[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 2 de julho de 2015

[1013.] ARMANDA DA CONCEIÇÃO SILVA MARTINS [I] || 1919 - 1955

* ARMANDA DA CONCEIÇÃO SILVA MARTINS FORJAZ DE LACERDA *

[1919-1955]

Eis um nome e uma família de importância indiscutível na luta contra a ditadura do Estado Novo, ainda que insuficientemente referenciado, tendo Armanda Lacerda sido sócia da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, militado clandestinamente no Partido Comunista e, nesse âmbito, sido presa em 1945, dez anos antes do seu falecimento precoce.


Filha de Maria Josefina da Conceição Rocha e Silva e de José Martins Pacheco, grande proprietário rural, Armanda da Conceição Silva Martins nasceu em Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis a 26 de Fevereiro de 1919 e desposou Miguel Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda [28/12/1913-20/04/1993]. 

Militante comunista na década de 40 e sócia nº 301 da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, Armanda Lacerda constitui um exemplo paradigmático da importância das teias familiares na intervenção política e associativa das mulheres, nomeadamente sob a ditadura.

Pertencia a uma família muito politizada, com vários intervenientes na luta política ativa: os irmãos José Augusto [08/10/1912-1956] e Júlio da Conceição Silva Martins e o marido eram importantes quadros e dirigentes do Partido Comunista; a sogra, Adélia Augusta Gonçalves de Morais e Castro [n. 09/12/1889], era irmã de Amílcar Gonçalves de Morais e Castro [n. 22/05/1896], casado com Irene Fernandes Morais Castro [05/09/1895-28/07/1975] que teve um papel relevante na Delegação do Porto da AFPP, tendo sido a sua última presidente [1949-1952]; o marido, Miguel Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda, era, assim, primo de Armando, Raúl e Amílcar de Castro, cujas esposas, respetivamente Maria Virgínia Castro, Maria Carolina Campos e Maria Adelaide Lima Oliveira Ribeiro, eram igualmente sócias da mesma associação; as irmãs Helena Maria e Maria Lucília da Silva Martins eram também sócias da AFPP, com os números 172 e 39. 

Casou pouco tempo antes de passar à clandestinidade; usou o pseudónimo “Conceição”; participou, enquanto companheira, no apoio logístico à V reunião ampliada do Comité Central realizada, em Maio de 1945, na Casa da Granja; e escassos dias depois, a 14 de Junho, foi presa com o marido, então membro suplente do CC, numa casa em Moreira da Maia usada como tipografia pelo Comité Local do Porto. 

Tal como Dalila Duque da Fonseca, presa na mesma data mas noutro local, foi solta em liberdade condicional e, em 4 de Novembro de 1946, condenada em três meses de prisão correcional, por ter acompanhado o marido na clandestinidade. Neste mesmo ano, segundo documento de Setembro, o Secretariado do Comité Central acusara o marido de ter “contribuído para o afrouxamento da firme posição que sua companheira, Armanda Martins de Lacerda, vinha mantendo e para que ela fizesse algumas declarações prejudiciais”, aconselhando-a a confirmar “o que a polícia já sabia”, expulsando-o do PCP. 

Mãe de um único filho, nascido em Pinheiro de Bemposta, Oliveira de Azeméis, morreu muito nova, no dia 22 de Fevereiro de 1955, a 4 dias de completar 36 anos de idade. 

[João Esteves]

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