[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 7 de janeiro de 2018

[1694.] AMÂNCIO DE ALPOIM [TORESANO MORENO] [I]

* DEPORTADO PARA ANGOLA, S. TOMÉ, AÇORES E MADEIRA || 1928-1930 *

* PARTICIPAÇÃO, EM 20 DE JULHO DE 1928, NA "REVOLTA DO CASTELO" CONTRA A DITADURA MILITAR *


Advogado.

Filho de Josefa Toresano Moreno de Alpoim e de Amâncio de Alpoim de Cerqueira Borges Cabral (c. 1860 - 17/04/1912), Amâncio de Alpoim nasceu no final da década de 1880 [há referências aos anos 1888, 1889 e 1890], em Setúbal.

Matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra no ano lectivo de 1906-1907, formando-se em 1912 com excelentes notas.

Bacharel em Direito, foi jornalista, director do jornal "A Notícia", dirigente do Partido Socialista Português entre 1922 e 1928 e deputado nas legislaturas de 1918 e 1925, sendo nesta última eleito com Ramada Curto na sequência de listas negociadas com o Partido Republicano Português.

Nesta última legislatura da 1.ª República "denunciam os conluios dos líderes do PRP (mesmo de alguns ministros e deputados) com os militares conspiradores, combatem a forma iníqua e ilegal de deportação dos presos sociais, sem julgamento, para as colónias, acusam os poderes de usar dois pesos e duas medidas para julgar os crimes sociais e os crimes de colarinho branco – como o caso Angola e Metrópole -, deploram o fim do Ministério do Trabalho e fazem as suas últimas propostas, na linha programática do PSP: apresentam um projecto de universalização do voto, defendem a continuidade do monopólio dos tabacos na posse do Estado e uma reforma do Exército que diminua drasticamente o número de efectivos e as despesas públicas associadas". [Luís Farinha, "Partido Socialista Português - História de um ocaso lento durante a Ditadura Militar", Visão História, Nº 35, Maio de 2016]. 

Em 17 de Maio de 1926, uma semana antes do Golpe que pôs fim à 1.ª República e abriu caminho à Ditadura Militar, abandonou, com Ramada Curto, a "condição de parlamentar" [Luís Farinha].

Por Decreto do Ministério das Finanças de 9 de Agosto de 1926, o bacharel Amâncio de Alpoim foi demitido de Administrador da Caixa Geral de Depósitos [Decreto 12074]. 

Finda a 1.ª República, Amâncio de Alpoim passou a combater a Ditadura Militar. 

Em 4 de Junho de 1928, proferiu no Barreiro, perante numerosa assistência [1000 pessoas], uma conferência sobre política operária e, no mês seguinte, em 20 de Julho, participou na "Revolta do Castelo", "tendo chefiado o grupo que desarmou a GNR de Aldegalega e Alcochete e assaltou o campo de tiro de Alcochete" [Processo 3870].

Com residência na Rua Nova do Almada, 59-2.º, foi preso em 22 de Julho de 1928 e deportado para Angola em 21 de Agosto.

Aí permaneceu poucos meses, como relatou em carta ao amigo Ramada Curto, datada de 12 de Dezembro, dizendo encontrar-se então em S. Tomé, a seu pedido, depois de o terem "passeado" por toda a costa angolana (Benguela, Luanda, Lobito, Novo Redondo, Porto Amboim, Foz do Dande, Catete...). Esta extensa carta de oito páginas, apreendida pela Polícia Política, não deixa de ser um relato impressionante do que era, então, a exploração económica de Angola e a situação degradante em que viviam os africanos [ANTT, Cadastro Político 1780].

Seguiu para os Açores em 29 de Dezembro de 1929 e, por fim, para a Madeira, onde foi autorizado a partir para o Rio de Janeiro, embarcando, em 15 de Abril de 1930, no vapor "Andalucia-Star" [ANTT, Cadastro Político 1780].

Instalou-se, na década de 30, em Lourenço Marques, onde exerceu a advocacia. 

Por se encontrar em Berlim em tratamento médico, assistiu, em 10 de Maio de 1933, com Paulo Quintela, seu colega de Coimbra, à queima de livros perpetrada pelos nazis em várias cidades alemães [Cristóvão de Aguiar, Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia, 2005].

Novamente preso em 16/02/1937, levado para o Aljube e libertado em 23/11/1937 (Processo 224/37) [ANTT, RGP/6124].

Faleceu em Lisboa, em 19 de Julho de 1948 [A. H. de Oliveira Marques (coordenador), Parlamentares e Ministros da 1ª República, Afrontamento, 2000].
  
João Esteves

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