* LUÍSA DA CONCEIÇÃO PAULO *
[25/12/1898-1966]
Tecedeira.
Nasceu em
Lisboa a 25 de dezembro de 1898 e faleceu em 1966, com 67 anos de idade, após
décadas de militância no Partido Comunista.
Começou a trabalhar
aos 17 anos na indústria têxtil, onde se evidenciou nas lutas por melhores
salários e condições de trabalho. Durante a I República, terá participado nas
grandes manifestações e greves da CGT.
Casou-se, aos
19 anos, com Carlos Luís Paulo, pintor da construção civil, perseguido, várias
vezes preso no Governo Civil de Lisboa e deportado para Angola em 1927, devido às
suas posições políticas.
Dezoito meses
depois partiu com a filha, Aida da Conceição Paulo, para África.
Regressadas a
Portugal, mãe e filha desenvolveram intensa actividade conspirativa, com
angariação de fundos para os presos políticos, que visitavam ao domingo.
Durante a Guerra
Civil de Espanha, Luísa Paulo cuidou de quatro refugiados espanhóis em sua
casa, enquanto continuava a trabalhar numa fábrica. Data desse período o início
da militância activa no Partido Comunista, formando com a filha um dos pares
com mais experiência da vida clandestina.
Presa com Aida
Paulo a 27 de Maio de 1939, numa tipografia ilegal em Algés, manteve-se
incomunicável numa esquadra até ser transferida, a 21 de Junho, para a Cadeia
das Mónicas: julgada no Tribunal Militar Territorial em 19 de Outubro de 1940,
foi condenada a vinte meses de prisão correccional, que cumpriu naquele
estabelecimento, onde conviveu com presas de delito comum, e saiu em liberdade
a 1 de Fevereiro de 1941.
Voltou à
militância activa, passando imediatamente com a filha para uma casa na Chamboeira
(Freixial, Loures), com Sérgio Vilarigues e, posteriormente, Álvaro Cunhal, de
quem fazia de “mãe”.
Trabalhou nos serviços
de apoio, participaram ao I Congresso Ilegal do PCP, realizado no Monte Estoril
em 1943.
Tornou a ser
detida em 1947, também numa tipografia, e com a filha, numa casa clandestina, a
2 de dezembro de 1958, data do último trio de fotografias que consta da sua
Biografia Prisional.
Enviada para
Caxias, foi julgada em 25 de fevereiro de 1960 pelo Plenário do Tribunal
Criminal da Comarca de Lisboa e sentenciada a dois anos de prisão maior,
suspensão dos direitos políticos durante 15 anos e a medida de segurança de
internamento indeterminado de seis meses a três anos, prorrogável. Acabou por
ser libertada em 5 de Julho de 1962, por se encontrar gravemente doente.
Aprendeu a ler
e a escrever somente na clandestinidade, quando tinha mais de 40 anos. Maria
Eugénia Varela Gomes, sua companheira de cela, descreve-a no livro Contra
ventos e marés:
“A velha Luísa Paulo, a mãe Luísa, como lhe chamávamos. Era uma
verdadeira operária. Só entrara para o Partido Comunista aos quarenta anos, já
viúva, depois de uma vida de luta cá fora, e de caminhadas para as cadeias, a
apoiar o marido e os amigos. Fora no partido que aprendera a ler, e a sua ânsia
de se cultivar era comovedora. Inteligente, esperta como um alho, era capaz de
pensar pela sua cabeça, e não havia demagogia nem artes oratórias que a
dobrassem, enfrentando constantemente as intelectuais. Doentíssima, superava a
doença com a sua energia indomável. Estudava, lia, fazia ginástica, apesar da
sua idade avançada e de um coração que funcionava muito mal. Tive sempre o
apoio dela, embora discreto. Só não se lhe podia falar em padres, porque perdia
a cabeça. Viera da I República, e era de um anticlericalismo total” [MMC, Maria
Eugénia Varela Gomes..., p. 233].
Considerada um símbolo da defesa das casas clandestinas durante três
décadas, Rose Nery Nobre de Melo dedicou-lhe um capítulo no livro Mulheres
Portuguesas na Resistência. Tal como a filha, o apelido aparece
frequentemente como Paula.
[João Esteves]
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