* LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS *
[25/01/1912] A direcção da
LRMP, acompanhada por grande número de sócias, entrega a Alexandre Braga uma
mensagem de agradecimento pela sua apresentação de um projecto de lei sobre os
direitos da mulher.
As sócias da LRMP à saída do Parlamento, depois de terem entregue a Representação a Alexandre Braga
«Os Direitos da Mulher - As sócias da Liga Republicana entregam uma mensagem ao
sr. Dr. Alexandre Braga
A
Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo resolvido entregar ao sr. Dr.
Alexandre Braga uma mensagem de felicitação e agradecimento pela apresentação
do projecto de lei acerca dos direitos da mulher, convidou ontem as suas sócias
a acompanharem a direcção ao edifício do Congresso, onde seria feita a entrega
daquele documento. Com efeito umas duzentas e cinquenta senhoras foram ontem,
pelas 15 horas, ao palácio de S. Bento em procura do ilustre parlamentar,
depositando-lhe nas mãos, depois de lido pela sr.ª D. Maria Veleda, o seguinte
documento:
Ilustre cidadão – Reunida em sessão extraordinária a assembleia
geral da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas para apreciar o acto
belamente humanitário e da mais alta significação moral que vindes de praticar,
apresentando no parlamento um projecto de lei que tem por objecto a emancipação
civil e económica da Mulher, a qual até hoje tem vivido numa situação de
escrava igualada aos irresponsáveis nos direitos, comparada aos Idiotas,
submetida a uma tutela deprimente, tanto para ela como para os seres livres que
a exerciam – seus pais ou seus maridos – foi por todas as sócias presentes e
que assinam esta mensagem, o vosso nome aclamado como o de um benemérito, digno
e nobilíssimo continuador daquele a quem as mulheres portuguesas devem os
primeiros fulgores de justiça na sua aurora de libertação. Glória a Afonso
Costa! Glória a vós, que, pondo o pé sobre a cabeça viperina do preconceito,
levais a mulher até onde ela devia e era justo que fosse elevada. Numa
República democrática não se compreendia que a Mulher pudesse permanecer na
angustiosa, cruel e aviltante situação em que o Código Civil a mantinha. Não se
compreendia que mães de homens livres continuassem sendo escravas. O projecto
de lei, que apresentastes ao parlamento, e que este decerto aprovará
integralmente, dando a todo o mundo culto mais um grandioso exemplo de
solidariedade humana e engrandecendo cada vez mais a República, para que todas
nós trabalhámos na medida das nossas forças – a nossa querida República! A
nossa República bem amada, tão jovem e já de tanto prestígio! – o projecto de
lei que apresentastes ao parlamento, constituiria ele só por si – ainda que
outros e muitos outros não tivésseis – um preclaríssimo título de glória. Encarecê-lo
mais é inútil: no seu mesmo significado, está o seu maior engrandecimento. Nós
vimos simplesmente prestar-vos o tributo da nossa profunda gratidão. Milhares
de bocas femininas proclamam reconhecidamente o vosso nome. Ele ficará, como um
sol de rutilante brilho iluminando as páginas da nossa história. Viva Alexandre
Braga! Viva a República!
(Seguem-se as assinaturas).
O sr. Dr. Alexandre
Braga recebeu as sócias da Liga Republicana num dos gabinetes da câmara, e
respondeu com um pequeno discurso, em que agradecia a manifestação, afirmando
que ela lhe daria mais força para sustentar o projecto que apresentara. Foram
soltados depois muitos vivas ao seu nome e à República.
O sr. Dr. Magalhães Lima,
que tinha prometido incorporar-se na manifestação e apresentar a direcção da
Liga ao sr. Dr. Alexandre Braga, não compareceu por estar àquela hora impedido
junto de um amigo que necessitava da sua presença para um acto solene.»
[O Mundo,
26/01/1912, p. 1, cols. 3-5]
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