* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXXXVI *
01010. José Ruas Ferreira [1931, 1932]
[José Ruas Ferreira || ANTT || Cadastro Político 3956 || PT-TT-PIDE-E-001-CX12_m0689]
[S. Jorge - Arcos de Valdevez, c. 1908, padeiro. Filiação: Clara das Dores Ferreira, Manuel Sequeira Ruas. Solteiro. Residência: Rua da Senhora das Dores, 45 ou Rua de Santa Catarina, 1022 - Porto. Um dos primeiros jovens a ser assassinado pela Polícia na via pública, quando participava num comício-relâmpago organizado pela Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas no Largo de Alcântara, em 04/09/1932, para celebrar o Dia da Juventude. Referenciado como manipulador do pão ou padeiro, teria ligações ao Partido Comunista e ao Socorro Vermelho Internacional desde 1927, quando foi abordado pelo sapateiro e militante comunista José Silva, autor de Memórias de um operário publicadas no Porto em 1971 e que, significativamente, vivia no mesmo arruamento - Rua da Senhora das Dores - 45. Preso em 15/04/1931 pela Delegação do Porto da Polícia Internacional Portuguesa, "por estar envolvido no movimento revolucionário e por ser revolucionário avançado"; libertado em 28/04/1931.
Já a residir na Rua de Santa Catarina 1022, Porto, foi preso pela Delegação da Polícia Internacional Portuguesa em 04/03/1932, quando tinha 24 anos, "por pertencer ao Socorro Vermelho Internacional e Partido Comunista". Interrogado em 09/03/1932 por Joaquim do Passo, confirmou que tinha sido aliciado para o Partido Comunista pelo sapateiro José Silva, tendo participado em reuniões em que estiveram presentes, para além daquele, Adalberto Pinto de Oliveira, o alfaiate António de Carvalho, António Nunes, o padeiro Basílio Tavares, o sapateiro Benjamim Marques, o padeiro Manuel João, o ferroviário Maximiano Pires, morador em Campanhã, o tipógrafo Rodrigo Lopes, entre outros cujo nome desconhecia. Referiu, ainda, que pagou sempre as quotas até Abril de 1931, quando foi preso, e depois de ter saído da prisão. Em princípios de Julho ou Agosto de 1930, fora nomeado para uma comissão com o fim de organizar as Juventudes Comunistas no Porto, tendo participado em reuniões com Adalberto Pinto de Oliveira, José da Silva, que orientava os trabalhos, e o cortador de carnes Manuel da Silva. A organização não teria tido mais do que seis filiados - Adalberto Pinto de Oliveira, João Rodrigues Viegas, José Ruas Ferreira, Manuel de Oliveira e dois outros -, tendo as actividades ficado desorganizadas com a prisão de José Silva. Por fim, em princípios de Agosto de 1931, fora contactado por Manuel Viana Ribeiro para organizar a Zona 2 do Socorro Vermelho Internacional, tendo aliciado o padeiro António Braga, trabalhador na Padaria Alemã, na Rua Mártires da Liberdade, o padeiro Constantino da Costa, residente em Pinhão, e o ferroviário Maximiano Pires.
Enviado para Lisboa em 14/04/1932, por despacho do Ministro do Interior, de 22 de Junho, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, para onde seguiu em 9 de Agosto, juntamente com mais onze presos políticos, e de onde se evadiu. Pouco depois, em 04/09/1932, José Ruas Ferreira participou no "comício-relâmpago" de Alcântara, tendo Francisco de Paula de Oliveira (Pável) sido o orador e estando presentes, entre outros, Domingos dos Santos - "O Calabrez", Manuel dos Santos e Pedro Batista da Rocha. Do confronto com a polícia, resultou a morte do guarda António Trancoso e do manifestante identificado, inicialmente, como Alfredo Ruas. Alvejado e levado, sob prisão, para o Hospital de São José, aí faleceu, sendo que o inspector da PIDE Fernando Gouveia também o referencia, nas suas memórias, por José Ruas.
Também na data do seu falecimento há disparidades, já que, primeiro, anotou-se no seu Cadastro que faleceu naquele Hospital em 27 de Setembro de 1932, "em virtude de ter sido ferido, quando da manifestação comunista em Alcântara, em 4 deste mês". Depois, acrescentou-se que "foi ferido quando dos tumultos que, neste dia, tiveram lugar em Alcântara, motivados pela manifestação ali levada a efeito pelas Juventudes Comunistas, comemorando a XVIII Jornada Internacional, tendo dado entrada, sob prisão, no Hospital de S. José, por haver suspeitas do epigrafado ter sido um dos provocadores dessa desordem e ter feito uso da sua arma de fogo", constando como data do seu falecimento o dia 04/09/1932.].
01011. António Mendes [1928, 1929, 1930, 1932, 1935]
[Torres Novas, 23/12/1892, comerciante. Filiação: Emília da Conceição Mendes, Francisco Mendes. Casado. Residência: Rua Alexandre Herculano, 75 / Travessa dos Serradores, 19. Vigiado desde meados de 1928, devido às suas deslocações, movimentações e ligações com oposicionistas da zona de Santarém e Abrantes. Preso em 29/11/1928, "por estar implicado no movimento revolucionário de 20 de Julho, em Santarém"; libertado em 05/03/1929 (Processo 4130). Preso em 06/09/1929, "acusado de ter ligações políticas com elementos civis e militares"; libertado em 08/10/1929 (Processo 4398). Preso em 09/04/1930, "por ter ligações revolucionárias com Ferro Alves, Fidelino Costa e outros"; enviado para a Ilha de Santa Maria em 08/05/1930 (Processo 4559-B). Participou na Revolta das Ilhas, em Abril de 1931, tendo-se evadido de Ponta Delgada, onde estava com residência fixada. Preso em Tomar, onde se encontrava escondido, e entregue pela PSP de Santarém em 07/04/1932, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, para onde seguiu em 09/08/1932, ido do Aljube (Processo 381). Libertado em 09/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Preso e entregue pela PSP de Santarém em 29/06/1935, "por estar envolvido em manejos revolucionários" em Santarém (Processo 1647). Levado para uma esquadra; libertado em 04/07/1935 (Processo 2183).]
01012. José Proença [1927, 1932]
["O Funileiro" - "José Funileiro de S. Sebastião da Pedreira". Lisboa, c. 1903, funileiro - Lisboa. Filiação: Bebiana da Conceição, Francisco Proença. Solteiro. Residência: Rua de S. Sebastião da Pedreira, 172 - Lisboa. Preso em 08/03/1927, "por ter fugido de bordo do vapor 'Lourenço Marques'"; entregue à Polícia Militar no mesmo dia (Processo 3032). Deportado para Luanda, Angola, no mesmo ano. Preso em 09/03/1932, por ter participado no movimento revolucionário de 26/08/1931, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, para onde seguiu em 09/08/1932, ido do Aljube (Processo 317). Deixou de ter residência fixada em 09/12/1932, por estar abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro.]
[alterado em 04/04/2023]
01013. Henrique Pedro [1932]
[Mafra, c. 1898, Guarda Nº 1108 da PSP de Lisboa. Filiação: Maria da Conceição, Joaquim Pedro. Casado. Residência: Rua Palmira, 31 - Lisboa. Preso em 04/01/1932, "por estar comprometido na organização de um movimento revolucionário contra a atual situação política do País" (Processo 206); foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, para onde seguiu em 09/08/1932, ido do Aljube. Libertado em 09/12/1932, por estar abrangido pela amnistia do dia 5.]
[alterado em 04/04/2023]
01014. Herculano Alberto de Andrade [1931, 1933]
[Herculano Alberto de Andrade || F. 08/01/1940 || ANTT || RGP/75 || PT-TT-PIDE-E-010-1-75]
[Vila Nova de Foz Coa, c. 1893, Subchefe da PSP de Lisboa. Filiação: Antónia Joaquina Lopes de Andrade, António Joaquim de Andrade. Solteiro. Residência: Rua Cavaleiro de Oliveira, 33 - Lisboa. Subchefe da PSP da Esquadra de Arroios, esteve envolvido em movimentações contra a Ditadura Militar e foi preso por duas vezes: a primeira, em 23/12/1931, ficando com residência obrigatória em Peniche; a segunda, em 17/11/1933, teve como consequência a deportação para Angra do Heroísmo, de onde só regressou em Janeiro de 1940. Preso em 23/12/1931, acusado de "estar implicado em manejos revolucionárias contra o Governo da Ditadura e segurança do Estado", juntamente com os ex-tenentes Andrade, seu irmão, e João Quilhó (Processo 206). Em 09/07/1932 (Cadastro Político) ou em 09/08/1932 (OS 223/10.08.1932), seguiu do Aljube para Peniche, onde lhe foi fixada residência obrigatória por ordem do Governo, dando cumprimento à decisão tomada em 22 de Junho por parecer do Diretor Geral da Segurança Pública e anuência do Ministro do Interior, Mário Pais de Sousa. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932, saiu em liberdade em 09/12/1932. Um ano depois, em 17/11/1933, seria novamente detido pela SPS/Lisboa, acusado de estar envolvido na revolta militar preparada por Sarmento de Beires. Embora tenha declarado que "ultimamente estava afastado dos assuntos de carácter político", teria "tido bastantes reuniões com indivíduos desafetos à atual Situação Política do País", sendo "bem conhecidas desta Polícia as ligações que o epigrafado mantinha com seu irmão, ex-Tenente Andrade, conhecido e ativo conspirador" (Processo 836). Dois dias depois, em 19/11/1933, embarcou em Peniche para Angra do Heroísmo, de onde regressou em 07/01/1940, ao fim de seis anos de cativeiro, e saiu em liberdade por ter sido indultado.]
[alterado em 20/04/2024]
[João Esteves]
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