[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 10 de maio de 2018

[1808.] EURICO PINTO MATEUS [I]

* EURICO PINTO MATEUS || ANARCO-SINDICALISTA || PARTICIPAÇÃO NO 18 DE JANEIRO DE 1934 || EXILADO EM ESPANHA || DEPORTADO PARA O TARRAFAL (1937-1945) *

Estucador, Eurico Pinto Mateus desenvolveu, no início da década de 1930, intensa actividade sindical no âmbito do Sindicato da Construção Civil, chegando a integrar a Comissão Inter-sindical (CIS), militou no Partido Comunista e, por volta de 1932, já era um defensor das ideias anarquistas, aproximando-se do anarco-sindicalismo.

Preso uma primeira vez em 1932, foi absolvido. Por ter participado nos preparativos da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, refugiou-se em Espanha, onde integrou a Federação dos Anarquistas Portugueses Exilados (FAPE). Expulso daquele país, foi preso em 1937 e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde permaneceu cerca de sete anos.

[Eurico Pinto Mateus || 1932 ? || ANTT || PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Carolina Maria Pereira e de Simão Mateus, Eurico Pinto Mateus nasceu em Lisboa, em 24 de Novembro de 1908.

No início dos anos 30, quando militava no Partido Comunista, fez parte da Comissão Inter-Sindical (CIS), trabalhando politica e partidariamente com Francisco Roque Júnior, detido no Aljube, Grácio Ribeiro, estudante deportado para Timor, e Manuel Moor [RGP/8793], fugido à polícia e só preso em 1937.

Entretanto, abraçou o anarco-sindicalismo, por estar "mais de acordo com os princípios estabelecidos pelo proletariado, pois é contra a força armada, contra o Estado Organizado e contra as classes privilegiadas", proferindo "conferências e preleções aos operários da Construção Civil, nas quais lhe explica as razões do aparecimento do anarco-sindicalismo e seus fins, bem como aconselha a massa operária a desprezar as ideias expostas pelos partidos que se servem dela, para os seus fins, com falsas promessas". Era ainda "contra todas as ditaduras, inclusive a proletária, à maneira russa" [ANTT, Cadastro Político 4559].

No âmbito da intervenção junto da classe dos estucadores, Eurico Pinto Mateus era seu delegado ao Conselho Administrativo do Sindicato da Construção Civil [Processo 587/SPS].

Preso, pela primeira vez, em 21 de Outubro de 1932, "por ter entregue manifestos anarquistas a Alfredo Crispim Duarte", tendo-os recebido de Francisco Cardoso Pires [RGP/7499], libertado do Aljube havia pouco tempo [ANTT, Cadastro Político].

Considerado pela Polícia de Defesa Política e Social como tendo "uma relativa cultura e facilidade em falar e escrever", desenvolvendo, "apesar de bastante novo", "uma enorme actividade de ideias social-revolucionárias", Eurico Pinto Mateus foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 17 de Junho de 1933 e absolvido, pelo que foi libertado.

No ano seguinte, pertenceu ao Comité de Acção do 18 de Janeiro, não tendo concretizado a distribuição das armas prevista aquando do desencadear da Greve Geral. Cooperou, entre outros, com Armando dos Santos Calet [RGP/302], Bartolomeu José da Costa, Custódio da Costa [RGP/54], João Sarmento Dias [RGP/334], João Serra,  José Severino de Melo Bandeira [RGP/331], Manuel Henriques Rijo [RGP/349], Silvino Augusto Ferreira [RGP/12592] [Processos 1011, 1227 e 1237/SPS].

Após essa data, exilou-se em Espanha onde integrou o Secretariado da Federação dos Anarquistas Portugueses Exilados, após uma reunião promovida por Marques da Costa e onde estiveram presentes Alberto Dias, de Lisboa, Custódio Bresce de Lima, do Porto, e José Rodrigues Reboredo, de Viana do Castelo [RGP/12947] [ANTT, Cadastro 4559; Cristina Clímaco, "Os anarquistas no exílio (1930-1936)"].


[CLNSRF || Presos Políticos No Regime Fascista II (1936-1939) || 1982]

Expulso de Espanha, Eurico Pinto Mateus foi novamente preso em 4 de Março de 1937 e levado para o Aljube, onde recolheu à enfermaria. 

Passou, de seguida, por uma esquadra, regressou ao Aljube e seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal em 6 de Novembro, integrando a 3.ª leva de presos políticos. Aí permanece até 20 de Fevereiro de 1945.

Regressado a Portugal, Eurico Pinto Mateus voltou a residir na Rua da Saudade, 3, Cave - Lisboa.

[Eurico Pinto Mateus || 1932 ? || ANTT || PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

NOTA: Atenção ao uso indevido desta imagem sem a devida autorização dos serviços do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4559 [Eurico Pinto Mateus / PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0044, m0044a, m0044b, m0044c].
ANTT, Fotografia 2011 [Eurico Pinto Mateus / C-4559 / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0030].
ANTT, Fotografia 2049 [Eurico Pinto Mateus / C-4559 / [ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0033].
ANTT, Registo Geral de presos/6244.

[João Esteves]

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