* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CLXXXVIII *
01220. Eleutério Lopes Grosso [1932]
[Elvas, c. 1901, empregado do comércio. Filiação: Brizida do Carmo e Paulo António. Solteiro. Residência: Calçada da Bica Grande, 16 - Lisboa. Empregado numa taberna da Calçada da Bica. Preso em 25/04/1932, acusado de estar envolvido, enquanto simpatizante, nas atividades que o Partido Comunista preparava para o 1.º e Maio, guardando vários embrulhos com materiais destinados ao fabrico de bombas. Mantinha ligações com Abel Augusto Gomes de Abreu, Álvaro Augusto Ferreira, António Franco Trindade, Jaime da Fonseca e Sousa e Jaime Tiago. Transferido, em 29/11/1932, da Penitenciária para o Hospital do Desterro, onde foi internado, continuando sob prisão. Julgado pelo Tribunal Militar Especial em 20/10/1934, foi condenado a um ano de prisão correcional, dada por expiada. Libertado em 29/10/1934.]
01221. Manuel dos Santos [1932]
[Libertado do Aljube em 30/11/1932 ou 01/12/1932.]
01222. Domingos dos Santos [1933, 1937]
[Domingos dos Santos || ANTT || RGP/58]
["O Calabrez". Lisboa, 01/05/1915, serralheiro. Filiação: Berta das Dores e Aníbal dos Santos. Solteiro. Residência: Beco do Forno do Castelo, 16 - Lisboa. Dirigente da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas desde 1932, chegando a pertencer ao seu Comité Central, foi preso, pela primeira vez, em 1933, passou pelo Aljube e foi deportado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, por ordem do Governo. Novamente preso em 1937, foi deportado para o Tarrafal, de onde regressou ao fim de três anos. Integrou, com Álvaro Cunhal, a Delegação da FJCP ao VI Congresso da Internacional Comunista Juvenil, realizado em Moscovo no Verão de 1935. Serralheiro do Arsenal do Exército, conhecido por "O Calabrez", era procurado desde Fevereiro de 1933 por estar identificado como fazendo parte do Comité Regional de Lisboa das Juventudes Comunistas, juntamente com António da Piedade Cipriano ("Borodine"), João Ferreira de Abreu e Virgílio de Jesus Luís, entre outros. Preso em 11/04/1933, seria o filiado N.º 150 das Juventudes Comunistas e pertencia à Célula Nº 15, que reunia, à hora do almoço, no Arsenal do Exército, sendo o responsável pela Comissão do Socorro Vermelho Internacional. Para além de fazer parte do Comité de Aprendizes do Arsenal do Exército, integrava o Comité de Zona Nº 1, onde tinha a cargo a Comissão Sindical; o Comité Regional de Lisboa, sendo o responsável pela Comissão Regional Política e de Agitação e Propaganda; a Comissão Central Sindical das Juventudes Comunistas; e o Grupo de Defesa Académica da Escola Industrial Afonso Domingos, que frequentava. Para além de participar em todas as reuniões dos organismos a que pertencia, interveio na distribuição e venda da imprensa clandestina, colaborou na redação de artigos e de desenhos e, na madrugada de 4 de Setembro de 1932, participou em pinturas e afixação de selos e cartazes nos prédios situados no Alto do Varejão, Caminhos-de-Ferro, Estrada da Circunvalação e Alto de S. João. Nesse mesmo dia, esteve na manifestação realizada no Largo de Alcântara, de forma a celebrar o Dia da Juventude. Francisco de Paula de Oliveira (Pavel) foi o orador desse "comício-relâmpago", tendo do confronto com a polícia resultado a morte do guarda António Trancoso e do manifestante Alfredo Ruas/José Ruas Ferreira. Apesar do seu processo ter sido enviado ao Tribunal Militar Especial em 19/06/1933, a fim de ser submetido a julgamento, foi por ordem do Governo que, em 19/11/1933, Domingos dos Santos, então com 18 anos, foi enviado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo. Julgado em 25/08/1934 pela Secção dos Açores do Tribunal Militar Especial, atendeu-se ao facto de ser menor de idade e, por isso, foi condenado a trezentos dias de prisão, já cumpridos, e perda de direitos políticos por cinco anos. Regressou de Angra do Heroísmo em 09/11/1934 e saiu em liberdade no dia seguinte, continuando a viver em Lisboa, no Beco do Forno do Castelo, 16 - Loja. Retomou a luta política e, em 1935, integrou o Secretariado da Federação das Juventudes Comunistas, juntamente com Álvaro Cunhal, Francisco Ferreira e José Gilberto Florindo de Oliveira. Em Julho de 1935, o Comité Central da FJCP escolheu Álvaro Cunhal e Domingos dos Santos, que usava o pseudónimo "Felipe Magalhães/Magalhães", como Delegados ao Congresso da Internacional Comunista Juvenil (IJC) que se realizava em Moscovo, tendo os dois viajado juntos. Segundo José Pacheco Pereira, saíram de Portugal pelo Alentejo, passaram os Pirenéus para chegar a França, atravessaram de comboio a Alemanha nazi e chegaram à União Soviética, em Agosto, através dos países bálticos. Durante a permanência em Moscovo, Francisco de Paula Oliveira teria diligenciado para que Domingos dos Santos ali permanecesse enquanto representante da FJCP na IJC. Na sequência da partida, em Julho de 1936, de Álvaro Cunhal para Espanha e da prisão de José Gilberto Florindo de Oliveira, ficou a controlar a FJCP. Em Março de 1936, a Polícia já estava na posse de informações sobre o papel ativo de Domingos dos Santos, que só seria preso um ano depois, em 30/04/1937. No seu Cadastro Político, é referida a sua participação no Comité Central da FJCP, juntamente com Gilberto de Oliveira "e um indivíduo de apelido Cunhal, filho de um advogado do mesmo apelido". Preso no Segredo da Cadeia do Aljube, integrou a segunda leva de presos políticos enviada para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde chegou em 12/06/1937. Aí permaneceu até 07/07/1940 e desembarcou em Lisboa em 15 de Julho, sendo enviado para Caxias. Libertado em 27/09/1940 e "entregue na mesma data ao Pai", quando tinha 25 anos de idade e nove anos de intensa militância. José Pacheco Pereira refere que terá enlouquecido com a deportação e que, posteriormente, se terá curado, não mantendo atividades políticas.]
[João Esteves]
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