia desde 1912: "A sua amizade e a sua camaradagem são uma honra para mim. O exemplo da sua vida em muito contribuiu para me fazer tolerante [...]. Se Alexandre Vieira tivesse sido tratado com a devida correção, nunca ele teria de agredir, respondendo a ofensas que certamente lhe foram feitas." Devido à sua própria confissão, foi condenado a trinta dias de prisão correcional, saindo em liberdade devido ao tempo já cumprido.]
[alterado em 03/11/2024]
[alterado em 21/03/2025]

[João Esteves]

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