[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 17 de fevereiro de 2019

[2061.] BOAVENTURA GONÇALVES [I] || DEPORTADO PARA TIMOR (1931) E PARA O TARRAFAL (1936)

* BOAVENTURA GONÇALVES *
[1907 - ?]

DEPORTADO PARA TIMOR (1931 - 1932) E PARA O TARRAFAL (1936 - 1944)

[Boaventura Gonçalves || 1936 || RGP/3406 || PT-TT-PIDE-E-010-18-3406_m0025]

Filho de Maria Teresa e de Joaquim Gonçalves, Boaventura Gonçalves nasceu em 5 de Janeiro de 1907, em Silves.

Operário da construção civil, com residência na Avenida 5 de Outubro - Quinta  do Ferro, participou na Revolta de 26 de Agosto de 1931 e foi preso nesse mesmo dia por uma força da PSP «numas terras próximas de Entrecampos, onde se encontrava escondido juntamente com outros civis armados que fizeram fogo sobre a mesma força» [ANTT, Cadastro Político 3308].

Levado para a Cadeia Nacional / Penitenciária de Lisboa e deportado para Timor na semana seguinte, Boaventura Gonçalves integrou a leva de 358 presos políticos (271 civis e 87 militares) que, em 2 de Setembro, embarcou no navio Pedro Gomes [Processo 324].

[Boaventura Gonçalves || 1936 || RGP/3406 || PT-TT-PIDE-E-010-18-3406_m0025]

Naquele transporte seguiam os principais chefes militares da revolta de 26 de Agosto, tendo o barco navegado pelo Mar Mediterrâneo, atravessado o Canal do Suez e chegado a Dili em 16 de Outubro, sem fazer qualquer escala nas colónias portuguesas. 

Abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932, regressou no paquete Moçambique que atracou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos em 9 de Junho de 1933.

Apresentou-se na Polícia Política em 12 de Junho de 1933, onde declarou ir residir para a Rua do Barão - 14.

[Boaventura Gonçalves || 1936 || RGP/3406 || PT-TT-PIDE-E-010-18-3406_m0025]

Três anos após o regresso da primeira deportação, Boaventura Gonçalves estava como empregado no comércio em Lisboa e residiria na Rua Carvalho Araújo, nº 28 - 4.º. 

Em 12 de Julho de 1936 foi preso pela Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa Social, sendo então responsável por uma tipografia do Partido Comunista. Encaminhado para uma esquadra, foi transferido, em 17 de Agosto, para a 1.ª Esquadra e, em 27 do mesmo mês, passou para o Aljube.

[Boaventura Gonçalves || 1936 || RGP/3406 || PT-TT-PIDE-E-010-18-3406_m0025]

Em 17 de Outubro de 1936 seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, incorporando o grupo de presos políticos que o inaugurou em 29 do mesmo mês. Aí, integrou a Organização Comunista Prisional do Tarrafal (OCPT) e, na sequência de divergências no seu seio, formou, com Álvaro Duque da Fonseca, Fernando Macedo, Fernando Quirino, Jaime Tiago, José de Sousa, Leonilde Felizardo e Virgílio de Sousa, o Grupo dos Comunistas Afastados, todos expulsos do Partido Comunista em 1943 [José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal - Uma Biografia Política, Vol. I, 1999]. 

Cândido de Oliveira, no livro póstumo Tarrafal - O Pântano da Morte [Editorial República, 1974], refere que Boaventura Gonçalves foi um dos muitos tarrafalistas afectados pela biliosa, registada em 16 de Janeiro de 1938.

Regressou do Tarrafal em 1 de Outubro de 1944, seguiu para Caxias e só em 1 de Novembro desse ano é que foi a julgamento, tendo sido condenado pelo Tribunal Militar Especial a 24 meses de prisão correccional. Tinha estado preso preventivamente 8 anos e 112 dias!

Libertado em 8 de Novembro de 1944, desconhece-se seu o percurso posterior. 

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 3308 [Boaventura Gonçalves / PT-TT-PIDE-E-001-CX07_m0884].
ANTT, Registo Geral de Presos 3406 [Boaventura Gonçalves / PT-TT-PIDE-E-010-18-3406_m0025].

[João Esteves]

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