* ANÍBAL DA SILVA BIZARRO || DEPORTADO PARA O TARRAFAL *
Membro do Partido Comunista, Aníbal da Silva Bizarro desenvolveu intensa actividade política em meados da década de 1930, com responsabilidades no Comité de Zona N.º 1 de Lisboa, intervenção em várias células e colaboração em tipografias clandestinas.
Preso em Abril de 1937 e enviado para o Aljube, foi deportado para o Tarrafal, sem julgamento, aí permanecendo mais de 7 anos.
[CLNSRF, V. II || RGP 6473]
Filho de Gertrudes Fortunato de Sousa e de Luís da Silva Bizarro, Aníbal da Silva Bizarro nasceu em Lisboa, em 21 de Fevereiro de 1908.
Pintor, a sua militância comunista foi detectada pela PVDE em Dezembro de 1935 através de declarações de Carlos Hermano de Oliveira. Segundo este, Aníbal Bizarro, sob o pseudónimo "Russo", controlara a célula do "Diário de Notícias", composta por Carlos Hermano de Oliveira (Secretário Político), Armando Afonso Marques (Secretário Sindical), Mário Arrieta (Secretário do Socorro Vermelho Internacional), Carlos Alves [Carlos Orlando Toucedo Alves] (Secretário de Agitação e Propaganda) e Fernando Jesus dos Santos (Secretário de Organização), mantendo, também, contacto com a organização do SVI de "O Século".
Por sua vez, Joaquim Lopes Mendes, em declarações datadas de 7 de Abril de 1936, identificou Aníbal Bizarro como integrando uma célula do Comité de Zona N.º 1, onde era o Secretário Político com o pseudónimo "Victor". Aquela seria composta pelo barbeiro Alfredo (pseudónimo "Max", Agitação e Propaganda), Joaquim Roque (cargo Sindical) e um outro elemento com o pseudónimo "Estrela" (cargo Solidariedade).
Três meses depois, em 7 de Julho de 1936, Silvino Silvério Avelino confirmou a intensa actividade política de Aníbal Bizarro no Comité de Zona N.º 1, sendo da sua responsabilidade a organização, em Pataias, de uma célula comunista entre os vidreiros, com a colaboração daquele e de Jorge de Sousa Pinto.
Mediante a sua actividade, também se constituiu, em Agosto de 1935, a Célula N.º 11 da Zona N.º 1, tendo, posteriormente, sido substituído na sua direcção por outro pintor cujo pseudónimo era "Arménio Miúdo".
Segundo o mesmo depoimento, foi por indicação de Aníbal Bizarro que o marceneiro Álvaro de Morais integrou o Comité Regional de Lisboa enquanto controleiro do Comité de Zona N.º 1. Álvaro de Morais seria entretanto preso pela segunda vez e deportado para Angra do Heroísmo.
Aníbal Bizarro desdobrava-se em ligações, mantendo contactos com os espanhóis Manuel de Jesus Boulhosa Ventin, criado de mesa, e António Fernandez, criado de hotel em Cascais e com responsabilidades políticas naquela zona (Cascais e Estoril). Fausto Gomes, empregado de copa do Casino Estoril, completava aquele núcleo.
Aníbal Bizarro controlava, também, a célula do Partido Comunista que funcionava no restaurante Leão de Ouro, integrada pelos criados José Marmelo, Marcelino Garrido Alvan e Amador Fernandez, estes últimos espanhóis.
A sua actividade estendeu-se às tipografias clandestinas, onde terá colaborado com Luísa Chagas da Costa [Irene Pimentel, Biografia de um Inspector da Pide - Fernando Gouveia e o Partido Comunista Português, A Esfera dos Livros, 2008].
A sua actividade estendeu-se às tipografias clandestinas, onde terá colaborado com Luísa Chagas da Costa [Irene Pimentel, Biografia de um Inspector da Pide - Fernando Gouveia e o Partido Comunista Português, A Esfera dos Livros, 2008].
Preso pela PSP em 11 de Abril de 1937, foi transferido para o Aljube em 15 de Maio e embarcou para o Tarrafal em 5 de Junho, de onde só regressou em 1 de Outubro de 1944 e enviado para Caxias.
Não por acaso, de todos os nomes anteriormente referidos foi o único a ser enviado para o Campo de Concentração, onde passou mais de sete anos sem ter sido submetido a qualquer julgamento. Este só aconteceu em 1 de Outubro de 1944, tendo o TME condenado Aníbal Bizarro a 23 meses de prisão, depois de já ter estado sujeito a 7 anos e 205 dias de "prisão preventiva".
Libertado em 8 de Novembro de 1944, Aníbal da Silva Bizarro ter-se-á mantido fiel aos seus ideais já que foi por seu intermédio que, quando trabalhava na empresa Philips, Mário da Costa Carvalho Gonçalves de Morais e Castro e Maria Cesarina Martins Tavares Gonçalves de Castro terão entrado para o Partido Comunista. A casa deste casal, situada em Campo de Ourique, passou a funcionar como local de apoio do Comité Central e Álvaro Cunhal, aquando da fuga de Peniche, chegou a estar aí refugiado cerca de um mês com Isaura Moreira e a filha de ambos, de escassos meses.
Fontes: ANTT, Cadastro Político 6209; RGP 6473.
[João Esteves]
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