[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 28 de julho de 2015

[1041.] NINA PERDIGÃO [III] || 1902 - 1988

* TOMÁZIA JOSEFINA HENRIQUES PERDIGÃO *

[1902-1988]
[in Manuela Perdigão, blogue da Família Perdigão]

Mais conhecida por Nina Perdigão

Filha de Tomázia Alves de Azevedo Henriques [f. 24/08/1936], proprietária, e de Joaquim dos Santos Henriques, nasceu a 2 de Maio de 1902 na Freguesia de Cedofeita, Porto, cidade onde faleceu em 1988. 

Teve quatros irmãos, todos rapazes: Luís, Carlos, Joaquim e António Azevedo Santos Henriques. 

Casou com Licínio Pinheiro Perdigão [1905-1934], nascido em Manaus, Brasil, arquiteto que cursou a Faculdade de Belas Artes do Porto entre 23/09/1922 e 03/10/1929 e que faleceu muito novo em início de carreira, não voltando a contrair matrimónio. 

Viúva muito nova e mãe de dois filhos pequenos (Rui e Gil Perdigão), ficou economicamente dependente dos pais que estavam ligados à indústria têxtil portuense. A sua militância política iniciou-se na década de 30, no âmbito do Socorro Vermelho Internacional, vendendo o boletim Solidariedade e selos para angariar fundos para os presos políticos, militantes clandestinos e vítimas da Guerra Civil de Espanha. 

Com 34 anos e recém viúva, foi presa na residência da Avenida da Boa Vista, 341, Porto, em 22 de Outubro de 1936, acusada de fazer parte do Socorro Vermelho Internacional do Norte [ANTT-PIDE/DGS Proc. 122/37], e libertada em 30 de Maio de 1937. 

Novamente detida em 9 de Agosto deste ano a fim de ser submetida a julgamento, recolheu ao Aljube do Porto e saiu em liberdade em 26 de Agosto depois de ter sido condenada pelo Tribunal Militar Especial à multa de 2.400$00, que se substituía, quando não paga, por quatro meses de prisão correcional [Processo nº 39/937 do Tribunal Militar Especial de Lisboa, fl. 25].

A mulher do Presidente Óscar Carmona, Maria do Carmo Ferreira da Silva [1888-1956], intercedeu por ela junto de Salazar, tendo este afirmado: “Será um bom exemplo para as mulheres portuguesas”! [Rui Perdigão, O PCP visto por fora e por dentro, p. 41]. 

Cumpriu a sentença no Aljube do Porto, numa cela juntamente com Alice Pereira Gomes [1910-1983], irmã de Soeiro Pereira Gomes. 

Em 1944, aderiu ao Partido Comunista Português, do qual se afastou após os acontecimentos da Checoslováquia, tornando-se o seu principal sustentáculo económico durante a clandestinidade, envolvendo, segundo o filho Rui Perdigão, 150.000 contos, doados principalmente durante a década de 50. 

A sua casa funcionou também como ponto de apoio do Partido Comunista, sendo apenas do conhecimento do Secretariado, tendo passado por lá Joaquim Pires Jorge, Cândida Ventura e, no verão de 1949, Soeiro Pereira Gomes, este na fase terminal da doença que o vitimou. Foi aí que se inspirou para os últimos escritos, escondidos até ser possível recuperá-los mais tarde: “Foi minha mãe, Nina Perdigão, que com uma enorme paciência reconstruiu os textos, tendo sido em muitos sítios obrigada a dar uma versão sua de certas frases, totalmente desaparecidas. Foi este o texto que serviu à primeira edição dos Contos Vermelhos aparecida clandestinamente” [ibidem, p. 41]. 

As doações de Nina Perdigão foram fundamentais para a manutenção das tipografias clandestinas e com o filho Rui e a esposa deste, Fernanda Maria Baía da Silva, formou e manteve na clandestinidade um “aparelho” de apoio logístico, considerado pela Direção do PCP como muito importante, já que envolvia o serviço clandestino de fronteiras que permitia a saída do país de militantes na clandestinidade. 

Tomázia Perdigão foi, segundo o Diário de Maria Luísa Ribeiro de Lemos, uma das fundadoras da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, sendo a sócia nº 273 de acordo com o caderno de Irene [Fernandes Morais] Castro, a sua última presidente, com residência na Rua do Breyner, 123, 2º [ver Lúcia Serralheiro, Mulheres em Grupo Contra a Corrente] . 

O investigador José Pacheco Pereira considera que foram duas as famílias do Porto que mais ajudaram o Partido Comunista na clandestinidade, a saber, a família de Guilherme da Costa Carvalho, cujos pais e irmã também pertenciam à AFPP, e a de Nina Perdigão.

Lúcia Serralheiro incluiu uma biografia de Tomázia Josefina Henriques Perdigão/Nina Perdigão no Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX) [Livros  Horizonte, 2005].

[João Esteves]

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