* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXXXIX *
01026. Joaquim Martins Branco [1932]
[Joaquim Martins Branco || F. 03/09/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903]
[Gouveia, c. 1885, comerciante. Filiação: Maria Emília de Jesus Branco, Albino Martins Branco. Casado. Residência: Rua do Embaixador 2-4. Preso em 16/08/1932, sob a acusação de se realizarem reuniões na sua mercearia e, na sua residência, se vender o jornal espanhol "Rebelião" haver vários manifestos clandestinos e uma pistola com as respetivas munições. Além disso, a pedido de Alfredo Pires, contribuiu para a subscrição a favor de Custódio Rodrigues Ferreira, fugido da esquadra da Pampulha (v. Processo 499). Recolheu, incomunicável, a uma esquadra. Remetido, em 09/09/1932, a Juízo Criminal, tendo sido entregue, em 15/09/1932, ao Tribunal da Boa-Hora. Encontrava-se, então, preso no Aljube.]
[alterado em 22/03/2022]
01027. Joaquim Gameiro [1932]
[Joaquim Gameiro || F. 28/08/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903]
[Ferreira do Alentejo, c. 1876, comerciante. Filiação: Ana Moleira, Joaquim Filipe Gameiro. Casado. Residência: Largo da Porta Nova. Preso pela PSP de Évora e entregue em 16/08/1932, por suspeita de estar implicado nos acontecimentos de Dezembro de 1931, quando foi morto o dr. Silva Dias, tendo estado ausente cerca de oito meses. Recolheu incomunicável, a uma esquadra; libertado em 08/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932.]
01028. Bernard Freund [1932]
[in Uma vida em história. Estudos em Homenagem a António Borges Coelho || Caminho || 2001 || pp. 609-626]
[Viena, 1927, empregado do comércio. Filiação: Olga Freund, Gottlieb Freund. Casado. Residência: Rua da Torre da Pólvora, 8 - Lisboa. Tornou-se militante comunista em Praga, onde foi empregado de escritório em 1928-1929. Neste mesmo ano, começou a trabalhar como correspondente estrangeiro para a empresa de conservas "Algarve Exportador", já que dominava várias línguas: desembarcou em Lisboa em Julho, conseguiu estabelecer contactos com o sindicato de arsenalistas de marinha, ligando-se, assim, ao Partido Comunista em processo de reorganização, liderado por Bento Gonçalves, e vai ser um dos impulsionadores da criação da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Adotou o pseudónimo "René", integrou o respetivo Secretariado e, em Junho de 1930, passou a ser o seu representante junto do Secretariado do Partido e, como tal, membro deste. Responsável por diversas tarefas do Secretariado da FJCP, participou em reuniões do comité Regional e de células, assegurou a correspondência, em francês e em alemão, com a Internacional Comunista da Juventude (ICJ), e ficou a frente da edição do boletim "O Jovem", órgão mensal daquela Federação, onde escrevia, datilograva os artigos em stencil e trabalhava na impressão, mediante um copiador manual, sendo um periódico mais orientado para as questões do movimento comunista internacional. A ele se deveu, em parte, o rápido crescimento da FJCP durante os ano 1930-1931 e a sua visibilidade em diversas ações. Em 1930, conheceu Wilma Abramowitsch Klein, eslovaca também chegada a Portugal em 1929 e com ligações ao movimento comunista internacional, com quem casou em 1931, em Paris, onde ambos se encontraram em Março para a realização de tarefas partidárias. Bernard Freund assegurou contactos da FJCP e do PCP com a ICJ e IC, nomeadamente sobre a formação dos militantes portugueses e o envio de alguns para a Escola Leninista, em Moscovo, enquanto a mulher tinha a cargo o trabalho a desenvolver entre as mulheres, vindo a ser, no regresso, a responsável pelo início da organização comunista daquelas em Portugal. Num partido em claro crescimento em número de células e de militantes, incluindo o sector juvenil e estudantil, Bernard Freund continuou a desenvolver intensa atividade partidária: participação nos Secretariados da FJCP e do PCP, controlo do organismo militar, com a criação de células comunistas no Exército e na Armada, acompanhamento do Comité Regional de Lisboa, elaboração de um programa sindical, organização de um caderno reivindicativo dos empregados de comércio, contactos com intelectuais, para além de assegurar a edição de "O Jovem" e contactos internacionais. Preso em 20/01/1932, no escritório da empresa "Algarve Exportador", foram apreendidos em sua casa, que funcionava como sede do arquivo dos comunistas, vasta documentação partidária, tendo as declarações à polícia agravado a extensão dos prejuízos causados nas duas estruturas: Partido Comunista e FJCP. Entregue à Polícia Internacional Portuguesa em 21/03/1932, a fim de lhe ser dado destino. Passou, em 28/05/1932, do Aljube para a Penitenciária, tendo o casal sido expulso de Portugal em 16/08/1932. O filho de ambos, Sasha, nasceu na prisão, já que Wilma também fora detida. Bernard e Wilma Freund seguiram para Viena e, depois, para Moscovo, onde já se encontravam em finais desse ano. Os dois foram executados em 1938, por altura do terceiro dos grandes processos de Moscovo, acusados de "espionagem". (Informações retiradas do artigo de João Arsénio Nunes "O camarada René e a Juventude Comunista no princípio dos anos 30").]
01029. Wilma Freund [1932]
[Kosice - Eslováquia, 1901, doméstica / professora de ballet. Filiação: Ana Klein, Desider Klein. Casada. Residência: Rua da Torre da Pólvora, 8 - Lisboa. Wilma Abramowitsch Klein viveu na Hungria, onde militou no respetivo Partido Comunista, e em Viena, tendo chegado a Portugal em 1929, onde dava aulas particulares de ballet, já que estudara com o coreógrafo Rudolf Laban, também nascido na Eslováquia. Conheceu, no ano seguinte, Bernard Freund, com quem casou em 1931, em Paris, onde ambos se encontraram em Março para a realização de tarefas partidárias. Foi a responsável pelo início da organização comunista das mulheres em Portugal, tendo Carolina Loff da Fonseca trabalhado com ela. Considerada, por uma militante sua contemporânea, "uma mulher bonita, muito enérgica, muito disciplinada e muito dedicada ao Partido" (João Arsénio Nunes, p. 617). Presa em 20/01/1932, tal como o marido, teve o filho Sasha quando estava detida. O casal foi expulso de Portugal em 16/08/1932, tendo seguido para Viena e, depois, para Moscovo, onde já se encontrava em finais desse ano. Wilma e Bernard foram executados em 1938, por altura do terceiro dos grandes processos de Moscovo, acusados de "espionagem". (Informações retiradas do artigo de João Arsénio Nunes "O camarada René e a Juventude Comunista no princípio dos anos 30").]
[João Esteves]
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